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HC utiliza terapia assistida por cães em tratamento de crianças autistas

Os benefícios da cinoterapia no tratamento de crianças diagnosticadas com TEA estão sendo estudados como parte de uma pesquisa de mestrado

Os benefícios da cinoterapia – ou terapia assistida por cães – no tratamento de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão sendo pesquisados por meio de um projeto de intervenção que vem sendo desenvolvido, no Hospital das Clínicas da UFPE, pela profissional de enfermagem do HC Andréa Patrícia. O estudo faz parte da dissertação da pós-graduanda em andamento no Programa de Mestrado Profissional em Saúde Única da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A terapia que utiliza a interação com cães treinados é realizada com seis crianças assistidas por especialidades do HC, uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O processo de intervenção tem duração de oito a dez sessões e está acontecendo às terças-feiras.

O TEA é uma condição complexa que afeta o desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação das crianças. Embora existam várias abordagens de tratamento, a cinoterapia envolve a interação supervisionada entre crianças autistas e cães especialmente treinados e tem ganhado destaque devido a relatos de melhoras significativas de crianças em terapia.

“Em apenas três sessões, os pais já relatam resultados positivos. Na terapia, as crianças chegam, sentam-se em círculos com a cadela golden retriever Mina, de seis anos, e iniciam o processo de terapia. Nesse momento, são trabalhados os aspectos cognitivos, sensoriais, linguísticos, de comunicação e sociais. As crianças não tinham interação em pares anteriormente, com outros coleguinhas, mas hoje já interagem em um grupo de seis”, explica a pesquisadora Andréa Souza.

A mestranda ressalta ainda que, ao finalizar a terapia, há uma orientação para os pais relacionada ao processo diário e às rotinas em casa, especialmente em relação às crianças e à maneira como devem agir em determinadas situações rotineiras.

O casal Liz Matos e Bruno Farias treina a cadela Mina e atua de forma voluntária no projeto. Eles são terapeutas e têm uma clínica multiprofissional dedicada a esse tipo de terapia. A conexão deles com o HC tem raízes profundas tanto devido à instituição ter desempenhado papel importante em suas formações acadêmicas, quanto ao fato de que o nascimento dos seus filhos gêmeos ocorreu no hospital, referência em gravidez e parto de alto risco. “A gente gosta dessa causa, dessa casa [o HC], o projeto é fantástico e trabalhamos com crianças dentro do espectro autista há muito tempo. Então, vimos que tinha tudo para contribuir, e é por isso que viemos”, explicou o terapeuta holístico Bruno Farias, que tem habilitação em psicoterapia, acupuntura e zooterapia.

Além de Mina, outra golden a participar do projeto foi Nina, de quatro anos. De acordo com a terapeuta ocupacional e zooterapeuta Liz, “é essencial que todos os animais sejam equilibrados e não apresentem reatividade ou hipoatividade, garantindo, assim, uma interação ideal com as crianças.”

Para a seleção, eles passam por um minucioso processo de avaliação, em que ficam na casa do casal por um período, interagindo com seus próprios filhos, para que seja possível entender melhor o comportamento do animal.

Jaqueline Bernardo, moradora do Ibura, na Zona Sul do Recife, é mãe de um menino de quatro anos que participa das sessões de terapia no HC. Ela conta que a criança costumava se isolar bastante no passado, mas hoje demonstra uma notável melhora em sua capacidade de interagir com outras crianças. Ainda de acordo com a mãe, ele perdeu o medo de animais e teve melhoras significativas no comportamento, por isso ela tem se dedicado incansavelmente a proporcionar todas as oportunidades que possam contribuir com o desenvolvimento do filho.

“Agora, todo cachorro que Gabriel vê na rua, ele quer mexer. A terapia tem sido muito positiva para ele. A gente sai cedo e vai para a fonoaudióloga primeiro, para não perder a terapia, porque fez diferença na vida de Biel. Hoje, ele está uma criança mais tranquila, mais concentrada. Ele não ficava assim quietinho. Biel ficava correndo, gritando e chorando. Ele era conhecido aqui como Gabriel Chorão, e hoje está bem melhor. Graças às terapias, que fazem toda a diferença na vida dele”, contou Jaqueline.

A enfermeira Andréa Patrícia ainda explicou que, ao término do mestrado, a evolução das crianças será avaliada por meio da Lista de Avaliação de Tratamentos do Autismo (Atec), uma das ferramentas mais utilizadas em pesquisas que envolvam o autismo. Essa ferramenta engloba diversos aspectos que os pais preenchem ao iniciar cada sessão de terapia e no término da última. Isso permitirá que ela estabeleça uma comparação entre os resultados e atribua uma pontuação, a qual servirá como indicativo da eficácia da terapia. Entretanto, algumas melhorias significativas já foram observadas até o momento.

“Há uma melhoria na comunicação dessas crianças que, geralmente, enfrentam dificuldades para interagir. Percebemos que, nesse grupo de seis crianças, conseguimos interagir com todos, embora haja momentos em que alguns estão mais isolados. Então, há uma maior interação social e uma comunicação mais eficaz entre eles, com a equipe e até mesmo com a família. Essa melhora não é evidente apenas aqui, mas também em casa e no cotidiano. Isso contribui significativamente para a qualidade de vida dessas crianças”, acrescentou a enfermeira.

Data da última modificação: 29/09/2023, 14:35