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Uso de inteligência artificial é desafio para gestores escolares
Pesquisa aponta limitações na adoção do recurso entre gestores, que, embora abertos à tecnologia, preocupam-se com mecanização da educação
Por Allane Silveira
Cada vez mais presentes no cenário educacional, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) podem ser consideradas ferramentas úteis na otimização de processos pedagógicos e administrativos nas escolas. Tendo como perspectiva a de que o avanço dessas tecnologias sobre as atividades educacionais é inevitável, a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação Básica do Centro de Educação (CE) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Rosemary Mendes debruçou-se sobre o tema em sua dissertação de mestrado intitulada “Gestão Escolar e Inteligência Artificial: o uso do ChatGPT como apoio à gestão”. Defendido em 2024, o trabalho teve orientação da professora Ana Lúcia Felix dos Santos.
Em seu estudo, a pesquisadora trabalhou com um grupo de cinco gestores, três vice-gestores e dois coordenadores da Rede Municipal de Ensino do Recife (RMER). A pesquisa, desenvolvida em sete escolas dos bairros de Afogados, Ibura e Guabiraba, incluiu níveis variados de ensino, como creches e escolas de Ensino Fundamental. As escolas foram escolhidas devido à presença ou não das funções de gestor, vice-gestor ou coordenador na unidade de ensino. A seleção também levou em conta uma postura positiva e favorável ao uso de tecnologias da educação.
O ChatGPT foi escolhido como a inteligência artificial (IA) a ser analisada por sua capacidade de gerar respostas contextualizadas que simulam uma interação humana e por seu poder de processamento de informações. Também se levou em conta o fato de ser uma tecnologia fácil de usar e que não exige conhecimentos avançados de computação, apresentando uma interface amigável. “Ele foi escolhido como exemplo prático e atual de tecnologia acessível. Também poderia ser aplicada diretamente por gestores escolares”, explica Rosemary.
Trata-se de uma pesquisa aplicada, com abordagem exploratória. Foram aplicados dez questionários em formato digital com perguntas abertas e fechadas para identificar o perfil dos participantes e como a equipe gestora se relacionava com a tecnologia nos âmbitos profissional e pessoal. Rosemary ainda fez entrevistas, realizou observações e lançou mão de um diário de bordo para a coleta de dados. Também foi realizada uma oficina sobre o uso do ChatGPT nas unidades escolares (para familiarizar os participantes com esse recurso) e, logo após, uma entrevista semiestruturada. Foram obtidas dez respostas dos questionários, oitos respostas às entrevistas e oito participações na oficina.
Os resultados apontam que os funcionários que estão com a função de gestão ou coordenação têm, em sua maioria, mais de 31 anos de idade, com 40% na faixa etária de 41 a 50 anos e 40% com idades de 51 a 60 anos. O sexo feminino predomina, sendo correspondente a 90% dos participantes. A esse mesmo percentual (90%) corresponde o número de participantes que têm graduação, sendo 70% com formação em Pedagogia. A maioria dos participantes têm mais de dez anos de experiência em educação e na Rede Municipal de Ensino do Recife, sendo 70% deles com 11 a 20 anos de vivência na área.
A análise das respostas do questionário mostrou que todos os sujeitos utilizavam algum tipo de tecnologia no âmbito de suas atividades pessoais, o que poderia indicar que haveria maior facilidade para uso das tecnologias na rotina profissional de gestão escolar. Porém os dados mostraram que, quando se tratava de uma tarefa mais complexa, o domínio das ferramentas digitais se reduzia. Notou-se que os gestores têm maior domínio de ferramentas ligadas à produção textual e à gestão burocrática, como editores de texto e planilha e comunicação on-line (aplicativos de trocas de mensagens instantâneas ou e-mails). Com relação a ferramentas como editores de vídeo, áudio ou ferramentas de sistema, os gestores apresentaram menor habilidade. Sobre o ChatGPT, 70% deles relataram desconhecê-lo; 10% revelaram estar estudando sobre o assunto; e 20% consideraram que a tecnologia tem como função dar respostas em diversas áreas do conhecimento.
A avaliação inicial apresentada sobre as tecnologias e IA enfatiza sua influência nas interações sociais e sua eficácia na otimização do tempo e dos resultados. Porém a maioria dos participantes não utiliza IA na gestão escolar, ou seja, existe um espaço não ocupado entre os gestores quanto à adoção desse recurso. Por outro lado, os participantes apresentam preocupação com o que consideram vigilância excessiva exercida pelas IAs e também com a limitação da experiência educacional, mesmo levando em consideração os benefícios.
