A experiência do UFPE no Meu Quintal – projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco voltado a oferecer a oportunidade aos alunos de agregar novas vivências em educação experiencial por meio de uma imersão na dinâmica social de municípios pernambucanos – pode chegar até o Haiti. É o que pretende o doutorando em Engenharia Civil Jean Baptiste Joseph, haitiano que vive no Brasil desde 2010 e está à frente da organização não governamental Gade (Groupe d’Ambassadeurs pour le Développement/Grupo de Embaixadores para o Desenvolvimento), que já foi tema do Papo na Ascom. 

O projeto de extensão está em funcionamento desde 2017 e já passou por seis municípios do interior pernambucano (Tabira, Iguaracy, Tuparetama, Solidão, Betânia e Dormentes), conectando mais de 500 estudantes das diversas graduações a cerca de 10 mil pessoas que já tiveram contato com essa experiência cidadã (saiba mais sobre as edições no Facebook e no YouTube do projeto de extensão). O doutorando pretende levar a iniciativa para seu país de origem em uma parceria entre a UFPE e a Universidade do Estado do Haiti (Université d'Etat D'Haiti).

Diretor do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da UFPE e coordenador do projeto UFPE no meu Quintal, o professor José Eduardo Garcia lembra que esta não é a primeira parceria internacional do programa. Em 2018, a experiência realizada nas seis edições nos Sertões do Pajeú e do São Francisco foi compartilhada em uma missão a Cabo Verde, na África, em 2018. “Em julho de 2019, em seguida, recebemos uma professora de lá e ela participou conosco com a intenção de levar o projeto, mas com o início da pandemia isso deu uma esfriada”, explica.

Sobre a nova ação a fim de levar o projeto para o Haiti, o professor destacou que toda a documentação para a viabilização da parceria entre a UFPE e a universidade haitiana já foi assinada. “Agora estamos operacionalizando o levantamento de recursos para viabilizar a missão. A ideia é levar a nossa expertise e fazer com que eles possam desenvolver um projeto similar ao nosso, dentro da realidade deles”, disse. O Haiti é o país mais pobre das Américas e um dos mais desprovidos de recursos financeiros do mundo, segundo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

A viagem para o Haiti está prevista, inicialmente, para o dia 26 de junho, com uma missão de dez dias. De acordo com Jean Baptiste, a ideia é contar com uma delegação de dez brasileiros e cinco norte-americanos ao Haiti para levar o projeto. O custo estimado da viagem é de US$ 54 mil (cerca de R$ 330 mil) para alimentação, transporte (aéreo e terrestre), hospedagem, seguro saúde, testes de Covid no Haiti e insumos. A iniciativa conta com o apoio de outra ONG, a International Women of H.O.P.E (IWOH), fundada pela haitiana Rosebrune Vixamar e sediada nos Estados Unidos.

“Há mais de dois anos, estamos em busca de parceiros para tentar tornar realidade esta missão. Vários passos foram feitos e agora é o último passo. Sabemos que o momento é delicado em razão da pandemia, mas não podemos desistir de tentar encontrar recursos para ajudar o Haiti”, disse Jean Baptiste. Para levantar os recursos, estão previstas uma série de ações virtuais comandadas pela IWOH, que busca criar impacto na vida das mulheres haitianas por meio de capacitações, a partir de 20 de março. Não haverá lucro financeiro para nenhuma das partes.

O projeto de extensão UFPE no Meu Quintal é responsável pelo vínculo direto entre os saberes produzidos nas dinâmicas acadêmicas e a sociedade, sendo ponte importante nessa troca de competências entre comunidades e produção científica. “Queremos apresentar no Haiti essa experiência como forma de capacitá-los para implantar o projeto lá também. Eu acredito que só uma coisa pode mudar meu país: a educação. Foi o que o Brasil fez por mim e quero poder retribuir unindo os dois países, o que seria fantástico para ambos”, finalizou Jean Baptiste.