Vivemos em uma época marcada pela velocidade, pelo excesso de estímulos e por uma competitividade que gera um grande sentimento de autocobrança nas pessoas. No período pandêmico da Covid-19, cujas consequências perduram até hoje, essa situação se agravou, com os índices de depressão e ansiedade na população brasileira aumentando em 25%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Dito isso, são necessárias medidas que busquem promover a saúde mental e a qualidade de vida dos cidadãos, considerando suas particularidades e diferentes contextos socioeconômicos. 

 

Dentro dessa conjuntura, vários projetos de extensão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foram desenvolvidos com o intuito de fornecer algum suporte emocional e mental para diferentes parcelas da sociedade, visando ao fortalecimento das habilidades socioemocionais dos indivíduos. Entre eles, podemos citar Ações de cuidado em Saúde Mental entre mulheres de uma comunidade urbana de baixa renda e Saúde mental e educação: tecendo cuidados e saberes na Univer(cidade), relatados a seguir. 

 

Com duração de julho de 2022 a julho de 2023, o primeiro projeto foi coordenado pela Profa. Dra. Ana Lucia Marinho, do Departamento de Terapia Ocupacional, e contou com, entre os componentes da sua equipe, outros docentes e um grupo de voluntários, além da parceria com duas organizações não governamentais, a Livroteca Brincante do Pina e a Escola Livre de Redução de Danos. A ação teve como principal objetivo promover a saúde mental de mulheres residentes na Comunidade do Bode, na Zona Sul de Recife, por meio da atenção psicossocial dirigida a esse grupo por parte da equipe, partindo da territorialização da comunidade, para que assim fosse possível dialogar com esta.

 

(Brasil de Fato, 2022)

Vista parcial da Comunidade do Bode

 

As estudantes extensionistas desempenharam um papel de grande destaque no projeto, que contou com voluntárias graduandas de Terapia Ocupacional e de Serviço Social, todas da UFPE. Elas participavam de forma bastante ativa, sendo responsáveis tanto pela coordenação do grupo quanto pelo planejamento das atividades que seriam realizadas. Por meio de um mapeamento da comunidade, a equipe foi capaz de conhecer melhor o funcionamento do espaço e definir a forma mais produtiva de interagir com ele.  

 

No decorrer de suas atividades, a equipe se reunia uma vez por semana, presencialmente, no Bode, onde eram realizadas práticas que buscavam estimular o protagonismo e promover o bem-estar das mulheres participantes, cuja assiduidade revelou-se um desafio, conforme relatado pela professora Ana Lucia. Geralmente, elas precisavam lidar com várias “demandas do lar”, como filhos com dificuldade de aprendizado, companheiros usuários de álcool etc. Diante dessas realidades, muitas vezes foi necessário encontrar alternativas para participação, entre as quais estavam as chamadas telefônicas e a visita às integrantes do grupo que não podiam comparecer aos encontros, para que se mantivesse o contato com as participantes. 

 

(Brasil de Fato, 2022)

Livroteca Brincante do Pina

 

Neste ano de funcionamento, a ação, além da assistência prestada ao grupo envolvido, identificou a necessidade de mais iniciativas desse teor para a população. Para chamar atenção para este fato e divulgar suas realizações, o projeto Ações de cuidado em Saúde Mental entre mulheres de uma comunidade urbana de baixa renda será apresentado no 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, cujo tema é Emancipação e Saúde: decolonialidade, reparação e (re)construção crítica, que acontecerá no Campus Recife da UFPE entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro deste ano. 

 

(Site da UFPE, 2023)

    

Logo do projeto

 

Por sua vez, trabalhando a temática da saúde mental com o olhar voltado principalmente para o atendimento psicoterápico de servidores ativos e/ou aposentados da UFPE e de seus dependentes, o projeto Saúde mental e Educação: tecendo cuidados e saberes na Univer(cidade) acontece de forma totalmente on-line. Coordenada por Simone Vasconcelos, técnica-administrativa da Universidade e integrante do Núcleo de Assistência à Saúde do Servidor (NASS), em conjunto com outras técnicas, como Cínthia Mendes e Bruna Melo, a equipe tem como principal objetivo difundir a saúde mental de várias formas dentro da comunidade acadêmica.