Quanto aos desafios do uso de IA pela gestão, a pesquisa identificou subcategorias que se referem à cautela, resistência e necessidade de mais formação dos gestores com relação à inserção da IA na gestão escolar. A pesquisa revelou que os gestores se preocupam com a possível mecanização do processo educacional, com a resistência à IA e com a capacitação adequada dos profissionais da educação. A análise das respostas indica que os gestores consideram importante acompanhar as atualizações tecnológicas. No entanto, alguns aspectos devem ser considerados nesse processo, como o contexto escolar e o alinhamento de demandas, sem deixar de lado valores éticos e humanísticos.
“Quando se trata da educação e da gestão escolar, ainda há um caminho a ser percorrido para integrar essas tecnologias de forma estratégica e crítica, o que torna a pesquisa muito importante porque discute como a IA, especialmente o ChatGPT, pode ser utilizada para apoiar a gestão escolar, tornando-a mais eficiente e preparada para os desafios contemporâneos”, explica Rosemary.
A pesquisadora considera que os exemplos de aplicação de tecnologia na educação, como ChatGPT e outros de inteligência artificial, podem potencializar os processos de gestão escolar. Os estudos sobre uso de IA na educação tocam em pontos como aprendizagens adaptativas, análises de aprendizagem, sistemas inteligentes de tutoria e desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Essas dimensões, contudo, não são indicadas nas análises dos dados obtidos durante a pesquisa, o que indica desconhecimento sobre os usos de IA na educação. Apesar disso, em contato com o ChatGPT, os gestores apresentaram uma posição favorável e positiva. Eles concluíram que a tecnologia é eficaz no atendimento a demandas administrativas e pedagógicas.
A falta de referências e fontes, por outro lado, indica que é necessário ter cautela com o uso da tecnologia. Além disso, alguns gestores apresentaram preocupação porque a IA não considera contextos, subjetividades e também forneceria soluções genéricas e limitadas. Nenhuma resposta indicou medo da IA, mas houve unanimidade quanto à percepção de que tais tecnologias poderiam ter impacto negativo se mal utilizadas. Por isso, as mesmas não devem servir como substitutas às atividades humanas, mas encaradas como coadjuvantes, complementando habilidades de gestores e educadores de forma contextualizada.
Para Rosemary, os resultados apresentados podem indicar algum direcionamento dentro das políticas e estratégias voltadas à gestão escolar. “A partir da coleta de dados, podemos observar que os resultados indicam que, apesar de gestores escolares já utilizarem algumas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) no dia a dia, o conhecimento sobre IA na gestão ainda é muito limitado. Isso aponta para a necessidade de políticas públicas voltadas à formação continuada dos gestores, garantindo que não apenas conheçam essas tecnologias, mas saibam aplicá-las estrategicamente para otimizar a administração escolar”, defende. “Além disso, a pesquisa sugere que a implementação da IA na gestão escolar deve ir além da automatização de tarefas, pois é essencial que haja discussões sobre seus impactos éticos, pedagógicos e sociais. Portanto, os resultados reforçam a necessidade de diretrizes que regulamentem seu uso, assegurando que gestores possam não apenas usufruir da tecnologia, mas também contribuir para o debate público sobre suas implicações e possibilidades”, reitera.
Para a pesquisadora, a IA, especialmente o ChatGPT, pode ser utilizada para apoiar a gestão escolar, tornando-a mais eficiente e preparada para os desafios contemporâneos. “Nesse sentido, seria interessante que toda equipe gestora (gestores, vice-gestores e coordenadores pedagógicos) pudesse conhecer e utilizar tecnologias e, se possível, atuar na liderança da formação de suas equipes, promovendo debates sobre o impacto dessas ferramentas na educação”, aponta. Rosemary explica que, nesse sentido, “a pesquisa não apenas propõe a inserção da IA na gestão, mas também reforça a necessidade de uma reflexão ética e democrática para garantir que seu uso traga benefícios reais à escola e à comunidade”.
Mais informações
Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação Básica da UFPE
mpeb.ce@ufpe.br
Rosemary Mendes
rosemary.mendes@ufpe.br