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Artigos de docentes e estudantes da UFPE analisam contribuição da xilogravura e do teatro de mamulengo para o ensino da Matemática

Trabalhos foram produzidos por pesquisadores do Centro Acadêmico do Agreste (CAA)

Expressões artísticas fortemente ligadas à cultura popular nordestina, a xilogravura e o teatro de mamulengo foram tema de dois artigos escritos por docentes e estudantes do grupo de pesquisa Aya-Sankofa de Estudos Decoloniais e Afrocentrados em Educação Matemática e do projeto de extensão MatemÁfrica, ambos do Centro Acadêmico do Agreste (CAA) da UFPE. Os estudos trazem uma abordagem sociocultural da matemática e seu ensino, discutindo elementos próprios dela a partir desses contextos culturais. “Os trabalhos contribuem com outros olhares para uma educação matemática mais diversa e plural, valorizando os elementos da cultura popular do Nordeste em diálogo com propostas didáticas para a sala de aula de Matemática”, afirma Ivanildo Carvalho, professor do Núcleo de Formação Docente do CAA.

Foto: Divulgação

Trabalhos foram apresentados em evento na Unifesp

Conforme explica Ivanildo, que é coautor dos dois artigos, tanto a xilogravura como o teatro de mamulengos são exemplos de expressões culturais e artísticas presentes na cultura popular que podem ser abordadas nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática a partir da perspectiva da desconstrução de ideias que associam a disciplina a algo distante, frio e chato. “O legado matemático africano e afro-brasileiro desafia as narrativas tradicionais que, na grande maioria das experiências, foram excluídas e reescritas a partir de uma perspectiva eurocêntrica”, avalia o docente. “Reconhecer e valorizar este legado é superar uma construção histórica de práticas racistas e afirmar a influência da África, berço da cultura e da ciência nos mais diversos campos da matemática, tais como geometria, álgebra e aritmética”, completa.

O artigo “Geometria talhada: Considerações etnomatemáticas sobre a xilogravura nordestina” foi publicado no Journal of Mathematics and Culture, classificado como Qualis A4. O trabalho aborda os saberes etnomatemáticos presentes na xilogravura do Nordeste brasileiro, com foco nas transformações geométricas. Para tal, os autores entrevistaram um xilógrafo pernambucano de Bezerros, município do Agreste pernambucano. “A xilogravura, técnica de impressão milenar, utiliza uma matriz de madeira esculpida para criar imagens em relevo e pode ser explorada no ensino de transformações geométricas para ensinar conceitos como translação, rotação, reflexão e escala”, explica Ivanildo. “Além disso, a xilogravura requer um domínio das proporções e medidas que podem contribuir no estudo das razões ao examinar e produzir elementos que se ajustam na composição das obras”, completa o docente. Os demais autores do estudo são Anthonny de Vasconcelos e Tarcis Xavier da Silva, ambos do PPGECM, além de Edson de Sousa (PPGEdumatec).

Já o artigo “Africanidades, matemática e teatro de mamulengos: Uma encruzilhada de saberes e reflexões” apresenta discussões sobre ancestralidade e oralidade como dimensões das africanidades em uma proposta teatral que articula sabedorias afrodiaspóricas e a valorização do legado matemático africano por meio do teatro de mamulengos. O estudo analisou trechos narrativos do espetáculo teatral “MatemÁfrica: Raízes do voo da Sankofa e a potência do Boi-Bumbá”, destacando as encruzilhadas e cruzos (caminhos que se cruzam com outros) como potencializadores de propostas outras no campo da educação matemática.

“O artigo traz à tona elementos de como podemos nos ancorar nos brinquedos populares para falar de ciência e, em nosso caso, das contribuições científicas do povo africano no campo da Matemática”, afirma Ivanildo Carvalho. “Tais sabedorias podem contribuir com um ensino de Matemática numa perspectiva antirracista, quer seja na discussão das origens da Matemática e dos artefatos matemáticos produzidos em África; no teatro de mamulengos enquanto uma forma de resistência originada no chão das senzalas; e no reconhecimento da ciência produzida na cultura oral das sabedorias ancestrais”, explica. O trabalho integra o dossiê “Formação de Professores em Educação Descolonial Planetária Complexa”, publicado na Revista Internacional de Formação de Professores (RIFP), também classificada como Qualis A4. Tem ainda como autores o mestrando em Educação em Ciências e Matemática Anthonny de Vasconcelos e a doutora em Educação Matemática e Tecnológica Cristiane Rocha.

Os dois artigos foram apresentados pelo professor de Matemática Edson Carlos Sobral de Souza na 12ª Conferência Internacional de Educação Matemática e Sociedade (12th MES São Paulo), realizada em agosto na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Edson é membro do grupo Aya-Sankofa e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (PPGEdumatec) da UFPE.

Date of last modification: 15/09/2023, 14:19