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Uso de transporte por aplicativo entre universitários foi superior ao transporte público na pandemia de covid-19, afirma pesquisa
Fatores socioeconômicos interferiram na escolha dos estudantes pela modalidade de transporte
Por Raul Holanda
A utilização do transporte coletivo e por aplicativo entre universitários, antes e durante a pandemia de covid-19, varia de acordo com fatores socioeconômicos, como renda e escolaridade (graduação e pós-graduação). Nove em cada dez estudantes que não faziam uso do transporte por aplicativo, no Recife (PE), antes da pandemia, passaram a utilizá-lo. Essas são as principais conclusões da dissertação de mestrado “Transporte por aplicativo e transporte público dos estudantes universitários do Recife antes e depois da pandemia da covid-19”, de autoria de Sérgio Roberto Leal, sob a orientação do professor Maurício Oliveira. Desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da UFPE, o estudo foi publicado em 2022.
A pesquisa observou mudanças na forma e na finalidade de uso das duas modalidades de transporte, de 2019 a 2021, buscando entender os principais fatores que influenciaram os estudantes universitários nesta escolha. Idealizada antes das medidas de distanciamento social ocasionadas pela pandemia da covid-19, período que trouxe mudanças drásticas na forma como a população passou a se locomover no perímetro urbano, a pesquisa foi adaptada e passou a analisar o comportamento dos usuários dentro da realidade pandêmica. “O período inicial da pesquisa coincidiu com o surgimento da pandemia da covid-19, que causou enorme redução na demanda dos transportes em geral, então, seria possível observar quais impactos que o distanciamento social iria causar nessa relação entre os transportes públicos e o transporte por aplicativo”, enfatizou Leal, que atualmente é doutorando em Engenharia Civil pela UFPE.
O estudo evidenciou uma tendência já explícita durante a pandemia. Com o distanciamento social, o uso das duas opções de transporte sofreu uma ampla redução, mas em menor intensidade no caso do por aplicativo. Também foi observado que, no período anterior à pandemia, os universitários costumavam utilizar ônibus, metrô, Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e o modal Bus Rapid Transit (BRT) para ir ao local de estudo. Com a flexibilização das medidas de distanciamento social, passaram a utilizar principalmente para ir ao trabalho. Antes da pandemia, o transporte por aplicativo era massivamente utilizado para fins de lazer, enquanto depois da pandemia os estudantes passaram a utilizar para outras finalidades.
No quesito socioeconômico, os resultados mostraram que os universitários que possuem veículo próprio na residência têm menor probabilidade de usar tanto o transporte público quanto o transporte por aplicativo. Ao mesmo tempo, a parcela de estudantes que tem maior escolaridade (a pesquisa levou em conta graduandos e pós-graduandos), tem CNH e maior renda apresentou menos chance de utilizar o transporte público. Para os estudantes, caso o transporte público estivesse fora de funcionamento (como em caso de greves de rodoviários, por exemplo), o substituto seria o transporte por aplicativo. Caso Uber, 99 e outros aplicativos estivessem indisponíveis, eles iriam se deslocar principalmente por ônibus, metrôs ou BRTs.
“Isso levou à percepção de uma concorrência entre os modos de transporte. Além disso, uma parcela dos estudantes usuários de transporte por aplicativo indicou que o carro não os deixa no destino, então, eles complementam a viagem com o transporte público, o que mostra um efeito de complementaridade entre os transportes em questão”, explicou o pesquisador.
Para a obtenção de dados concretos, a pesquisa lançou um formulário totalmente on-line voltado a estudantes de graduação e pós-graduação. Foram coletadas informações sociais, econômicas e geográficas de cada universitário, bem como dados referentes aos costumes de uso do transporte público e por aplicativo. As perguntas também focaram, para tornar a comparação possível, no espaço temporal: antes e depois da pandemia. O questionário poderia ser respondido por estudantes que estivessem cursando nível superior desde, pelo menos, 2019 (antes da pandemia). A pesquisa obteve 404 entrevistados.
As metodologias utilizadas pelo pesquisador para reunir as informações obtidas foram o modelo matemático de Regressão Logística e a amostragem “Snowball”. De acordo com Leal, o modelo de regressão é comum na área de transportes, por exemplo, por buscar as razões sociais, econômicas e até geográficas que impactam na quantidade de usuários em determinado modo de transporte. Já o “Snowball” (ou “bola de neve”, em tradução livre) consiste em um tipo de amostra na qual um seleto grupo inicial recebe o questionário e é convidado a compartilhá-lo para outras pessoas que estejam habilitadas a participar.
O pesquisador ainda disse que os resultados mostraram a necessidade de conhecer o perfil do usuário de cada sistema de transporte no Brasil e no mundo. Finalizou afirmando que, levando em consideração que o transporte público é um modo mais sustentável do que o transporte por aplicativo, é necessário prever políticas públicas que evitem a contínua perda de usuários do sistema público. A falta dessas ferramentas de planejamento leva aos problemas de mobilidade existentes hoje nas grandes cidades.
Assista ao vídeo da entrevista com o pesquisador Sérgio Roberto Leal.
Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE
(81) 2126.8977
ppgec.secretaria@ufpe.br
Sérgio Roberto Leal
sergio.lealsouza@ufpe.br