 

O projeto funcionava, inicialmente, como um eixo do que era o projeto de extensão Fluir com a Vida, voltado para a promoção da saúde e da qualidade de vida no trabalho. Quando ele se tornou um programa, no fim de 2021, o Saúde Mental e Educação passou a funcionar como um projeto autônomo. A ação é ligada à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe) da Universidade, sendo composto exclusivamente por voluntários, contando com membros externos à UFPE e estudantes de graduação. 

 

Atualmente, o  projeto é estruturado em quatro eixos: informação para promoção de cuidado e autocuidado em saúde mental; diálogos em saúde mental; escuta acolhedora; e grupo de estudos. Assim, tem as metas, respectivamente a cada eixo, de publicar materiais com informações úteis às pessoas sobre o tema da saúde mental que favorecessem o cuidado e o autocuidado, em formato de card e de cartilha; de promover diálogos multidisciplinares sobre saúde mental na universidade; de oferecer atendimento psicológico, pontual e gratuito aos servidores da UFPE e seus dependentes maiores de 18 anos em sofrimento psíquico que, eventualmente, precisem de apoio psicológico; e de promover aprofundamentos teóricos entre a equipe como um todo e a prática dos extensionistas.

 

(Site da UFPE, 2023)

Divulgação da atividade de Escuta Acolhedora do projeto

 

Os atendimentos realizados pelo projeto já aconteciam desde antes da pandemia, no formato de psicoterapia, com longos períodos de escuta, por meio de chamadas de vídeo. No entanto, diante do cenário pandêmico, com o aumento exponencial da demanda dos servidores da Universidade, a duração dos atendimentos passou a ser mais breve, para que o quantitativo de pessoas contempladas durante a semana fosse aumentado. 

 

Para ser atendido, o servidor da universidade (ou o seu dependente) passa pela etapa da Escuta Acolhedora, por chamada de áudio, que funciona como uma “triagem”, na qual são recebidas as demandas de quem telefonou. Estatisticamente, acontecem cerca de 30 atendimentos semanais por meio desse acolhimento por chamada, que são repassados para a equipe do projeto, a qual os organiza de acordo com a necessidade de cada paciente e os agenda para as chamadas de vídeo. Dessa maneira, são feitos avanços no sentido de melhorar o bem-estar dos que trabalham na UFPE.

 

As atividades do projeto são divulgadas diretamente no site oficial da UFPE. Dentre essas ações, a iniciativa promove rodas de conversa on-line, que acontecem pelo YouTube e que discutem as medidas a serem tomadas para o autocuidado. 

 

É importante, ainda, ressaltar que a saúde mental é promovida por muito mais do que um atendimento psicoterápico ou por atividades semanais de escuta e acolhimento, sendo uma questão que engloba um conjunto de fatores, como condições dignas de trabalho e de vida, além de segurança para a população. Assim, em momentos tão críticos como a pandemia e o pós-pandemia, a universidade pública, por meio de projetos de extensão, prestou um serviço à comunidade, integrando-a à Academia.

 

A Proexc reforça a importância da extensão universitária, que se dá tanto do ponto de vista da formação dos estudantes da instituição, pela possibilidade do desenvolvimento de atividades práticas, como também do público externo à Universidade, que pode se beneficiar dessas ações desenvolvidas. 

 

Para saber mais:

 

 

Página da UFPE do projeto Saúde mental e Educação: tecendo cuidados e saberes na Univer(cidade): bit.ly/saudemental-e-educacao

Link para inscrição no 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, do qual o projeto Ações de cuidado em Saúde Mental entre mulheres de uma comunidade urbana de baixa renda participará: bit.ly/inscricoes-cshs.