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Mestrando da UFPE desenvolve método para identificar sangue humano em cenas de crime usando vídeos feitos com celular
Pesquisa é realizada em parceria com grupo de criminalística da Polícia Científica de Pernambuco, UFRPE e UERJ

Durante o curso de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQuímica) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o químico Thomas Tributino tem trabalhado no desenvolvimento de um método capaz de identificar a presença de sangue humano em cenas de crime a partir de vídeos gravados com câmera de celular. Em testes realizados em laboratórios da UFPE e da Polícia Científica de Pernambuco, o método demonstrou ter uma precisão de 90,30%, apresentando apenas quatro erros. Além disso, com ele foi possível estimar o tempo que as amostras de sangue estavam nas cenas de crime, com uma precisão de 3,6 dias.
“Esses resultados indicam que o método desenvolvido é preciso, sensível e rápido. Apoiado por esses resultados, esse método representa um avanço significativo na ciência forense, oferecendo uma solução prática e eficiente para investigações de cenas de crime”, avalia Thomas Tributino junto aos demais autores do artigo “Chemiluminescence video assisted by chemometric modeling for forensic identification of blood at crime scenes”, publicado na capa da revista Analytical Methods, da Royal Society of Chemistry do Reino Unido.
Em resumo, o método desenvolvido pelo mestrando se baseia na análise científica de vídeos que registram o que acontece quando se aplica um composto químico chamado luminol na cena do crime. Quando esse reagente entra em contato com o ferro presente na hemoglobina do sangue, surge uma luz azulada (por isso, a reação é chamada de quimioluminescência).
Com esse recurso, mesmo que alguém tenha lavado o local, os peritos conseguem visualizar vestígios de substâncias. Mas ainda resta a necessidade de especificar se aquela mancha foi produzida por sangue mesmo, de saber se o sangue em questão é de um ser humano ou de outro animal e de estimar há quanto tempo o sangue está no local para saber se a data combina com a do crime investigado. É neste momento que são realizados testes complementares.
Thomas Tributino pontua que o método desenvolvido por ele permite reduzir em seis vezes o consumo de luminol, o que está de acordo com os princípios da química verde: “A redução se deu pela instrumentação desenvolvida especialmente para esse projeto, em que uma câmara escura foi construída para realizar as análises. O luminol era armazenado em uma seringa, que ficava acoplada na parte de trás da câmara, que é utilizada na aplicação de insulina e comporta cerca de 1ml. Então era necessário apenas 1ml do luminol para fazer cerca de 15 análises. E essa instrumentação reduzia muito a utilização dos compostos”.
ETAPAS DO MÉTODO – Feita a gravação utilizando as câmaras escuras (uma espécie de caixa), o vídeo foi dividido em quadros que foram processados em softwares antes de serem submetidos à chamada análise quimiométrica. As amostras que passaram por essa leitura foram feitas considerando diferentes cenários, incluindo presença de outras substâncias na cena do crime e os efeitos da passagem do tempo no sangue.
“A análise quimiométrica é feita quando extraímos e analisamos o máximo de informação química a partir da utilização de ferramentas matemáticas e estatísticas. E, no projeto, ela foi feita analisando os dados obtidos a partir dos softwares. No projeto utilizamos os softwares ImageJ e ColorGrab para análise de cor das imagens obtidas a partir dos vídeos. O RStudio foi utilizado na análise de dados para importar, acessar, transformar, explorar, plotar e modelar esses dados. E o MATLAB foi utilizado para modelagem, simulação, predição de modelos, análise e visualização de dados”, detalha Thomas Tributino.
Para avaliar se o método permitiria diferenciar sangue humano do sangue de outros seres vivos, foram utilizadas amostras coletadas pela Polícia Científica de Pernambuco e outras extraídas de fígado bovino adquirido em um supermercado local. O método analítico conseguiu fazer a identificação mesmo após diluição das amostras, o que simulou tentativas de ocultar vestígios em cenas de crime por meio de lavagem. Essa primeira parte foi realizada no Laboratório de Instrumentação e Automação em Analítica Aplicada, no Departamento de Química Fundamental da UFPE.
A segunda parte do projeto, que envolvia a detecção de sangue utilizando exclusivamente material biológico humano, foi feita pelo perito criminal Tadeu Morais Cruz, que é chefe do Grupo Especializado em Perícias de Homicídios (GEPH), da Polícia Civil de Pernambuco. Ele colaborou com a pesquisa ao analisar amostras utilizando o método proposto por Thomas Tributino e depois as descartou de maneira segura, além de colaborar com as discussões do artigo.
De maneira complementar, foram testados outros materiais, como batom, tinta vermelha e ketchup. Também foi levado em conta que a superfície na qual o sangue foi encontrado poderia ter alguma influência no resultado. Por isso, foram preparadas amostras gotejando sangue sobre algodão, cerâmica, madeira e vidro. O método demonstrou ter 100% de sensibilidade quando as amostras estavam sobre algodão ou cerâmica. Quando as bases eram de madeira ou vidro, o método alcançou 77% de especificidade e 93,10% de sensibilidade.
“Sensibilidade e especificidade são duas medidas que nos dizem o quão bom um teste é em acertar o resultado. A sensibilidade é a capacidade do teste de identificar corretamente as superfícies que realmente contêm uma substância. Um teste muito sensível é ótimo em não deixar nenhum caso positivo passar despercebido. A especificidade é a capacidade do teste de identificar corretamente os casos negativos ou todas as superfícies que não contêm a substância. Um teste muito específico é ótimo para evitar falsos positivos. Se o resultado der positivo, você pode ter bastante confiança de que é um positivo real”, explica Thomas Tiburtino.
COLABORAÇÃO – No já citado artigo científico que foi publicado pela revista Analythical Methods são apresentados detalhes sobre os materiais utilizados e sobre cada etapa do método desenvolvido por Thomas Tiburtino. O artigo é assinado em coautoria com o professor do Departamento de Química Fundamental da UFPE (DQF), Vagner Bezerra dos Santos, que orienta a pesquisa; com o graduando em Licenciatura em Química (DQF) José Roberto Sabino Júnior; com o professor do Departamento de Química Analítica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Licarion Pinto, que foi responsável pela modelagem quimiométrica dos dados; com o perito criminal do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Tadeu Morais Cruz; com o doutor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) José Ailton Mota Nascimento e com o professor do Departamento de Química da UFRPE Severino Carlos Bezerra de Oliveira.
Mais informações
Professor Vagner Bezerra dos Santos
vagner.bsantos@ufpe.br
Thomas Tributino
thomas.tributino@ufpe.br