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Cientistas contrapõem hipótese de que óleo que atingiu praias nordestinas tenha vindo do Golfo da Guiné

Hipótese sobre o derramamento de óleo, acontecido há um ano, foi levantada por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal)

O vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Moacyr Araújo, professor do Departamento de Oceanografia (Docean), realizou uma análise sobre a hipótese, levantada por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), de que o óleo encontrado em praias do Nordeste há um ano poderia ter vindo do Golfo da Guiné, na África. Para ele, a hipótese sobre o transporte de hidrocarbonetos até a costa brasileira não se sustenta. Sua resposta, inclusive, baseou uma nota oficial da Marinha do Brasil publicada na quarta-feira (26), corroborada por outros pesquisadores.

Crédito: Bruto et al (2017)

Distribuição das principais correntes e subcorrentes no Atlântico tropical

Ao avaliar a distribuição das principais correntes e subcorrentes no Atlântico tropical, por meio de uma síntese consolidada a partir de vários trabalhos científicos observacionais e numéricos, o professor observa que existem apenas três trajetórias possíveis que ligam o Golfo da Guiné à costa do Nordeste do Brasil. “Duas destas correntes zonais se dirigem para leste, e são as Subcorrentes Equatorial (EUC) e Sul Equatorial (SEUC). Como dizem em seus próprios nomes, estas duas correntes transportam águas subsuperficiais, da costa do Nordeste do Brasil para o interior do Golfo da Guiné”, explica Moacyr. De acordo com o professor, a única corrente zonal capaz de transportar as águas do Golfo da Guiné para a costa do Nordeste é o ramo central da Corrente Sul Equatorial (cSEC).

Ele destaca que há duas razões claras para descartar cientificamente a hipótese de que o óleo que atingiu o Nordeste brasileiro tenha origem no Golfo da Guiné, um mês antes de ele ter sido detectado nas nossas praias. “A cSEC tem uma velocidade máxima média de cerca de 0,1 m/s. Se considerarmos os 30 dias que antecederam os primeiros registros de detecção de óleo no Nordeste do Brasil, e a velocidade média máxima da cSEC de 0,1 m/s, a mancha de óleo no Golfo da Guiné seria deslocada para oeste cerca de apenas 260 quilômetros. Impossível, portanto, considerando que a distância média entre a porção central do Golfo da Guiné e a costa nordestina é de cerca de 5 mil quilômetros”, destaca.

Moacyr considera que, no caso do acontecimento de um derrame acidental no Golfo da Guiné, parte do volume derramado poderia, sim, ser transportado superficialmente para oeste. “Mas é necessário considerar igualmente que grande parte do volume derramado afundaria ao longo de sua trajetória, resultado dos processos de evaporação, dispersão, lixiviação etc. Ou seja, no momento em que estes volumes afundariam, eles seriam transportados para leste pelas subcorrentes EUC e SEUC e não para oeste”, afirma o vice-reitor.

Data da última modificação: 31/08/2020, 17:40