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Renovação do saber
Publicado no Jornal do Commercio em 18 de outubro de 2021
Mozart Neves Ramos*
As políticas públicas, e não só no campo da educação, vão precisar cada vez mais basear-se em evidências e no uso de dados confiáveis para a tomada de decisões. Os "achismos" não podem mais fazer parte da agenda das boas práticas. No caso da educação, isso vai ser imperativo para o adequado enfrentamento das questões relativas à aprendizagem escolar e à desigualdade educacional, ambas fortemente afetadas pela pandemia. Mas não só por isso. É preciso que o sistema educacional seja mais eficiente.
O Brasil tem, ao longo dos anos, ampliado os investimentos em educação. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2007 a estimativa do investimento público direto em educação por estudante, em termos de valores nominais, era de R$ 2.165,00 por aluno/ano na Educação Básica; em 2017, dez anos depois, esse valor passou para R$ 6.823,00. Se considerarmos, por exemplo, apenas a última etapa desse nível de ensino, ou seja, o ensino médio, esses valores são, respectivamente, de R$ 1.733,00 e R$ 7.496,00. Mas os resultados não chegaram na mesma proporção. Ao contrário, no ensino médio o país está literalmente estagnado em termos de aprendizagem escolar, e num patamar muito baixo. Por exemplo, em matemática, apenas 10 de cada 100 alunos aprenderam o que seria esperado ao final do 3º ano do ensino médio. E essa proporção se mantém desde 1999.
É sabido que vamos precisar investir ainda mais em Educação, se quisermos chegar aos valores praticados pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), porém com mais eficiência. É nesse contexto que o uso de dados e a tomada de decisões com base em evidências passam a ser estratégicos para tornar a gestão mais eficiente. Foi pensando assim que a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados da USP - Ribeirão Preto, em parceria com a empresa Learning Data Analytics, lança no dia de hoje, em que publicamos este artigo, o Portal Atlas da Educação para os municípios de médio porte. Posteriormente, esse esforço será ampliado para os demais municípios brasileiros.
O lançamento ocorrerá no evento intitulado A Importância do Uso de Dados e Evidências na Qualidade da Educação, que contará com grandes nomes da educação brasileira, como os ex-ministros da Educação Cristovam Buarque e Henrique Paim, que debaterão sobre o tema "Como o Brasil pode aprender com o Brasil". Mas teremos também Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Vitor de Ângelo, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), e Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) - entidades estratégicas para a melhora da qualidade da Educação Básica.
A política educacional brasileira precisa preparar cada vez mais gestores com boa formação técnica; para isso, é importante que eles tenham acesso a uma base de dados confiável. A qualidade da educação passa pelo acesso, pela permanência, pelo aprendizado e pela conclusão dos estudantes na idade correta. Esse é o primeiro passo para assegurar um futuro promissor aos nossos jovens, seja no que se refere ao exercício da cidadania, seja no que tange ao acesso ao mundo do trabalho.
Professor emérito da UFPE e titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP - Ribeirão Preto