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Estudo do HC avalia resultado e satisfação de retirada do pomo-de-adão em mulheres transexuais

No HC, essa cirurgia é realizada desde 2016, fazendo parte do processo transexualizador

Um estudo inédito no Brasil intitulado "Condrolaringoplastia em mulheres transexuais: análise prospectiva da voz e satisfação estética”, elaborado pelos pesquisadores do Hospital das Clínicas da UFPE Mateus Aires, Daniela de Vasconcelos e Bruno Teixeira de Moraes, foi publicado no International Journal of Transgender Health em dezembro passado. O principal objetivo da pesquisa foi avaliar e comparar os resultados acústicos e perceptivos da voz e a satisfação estética das mulheres transexuais submetidas à condrolaringoplastia (retirada do pomo-de-adão). O HC é uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

A condrolaringoplastia é o procedimento realizado para diminuir a proeminência da cartilagem tireoide, marcador biológico importante para identificação do sexo masculino. No HC, essa cirurgia é realizada desde 2016, fazendo parte do processo transexualizador. Nessa mesma área, o hospital também realiza a glotoplastia que é a cirurgia para a feminização da voz nas mulheres trans. Esses dois procedimentos apresentam baixo risco e boa parte das pacientes ficam satisfeitas com o resultado.

A pesquisa foi o tema do trabalho de conclusão do residente do Programa de Residência Médica em Otorrinolaringologia Mateus Aires, e, de acordo com ele, a temática foi escolhida pelo fato de esses procedimentos serem realizados por otorrinos, mas poucos residentes da especialidade têm contato com pacientes transexuais. “Existe uma estatística nos Estados Unidos que mostra que menos de um terço dos residentes de Otorrinolaringologia teve contato com pessoas trans. No Brasil, certamente, esse número não é maior. Então, levando em consideração essa questão e também o fato de a população trans ser estigmatizada na nossa sociedade, pensei nesse tema para usar da nossa posição social de médico para cientificar a população trans, quebrar barreiras e romper preconceitos tanto dentro da população médica quanto da sociedade”, explica.

Mateus Aires informa que foram operadas 17 mulheres trans e uma das conclusões observadas no estudo é que essa cirurgia é segura. “Desde que sejam seguidos os pontos anatômicos que a gente descreveu. Esse procedimento também leva a um alto grau de satisfação estética das pacientes. Também é importante destacar que essas pacientes tiveram uma boa cicatrização”, afirma.

O pomo-de-adão é considerado uma característica estigmatizante do sexo masculino, ou seja, quando as pessoas o observam, remetem de imediato ao gênero masculino e, para as mulheres trans, esse é um obstáculo para a aceitação.

Para o orientador da pesquisa e chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do HC, Bruno Moraes, esse tipo de procedimento é importante, pois essas pacientes se identificam com o gênero feminino, mas possuem características físicas compatíveis com o gênero masculino, o que pode gerar um conflito psicológico. “Buscamos ajudar dessa forma a modificar características físicas e contribuir para uma melhor percepção de sua identidade, para que ela possa ficar mais confortável com o seu corpo, com sua voz. Isso traz um ganho bastante significativo. Apesar de envolver uma questão estética, também mexe com o psicológico dessas pacientes e nós temos tido um retorno bastante positivo desse trabalho. Elas têm ficado muito satisfeitas com o resultado", completa.

Os requisitos para as mulheres trans passarem pela condrolaringoplastia e glotoplastia consistem em ter dois anos de acompanhamento por uma equipe multidisciplinar e ter a indicação de um especialista para realizar os procedimentos. No HC, esse acompanhamento é realizado em conjunto com o Espaço Trans.

Data da última modificação: 11/01/2021, 17:43