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Centro Acadêmico do Agreste terá curso regular de Licenciatura Intercultural Indígena
Graduação tem por finalidade formar professores e professoras indígenas, no âmbito dos povos indígenas em Pernambuco
Após quase 12 anos funcionando como projeto, com duas turmas e mais de 300 professores indígenas formados em 2013 e 2018, a Licenciatura Intercultural Indígena se tornará agora um curso regular do Centro Acadêmico do Agreste (CAA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com primeira entrada prevista já para 2022. O processo seletivo para ingresso discente ocorrerá uma vez por ano (uma entrada), sendo ofertadas, inicialmente, 20 vagas, destinadas exclusivamente aos indígenas.
“É uma iniciativa muito importante para a UFPE tornar a Licenciatura Intercultural Indígena um curso permanente da Universidade”, afirmou o reitor Alfredo Gomes. “Em uma ação liderada pelo Gabinete do Reitor, com o reitor e o vice-reitor, nós redefinimos vagas docentes para o curso para que ele possa efetivamente voltar a funcionar em 2022”, explicou, destacando a importância da graduação para o processo formativos dos povos indígenas e para o estado de Pernambuco.
Com a sinalização da Reitoria da UFPE pela liberação de seis códigos de vagas para docentes, o colegiado do curso – juntamente com a direção do Centro Acadêmico do Agreste (CAA), com o Núcleo de Formação Docente (NFD) e com representantes da Copipe – deliberou sobre o Projeto Político Pedagógico, o ingresso de alunos e o perfil de docentes do curso, aprovados em reunião ordinária do Conselho do Campus, ocorrida em 12 de maio.
Criado como parte das ações de interiorização da universidade pública, atendendo a uma demanda da Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (Copipe), a Licenciatura Intercultural Indígena tem por finalidade formar professores e professoras indígenas, no âmbito dos povos indígenas em Pernambuco, para atuarem na Educação Básica, sobretudo nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, em escolas indígenas.
O coordenador do curso, professor Sandro Guimarães, explica que a ausência de uma formação superior específica para professores indígenas impactava na precariedade do ensino nas escolas indígenas, que apresentavam baixo índice de aprendizagem, alto índice de evasão e repetência, espaços físicos inadequados e material didático incompatível com as necessidades e interesses de cada povo. “A criação da Licenciatura Intercultural Indígena contribui para fixação de muitos jovens indígenas que tinham que deixar os seus povos para estudar em outras cidades, o que ocasionava diversos problemas às comunidades indígenas'', acrescenta o professor.
O curso foi reconhecido em 2018 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC), com nota 4, e está em consonância com as legislações educacionais vigentes. “A sua continuidade como curso regular representa a concretização do fortalecimento dos valores, princípios, cultura e história dos povos indígenas'', explica a chefe do Setor de Estudos e Assessoria Pedagógica (Seap) do CAA, Alba Marinho.
METODOLOGIA – A Licenciatura Intercultural Indígena emprega a metodologia da Alternância Pedagógica, procurando contemplar as singularidades de cada povo no estado. Os discentes podem optar pela formação em uma das seguintes áreas de conhecimento: Línguas, Artes e Literatura; Ciências da Natureza e Matemática; e Ciências Sociais.
O curso rompe com um modelo de educação assimilacionista e integracionista, contribuído significativamente para a efetivação, em Pernambuco, de uma educação escolar indígena específica e diferenciada. “A perspectiva da interculturalidade que atravessa o Projeto Pedagógico do curso consiste em um diálogo interepistêmico entre os saberes indígenas e os conhecimentos acadêmicos, além de contribuir para o diálogo entre os 12 povos indígenas”, explica Sandro Guimarães.
“Diante da existência de populações indígenas, ciganas e quilombolas no Estado, especialmente no Agreste e Sertão, a oferta de um curso permanente, com conteúdos, metodologias e abordagens específicas para esses sujeitos coletivos, compreendendo seus modos de vida, suas singularidades e contribuições, permite avançar no processo de interiorização da UFPE, alcançando geografias, culturas, populações e políticas, como forma de manutenção e ampliação da vida com suas vicissitudes e possibilidades”, complementa o professor Everaldo Fernandes, coordenador de Ensino do CAA.
O professor Manoel Guedes, diretor do Campus do Agreste, também destaca a prática da alternância pedagógica adotada pelo curso, especialmente no que se refere à troca de saberes e à utilização de novas metodologias de ensino e aprendizagem, e comemora o que classifica como uma das maiores conquistas do CAA nos últimos anos. Para o diretor, a implementação do curso, agora no formato regular, garante a preservação da identidade do CAA e a continuidade de um projeto de interiorização, norteado pela interculturalidade, interdisciplinaridade e inclusão.