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Artista indígena, egresso do curso de Artes Visuais da UFPE, é selecionado para a Bienal de Veneza 2024

Evento será realizado de 20 de abril a 24 de novembro

A 60ª Bienal de Veneza, uma das mais prestigiadas exposições de arte do mundo, está prestes a receber a presença de um artista indígena brasileiro. Ziel Karapotó, egresso do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi convidado pelos curadores Gustavo Caboco, Denilson Baniwa e Arissana Pataxó para participar do evento que ocorrerá de 20 de abril a 24 de novembro.

A Bienal de Veneza 2024 tem como tema “Foreigners Everywhere”(Estrangeiros em todos os lugares, em tradução livre), destacando os outsiders do universo da arte. Com curadoria liderada pelo brasileiro Adriano Pedrosa, diretor do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), o evento terá como foco a produção de artistas de diversas origens, dando espaço e visibilidade a grupos anteriormente marginalizados, como imigrantes, expatriados, pessoas queer e indígenas.

Foto: Micaela Menezes

Ziel Karapotó nasceu na comunidade Karapotó Terra Nova, em São Sebastião (AL) 

O convite oficial foi recebido por Ziel Karapotó em 19 de janeiro deste ano. É importante destacar que todos os curadores da exposição são indígenas com notável atuação no campo das artes visuais e no movimento indígena, e eles já estavam familiarizados com o trabalho e a trajetória de Karapotó no campo das artes e na luta indígena. Esses aspectos desempenharam um papel crucial na seleção do artista.

A obra que Ziel Karapotó apresentará na Bienal de Veneza se chama “Cardume” e consiste em uma ampliação e releitura de uma de suas instalações, que faz parte do acervo do Museu Paranaense e integra a exposição coletiva indígena “Mejtere: histórias recontadas”. A instalação “Cardume” tem dimensões de 3m x 3m e é composta por uma tarrafa de pesca artesanal, maracás, projéteis-munições de resina e uma paisagem sonora. “Quarenta maracás formam um cardume que fica de frente ao de projéteis, numa relação de tensionamento de forças de poder”, afirma Ziel Karapotó.

A obra é conceitualmente profunda, abordando o campo minado em que os povos indígenas foram inseridos desde a colonização do território brasileiro. Ela simboliza a resistência a forças e violências direcionadas contra os indígenas, servindo como um manifesto contra os processos genocidas e etnocidas que perduram até os dias de hoje.

“Os maracás representam nossa força, através deles nos protegemos. É um instrumento poderoso, é nossa armadura. Ao tocar e cantar com maracá acessamos nossa ciência, conversamos com nossos ancestrais, nos curamos e nos protegemos”, explica o artista.

Foto: Museu Paranaense

Obra Cardume é releitura de uma de suas instalações

CONVITE - Ziel Karapotó destaca a importância deste convite não apenas para sua carreira, mas também para os povos indígenas e para a história da arte brasileira. Ele se junta às artistas Glicéria Tupinambá e Olinda Tupinambá no pavilhão Hãhãwpuá, um marco na luta para tornar visíveis as narrativas indígenas e romper com a hegemonia branca que existe nas artes.

“Ter sido selecionado pelos meus parentes Gustavo Caboco, Arissana Pataxó e Denilson Baniwa, curadores, e participar do pavilhão Hãhãwpuá, com as artistas Glicéria Tupinambá e Olinda Tupinambá, é algo muito importante para mim, para os povos indígenas no geral, para o Brasil e, ainda, para a história da arte brasileira. Estar na Bienal é resultado de uma luta coletiva de artistas e curadores indígenas em romper com as paisagens hegemônicas no campo das artes. É sair de um regime de envultamento e nos tornar visíveis projetando nossas narrativas, lutas e potência poética-política. De fazer ecoar que esse território é antes de tudo Hãhãwpuá, território ancestral, ocupado há muito tempo por indígenas. De irmos contra uma narrativa que nos coloca como estrangeiros no nosso próprio território”, explana ele.

O artista é originário da comunidade Karapotó Terra Nova, em São Sebastião (AL), e concluiu seu curso de Licenciatura em Artes Visuais pela UFPE em 2022. Além de artista visual, ele é curador, performer e realizador audiovisual, e atua como coordenador-geral da Associação de Indígenas em Contexto Urbano Karaxuwanassu (Assicuka).

Mais informações
Ziel Karapotó

zielmendess@gmail.com

Data da última modificação: 07/02/2024, 16:24