Da assessoria do Lika

Complicações neurológicas em decorrência da covid-19, a importância da pesquisa aliada à assistência aos pacientes, e a necessidade de se melhorar o arsenal de diagnóstico para a doença foram alguns dos principais pontos abordados durante o webinar promovido pelo Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da UFPE na última sexta-feira (27).

De acordo com o neurologista e pesquisador do Lika Kleiton Borges, trata-se de um vírus novo, de consequências sistêmicas e que pode determinar em várias complicações neurológicas. “O problema do vírus é que além da sua agressão direta, também existe o perfil inflamatório que ele determina, a desregulação autoimune que é tão grave quanto a infecção direta dele. Essas complicações podem acontecer durante ou após a infecção, surgindo dias ou semanas depois, podendo acometer ainda aqueles pacientes que estão em internamentos prolongados”, explicou.

Dentre essas complicações neurológicas, Kleiton Borges esclareceu que existe uma gama delas e alguns pacientes vistos na prática apresentaram quadros como os de neuropatias (doença que atinge o funcionamento dos nervos periféricos, podendo afetar a sensibilidade e movimentos), mielites (inflamações na medula espinhal), encefalomielite (doença inflamatória difusa do sistema nervoso central) e a mielopatia (doença que compromete a medula espinhal) pós-infecção pela covid-19.

Com a prevalência da doença, foi possível melhorar o arsenal de diagnósticos, mas, o neurologista afirmou que sente falta de testar mais o líquor – líquido produzido nas cavidades localizadas no interior do cérebro com função de proteger o sistema nervoso central – dos pacientes que chegam nas unidades de saúde. “Estamos falando de uma patologia inflamatória, viral e na prática não se tem um teste padronizado para o líquor. Já que a doença apresenta um neurotropismo e esse líquido banha o cérebro, por que não testar? Poderíamos melhorar isso do ponto de vista prático. Precisamos discutir esses aspectos e alertar a sociedade porque é preciso se antecipar, estar à frente do problema”, constatou.

Ele também ressaltou a importância de não separar a pesquisa da assistência. “A covid está nos mostrando que além das complicações nefastas em relação à população, quando juntamos assistência com pesquisa temos um melhor desfecho. Apesar dos problemas trazidos pela pandemia, vai ficar mais claro para a população que a pesquisa é fundamental” reforçou.

IMUNIDADE E SAÚDE MENTAL – Conforme explicou o professor de Psiquiatria da UFPE e também pesquisador do Lika João Ricardo Mendes existe uma relação entre imunidade e saúde mental e diversos fatores podem levar ao adoecimento como a violência psicológica, física, situações de assédio, fatores econômicos, dentre
outros. “É óbvio que as doenças mentais já existiam, mas, elas foram potencializadas pela pandemia. Vivemos um período bastante estressor e isso aumentou e gerou de forma mais rápida os adoecimentos mentais”, afirmou. 

João Ricardo Mendes também chamou atenção para a importância dos profissionais observarem o paciente com mais cuidado e ter um olhar para além da covid-19. “Precisamos ter uma visão mais integral do paciente porque as pessoas não têm ou só terão Covid-19. Existem diversas outras doenças, outros fatores e questões que podem gerar um adoecimento” alertou.

Ele ainda discorreu sobre o legado que a pandemia irá deixar em relação ao aumento de dados e informações sobre a doença decorrentes das pesquisas, a evolução dos métodos utilizados na assistência e no tratamento desses pacientes – como por exemplo os métodos de intubação – além dos incrementos tecnológicos. Por fim, Mendes agradeceu aos profissionais de saúde pelo trabalho prestado frisando que esses profissionais se mantiveram sóbrios durante este momento difícil.