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Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pela covid-19 ocasiona aumento do nível de proteínas no sangue

Pesquisa encontrou considerável ligação entre a evolução da doença ao óbito e a quantidade de citocinas no plasma sanguíneo

Por Luíza Cabral Saraiva

Há uma relação significativa entre as elevadas taxas de citocina no plasma sanguíneo com a gravidade da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ocasionada pela infecção por covid-19. É o que aponta a dissertação de mestrado “Associação entre Resposta Th1 e Th2 e a Gravidade da Síndrome Respiratória Aguda Grave por SARS-CoV-2”, desenvolvida por Jamaica Gina Eloi de Souza Guimarães. A pesquisa foi defendida, este ano, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Translacional (PPGST) do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A dissertação teve como objetivo associar as respostas Th1 e Th2 por meio da gravidade da SRAG ocasionada pela infecção por SARS-CoV-2. As respostas Th1 e Th2 são as respostas imunológicas responsáveis pela liberação das citocinas – proteínas liberadas pelas células durante uma resposta imunológica – encontradas em abundância e pela chamada “tempestade de citocinas”, atribuída a uma das principais causas para um quadro de maior gravidade da SRAG. Conforme o estudo, que contou com a orientação do professor Paulo Sérgio Ramos de Araújo, o nível elevado de citocinas no sangue possui uma relação significativa com a gravidade da SRAG, a qual tem direta correlação com a utilização de ventilação mecânica, o tempo de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, até mesmo, o óbito. 

A tempestade de citocinas ocorre quando há uma resposta anormal do sistema imunológico. “Reações imunológicas extremas e descontroladas podem desencadear deficiência imunológica no corpo humano. No caso dos pacientes acometidos por SARS-CoV-2, essa resposta pró-inflamatória extrema representa a patogênese da covid-19, causando impacto destrutivo para o hospedeiro”, afirma Jamaica. A pesquisadora também ressalta que “a produção exagerada das citocinas leva à hiperatividade dos macrófagos, com consequências para todo o corpo, incluindo febre, anemia e mau funcionamento dos órgãos. Em algum momento, a tempestade de citocinas se torna imparável, levando à disfunção irreversível do órgão-alvo e até mesmo à morte”.

“Citocinas são proteínas que têm a função de sinalização, mediando funções celulares. As citocinas são secretadas por um tipo de célula imunológica que estimula um outro tipo de célula. Essas substâncias servem para dar condições ao organismo de reagir contra agentes agressores, combatendo a infecção”, explica a autora. Mas não foram quaisquer citocinas encontradas em maior quantidade. Estiveram em alta, especificamente, as citocinas denominadas de IFN-Y (Interferon-y), IL-6 (Interleucina 6) e IL-10 (Interleucina 10). A IL-6 é responsável pela resposta pró-inflamatória, enquanto a IL-10 é responsável pela anti-inflamatória. As citocinas se apresentaram elevadas no momento da admissão na UTI, e os níveis plasmáticos das citocinas IL-10 e IL-6 permaneceram elevados sete dias após a primeira coleta, com associação significativa ao desfecho do óbito.

Parte do trabalho foi realizado a partir de um estudo clínico que contou com a participação de 167 indivíduos internados na UTI do Hospital das Clínicas (HC) da UFPE, independentemente do histórico de saúde anterior. Foram selecionados por conveniência indivíduos maiores de 18 anos, diagnosticados com infecção pelo vírus SARS-CoV-2 e com diagnóstico clínico de SRAG decorrente da covid-19. A pesquisa foi realizada de abril de 2020 a junho de 2021.

O estudo clínico foi dividido em dois momentos: a internação inicial em UTI; e sete dias após a internação. Em ambos os momentos, foram coletadas amostras de sangue a fim de realizar a dosagem de citocinas no sangue. Posteriormente, foram catalogados, por meio de consulta aos registros de prontuários dos pacientes, os tempos de ventilação mecânica, de internação em UTI, internação hospitalar, o índice PaO2/FiO2 (oxigenação do sangue) e o desfecho da internação.

Outro aspecto trabalhado na pesquisa foi a correlação entre o tempo de internação e a sua ligação com o uso de Ventilação Mecânica (VM) e a eventual alta ou óbito. “Os pacientes [que] morreram em até 30 dias apresentaram mediana de oito dias de internação hospitalar, enquanto aqueles que permaneceram vivos, neste período, apresentaram uma mediana de 18 dias de internação hospitalar […], entretanto, 50% daqueles submetidos à VM, por ao menos sete dias, evoluíram para a morte em até 30 dias”, afirma Jamaica. Além disso, foi notado que os pacientes que passaram mais tempo internados apresentaram maiores índices de alta hospitalar, já que casos mais graves tendem a ser mais agressivos e evoluem mais rapidamente à necessidade de ventilação mecânica.

IMPORTÂNCIA – Não é segredo que o envelhecimento e a presença de comorbidades, como obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, câncer e hipertensão, aumentam a probabilidade de ocorrer uma infecção de maior magnitude. “Entender o papel das citocinas na indução de infecção e inflamação em pacientes com covid-19 pode revelar estratégias de controle e tratamento eficazes, considerando o mecanismo imunológico envolvido”, explica Jamaica.
 
Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Saúde Translacional da UFPE
(81) 2126.8517

secretaria.ppgst@ufpe.br

Jamaica Gina Eloi de Souza Guimarães
jamaicasouza@hotmail.com

Data da última modificação: 06/11/2023, 10:13