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Grupo de estudantes encontra nova espécie de cobra d’água no Pantanal brasileiro
Os pesquisadores encontraram um único espécime da cobra na região, mas não a consideram como exclusiva do local
Por Larissa Valentim
A mais nova espécie de cobra d’água reconhecida cientificamente habita o Poconé (Pantanal brasileiro) no Mato Grosso, apresenta escamas nasais inteiras, focinho, ou seja, com ponta aguda, padrão de linha dorsal, com marcação alaranjada no ventre e, aparentemente, apresenta hábitos diurnos - já que foi encontrada no horário da tarde. Seu nome é Helicops boitata e sua descoberta foi divulgada num artigo publicado em agosto deste ano. O trabalho é resultado de pesquisa de Antonio Moraes, mestre pelo PPGZOO da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFPE, com a colaboração de pesquisadores da UFPE, USP e MNRJ.
O espécime encontrado é um macho adulto, de aproximadamente 6,4 cm, que apresenta abordagem taxonômica mais abrangente do Helicops até o momento. Além disso, a abordagem filogenética - relação entre os grupos de organismos - é também a mais completa em termos de diversidade. Ou seja, apesar da comparação com as 211 espécimes de Helicops e os dados “não permitiram associações objetivas com qualquer nome específico válido”, como afirma a pesquisa, os dados morfológicos compreendem evidências inequívocas que sustentam uma nova suposição de espécie; e os resultados da abordagem filogenética corroboram com as evidências morfológicas.
Para reconhecer a H. boitata como nova espécie, os pesquisadores analisaram a cobra por Comparação; Descrição do holótipo; Coloração em conservantes; Coloração na vida; Morfologia hemipenial; História natural e Habitat. “Todos os pontos considerados, embora nosso único espécime impeça considerações sobre a variabilidade característica, nossos dados morfológicos e moleculares permitem o reconhecimento de uma linhagem independente e espécies de Helicops diagnosticáveis . Portanto, com base em tais evidências combinadas, descrevemos esta espécie como nova no seção seguinte”, afirma o autor.
O nome específico dado a cobra d’água é um substantivo em aposição derivado do português brasileiro “boitatá”, como referência à lenda popular de uma serpente gigante do fogo que habita os rios brasileiros e protege as florestas contra incêndio causado pelo homem. A palavra tem suas origens na língua nativa Tupi ('Mboi = cobra; tatá = fogo). Serve também como uma alusão à tonalidade alaranjada vívida do padrão ventral, assemelhando-se à cor das chamas.
DISCUSSÃO | Os autores pontuam que por mais que a área onde o animal foi descoberto seja uma herpetofauna - ou seja, um local onde habitam répteis e anfíbios - relativamente bem conhecida, há algumas hipóteses para a H. boitata localizar-se naquela região. São elas: o réptil ser um aberrante indivíduo de uma espécie já conhecida; uma amostra híbrida combinando características de mosaico de ambas as espécies parentais; uma extensão da extensão de uma espécie previamente conhecida regiões distantes da área de coleta; ou o espécime pode representar o primeiro registro de uma nova espécie. “A última suposição obviamente se beneficiaria da coleta de indivíduos adicionais permitindo comparações, descrições de variações e um diagnóstico mais preciso, mas que muitas vezes não é o caso. No entanto, nossos dados incluem argumentos suficientes para apoiar a suposição (iv), levando à nossa decisão de reconhecer uma nova espécie baseada em uma única espécime”, afirma o artigo.
A raridade no Pantanal de algumas espécies aquáticas que são bastante comuns na Amazônia ainda é pouco explicado. Analisando as evidências, pode-se envolver preferências ecológicas que impedem a dispersão e a colonização dos ambientes das terras baixas do Pantanal. O trabalho pontua que “tal padrão também poderia explicar o registro fortuito de um único indivíduo de H. boitata em Poconé, enquanto as populações originais poderia ocorrer em áreas vizinhas do cerrado e/ou floresta amazônica”. Apesar das poucas evidências que permitam uma decisão final sobre seu possível status endêmico, ou seja, a espécie ser exclusiva do local, Helicops boitata reforça a necessidade de mais pesquisas e esforços de inventário no Pantanal, bem como em outros supostos áreas amostradas, finaliza o artigo.
Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFPE
ppgba.ufpe@gmail.com
Antônio Moraes
m1antonyo@gmail.com