A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por meio do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ)/Faculdade de Direito do Recife (FDR), realizou, na tarde de segunda-feira (dia 24), o evento “80 anos - Demócrito e a luta pela Democracia em 1945”. A solenidade ocorreu no Espaço Memória da FDR e prestou homenagem ao estudante de Direito Demócrito de Souza Filho, líder estudantil assassinado durante o período de repressão política no Brasil. A cerimônia contou com discursos, leitura de textos e exposições documentais que reforçaram a importância da história dele para a democracia brasileira.
A programação teve início com a aposição de uma placa pelo Diretório Acadêmico (DA) de Direito no busto de Demócrito, localizado no jardim da FDR. O momento foi conduzido pela presidente do DA, Mikely Tawane Venceslau Lima. Na sequência, foi inaugurada exposição documental no salão de entrada da Faculdade sob a curadoria de Luciana Grassano e Karine Vilela.
À noite, a mesa de honra da solenidade foi composta pelo reitor da UFPE, Alfredo Gomes; pela presidenta da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas (APLJ), Rosana Grinberg; e pela vice-diretora do CCJ/FDR, professora Antonella Galindo (representando o diretor do CCJ/FDR, professor Torquato de Castro Júnior). A abertura foi feita por Rosana Grinberg.
O evento contou com a execução do Hino de Pernambuco, interpretado pelo violinista Max Antônio Dutra Galvão, conhecido como “Menino do Violino”.
Durante a cerimônia, foi realizada a saudação do historiador George Cabral, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) e professor do Departamento de História da UFPE, que explicou qual era o contexto histórica da época e como se deu o assassinato do estudante Demócrito, baleado pela polícia política quando estava na sacada do antigo prédio do Diario de Pernambuco, ao lado de Paulo Freyre, durante manifestação contra a repressão militar. Houve julgamentos, mas não houve condenações pela morte do estudante. Em seguida, foram realizados pronunciamentos de Emerson José Queiroz Barbosa da Silva, primeiro coordenador de Memória e Cultura do Diretório Acadêmico, do ex-aluno Sérgio Longman e da secretária executiva de Direitos Humanos da SJDHPE, Gláucia Kamila Andrade Ribeiro da Silva.
A solenidade também incluiu a leitura de trechos do poema "Demócrito de Souza Filho: palavra, sangue e cimento", de autoria de Audálio Alves, pela professora Luciana Grassano, além da leitura da "Carta da Mãe", escrita em 1945 por Maria Cristina Tasso de Souza (mãe de Demócrito), realizada por Marta Maria de Brito Alves Freire, diretora cultural da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas (e prima de Demócrito).
A vice-diretora do CCJ/FDR, professora Antonella Galindo, lembrou o quanto a cultura democrática precisa ser defendida para que haja, inclusive, respeito às divergências. “A gente precisa promover a cultura democrática e fazer tudo o que está a nosso alcance, pois é a partir dela que nós consolidamos, inclusive, o respeito ao outro, o respeito à divergência, a condição, de fato, de termos uma liberdade de debate e de ideias, porque é na democracia que nós temos adversários e não inimigos. Nas ditaduras, nos regimes autoritários, nós temos inimigos. Inimigos se destroem, como numa guerra. Adversários se combatem com as armas das regras do jogo. E num jogo, qualquer que seja o esporte, precisa ter adversários, mas não pode ter inimigos. Não é sobre julgar, é vencer dentro das regras do jogo. E essa casa é uma casa de defesa dessas regras do jogo. Nesse sentido, nosso papel, enquanto Faculdade do Recife e enquanto Universidade Federal de Pernambuco, é fazer desse pouco que nos cabe, tentar fazer disso muito, tentar fazer pela educação, como o nosso patrono Paulo Freire diz, que ‘a educação, não transforma o mundo, ela transforma as pessoas, e são as pessoas que transformam o mundo’’, finalizou.
Também participaram autoridades acadêmicas e jurídicas, como Bianca Teixeira, procuradora-geral do Estado de Pernambuco; Wellington Saraiva, procurador regional do Ministério Público Federal; Hélder Lima, promotor de Justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Vários familiares de Demócrito de Souza Filho estavam presentes.
O encerramento foi realizado pelo reitor da UFPE, Alfredo Gomes, que enfatizou o quanto as universidades são necessárias para a produção do conhecimento científico e formação de gerações futuras. “As universidades precisam de ambientes sociais que são fundamentais para que elas possam exercer suas funções sociais e a produção do conhecimento, a formação das gerações futuras, de um ponto de vista profissional, mas também de um ponto de vista da pesquisa e da cidadania. As universidades não sobrevivem em regimes totalitários. Sua dimensão ontológica constitutiva demanda o espaço de liberdade, o espaço democrático para sua existência. Estamos aqui rendendo homenagem a Demócrito. É importante ressaltar que ele lutou por esses valores, sobretudo, os da liberdade e da democracia. Precisamos perseverar nessa luta, sermos resilientes e persistentes para continuar honrando seu legado e fazer com que a universidade, a sociedade brasileira, possa caminhar nesse sentido”, destacou o reitor Alfredo Gomes.
*Foto da arte: Lucas Emanuel