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Tecnologia ajuda na prevenção da síndrome da fragilidade em idosos comunitários

Smartwatches medem número de passos e minutos de sono, indicadores relacionados à mensuração da síndrome

Por Eliza Brito

Quanto menos passos diários, menor o nível de atividade física e maior a fraqueza muscular entre idosos comunitários, que são aqueles que participam de iniciativas em grupos na comunidade. Além disso, quanto mais minutos de sono leve esse público tiver, mais exaustão irá relatar. Os resultados foram coletados por meio do uso de relógios que combinam funcionalidades de um aparelho tradicional com recursos tecnológicos avançados, os smartwatches, e foram apresentados na dissertação de mestrado “Uso de Smartwatches para Identificação de Biomarcadores Digitais de Síndrome da Fragilidade em Idosos Comunitários”. O trabalho foi defendido por Amanda Caroline de Andrade Ferreira, em março do ano passado, no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A dissertação teve a orientação das professoras do Departamento de Fisioterapia da Universidade e também atuantes na Pós-Graduação em Fisioterapia Juliana Fernandes de Souza Barbosa, que foi a orientadora, e Etiene Oliveira da Silva Fittipaldi, coorientadora. A pesquisa envolveu 99 idosas e idosos comunitários, com 60 anos ou mais, residentes na Região Metropolitana do Recife e vinculados à atenção primária, que é o primeiro nível de atenção à saúde e a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Eles utilizaram smartwatches durante sete dias para que fossem coletados dados sobre número de passos e minutos de sono.

“Os participantes foram acompanhados por seis meses e realizaram avaliações iniciais e bimestrais. Foi feito um estudo transversal, no qual foram analisados os dados coletados nos primeiros sete dias de uso do smartwatch”, explicou a pesquisadora. Ela esclareceu que a fragilidade foi avaliada com base nos critérios operacionalizados por Fried et. al. (2001), que são: fraqueza muscular, lentidão da marcha, exaustão, baixo nível de atividade física e perda de peso não intencional. “A escolha do desenho transversal foi justificada por sua capacidade de analisar associações entre os parâmetros fornecidos pelos smartwatches: número de passos e minutos de sono e os critérios de fragilidade definidos por Fried et. al. (2001) de forma prática e em um único ponto no tempo”, detalhou.

A ideia principal da autora foi verificar se os biomarcadores digitais fornecidos por smartwatches se relacionam com a síndrome da fragilidade em idosos comunitários. A pesquisa também buscou descrever e mapear quais medidas fornecidas pelos smartwatches podem ser usadas para identificação da síndrome; determinar a prevalência dos estágios de fragilidade (não-frágil e frágil) em uma amostra de idosos comunitários; e avaliar se os biomarcadores digitais “número de passos” e “tempo de sono” podem predizer a fragilidade e seus critérios. “Mensurar a síndrome da fragilidade é essencial para detectar precocemente o declínio funcional em idosos, possibilitando intervenções preventivas que reduzam o risco de hospitalizações, quedas, dependência funcional e mortalidade”, justificou a pesquisadora.

SÍNDROME DA FRAGILIDADE - Uma condição multifatorial caracterizada pela diminuição da força, resistência e função fisiológica, a síndrome da fragilidade determina uma maior vulnerabilidade a estressores e o aumento do risco de dependência funcional e da mortalidade. De acordo com Amanda Ferreira, o público mais vulnerável à síndrome da fragilidade é formado por idosos, especialmente os do sexo feminino, com idade superior a 75 anos, baixa escolaridade e que apresentam maior número de comorbidades. “Fatores socioeconômicos, como baixa escolaridade e renda, podem limitar o acesso a recursos de saúde e práticas preventivas, o que contribui para o aumento da fragilidade, assim como a presença de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, depressão e multimorbidade”, acrescentou a pesquisadora. Outros fatores de risco incluem estilos de vida sedentários e limitações nas atividades de vida diária, que aceleram o declínio físico e cognitivo. “Esses elementos tornam esse grupo especialmente vulnerável à transição para estados de fragilidade”, destacou.

A síndrome pode ser avaliada por diversas escalas validadas, cada uma com enfoques e critérios específicos. As que abrangem abordagens unidimensionais são focadas na saúde física, e os modelos multidimensionais consideram aspectos físicos, psicológicos e sociais. “O modelo mais amplamente utilizado é o fenótipo de fragilidade proposto por Fried et. al. (2001), que avalia cinco critérios principais: fraqueza muscular, lentidão da marcha, exaustão, baixo nível de atividade física e perda de peso não intencional. Indivíduos que apresentam três ou mais desses critérios são classificados como frágeis; aqueles com um ou dois critérios são considerados pré-frágeis; e os que não apresentam nenhum critério são classificados como não frágeis”, explicou a pesquisadora.

Amanda defende a mensuração contínua da síndrome, o que ajuda a identificar mudanças no estado de saúde dos idosos ao longo do tempo, permitindo ajustes rápidos nas estratégias de cuidado e intervenções específicas, como programas de atividade física e reabilitação. “Além disso, possibilita um planejamento de saúde mais eficiente, orientado a políticas públicas e ações preventivas direcionadas para populações de maior risco”, destacou. Para a pesquisadora, a tecnologia, especialmente os smartwatches, desempenha um papel importante ao permitir uma mensuração objetiva e contínua dos parâmetros relacionados à atividade física e a alguns hábitos de vida. “Esses dispositivos utilizam sensores avançados para coletar dados sobre contagem de passos, qualidade e duração do sono e frequência cardíaca, que podem estar associados aos critérios da síndrome da fragilidade”, detalhou.

A pesquisadora explicou, ainda, que os smartwatches oferecem monitoramento remoto em tempo real, facilitando o rastreamento de padrões comportamentais e identificando alterações precoces na mobilidade e no nível de atividade física. Eles também possuem a capacidade de sincronizar dados com sistemas em nuvem, o que pode permitir uma comunicação de informações com equipes de saúde. “Os smartwatches podem oferecer um monitoramento acessível e prático, permitindo que os profissionais de saúde identifiquem precocemente os estágios da fragilidade e implementem intervenções personalizadas. No entanto, para serem adotados em larga escala no serviço público, é necessário superar barreiras como o custo inicial dos dispositivos, a capacitação dos profissionais e a aceitação por parte dos idosos, especialmente aqueles com menos familiaridade com tecnologia”, finalizou a pesquisadora.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFPE
(81) 2126.8937

ppgfisioterapia@ufpe.br 

Amanda Caroline de Andrade Ferreira
amanda.carolinef@ufpe.br

Date of last modification: 26/03/2025, 08:02