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Ciência, soberania e democracia marcam abertura da 77ª Reunião Anual da SBPC
Autoridades condenam ameaças externas, valorizam a soberania nacional e destacam o papel da ciência na construção de um projeto de nação justo e democrático
Com informações do Jornal da Ciência/SBPC
A abertura da 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada neste domingo (13) no Teatro do Parque, no Recife (PE), foi marcada por pronunciamentos contundentes em defesa da soberania nacional, da ciência e da democracia. A recente ameaça de taxação das exportações brasileiras por parte do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio a um litígio envolvendo um de seus aliados, provocou reações enérgicas das autoridades e lideranças científicas presentes. O reitor da UFPE, Alfredo Gomes, participou da cerimônia. Na cerimônia, duas professoras eméritas da UFPE, Silke Weber e Tânia Bacelar, foram homenageadas.
O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, classificou o episódio envolvendo o presidente Trump como uma violação da soberania brasileira e lembrou o histórico da entidade na defesa da democracia. “A SBPC reuniu anteontem sua Diretoria e ontem seu Conselho, que, por unanimidade, decidiram manifestar seu repúdio mais veemente a tal ameaça à soberania nacional, assim como ao Estado de Direito”, afirmou. Para Renato Janine Ribeiro, a ciência é um dos instrumentos mais poderosos para o desenvolvimento econômico, social e a afirmação da soberania popular. Ele alertou para os riscos de bloqueios orçamentários e cortes no financiamento da pesquisa, enfatizando que ciência, tecnologia e inovação são essenciais para enfrentar ameaças, superar a miséria e construir uma sociedade mais justa. “É vital que o governo brasileiro reconheça o papel da ciência para garantir os avanços necessários ao nosso desenvolvimento como nação e como povo”, disse.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, endossou a defesa da soberania, afirmando que ciência, tecnologia e inovação são pilares da independência nacional. “Aqui estamos do lado do Brasil, trabalhando para que essa nação seja cada vez mais independente, altiva e próspera, com um povo feliz e orgulhoso de seu país.” Para ela, soberania tecnológica deve estar no centro do debate: “O conhecimento e o avanço científico são o que nos empodera e garantem o nosso futuro.”
A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, foi ainda mais incisiva ao conclamar o público: “Vamos às ruas dizer: o Brasil é soberano!”. Já o presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinícius Soares, destacou que não se pode negociar quando estão em jogo a democracia e a soberania nacional. Ele propôs a construção de uma ampla frente social em defesa da ciência e da educação e anunciou uma paralisação nacional dos pós-graduandos em 12 de agosto, com ações concentradas em Brasília. Soares defendeu também a punição sem anistia aos responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, a taxação de grandes fortunas, a redução da jornada de trabalho, a mudança da política fiscal para retirar ciência e educação do arcabouço fiscal, e o uso do fundo social do pré-sal para esses setores. Segundo ele, tais medidas permitiriam dobrar os recursos para o CNPq, Capes e universidades, além de garantir novos reajustes e direitos previdenciários para os pós-graduandos.
A 77ª Reunião Anual da SBPC está sendo realizada ao longo desta semana, até sábado (19), no Campus Dois Irmãos, da UFRPE. São mais de 200 atividades totalmente gratuitas e abertas a todo o público, entre conferências, mesas-redondas, exposições e atrações científicas interativas para todas as idades. Confira a programação neste link e participe.
ORÇAMENTO - A presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires de Carvalho, reconheceu os desafios e afirmou que o Ministério da Educação tem promovido a recomposição do orçamento da agência, com aumento no número e no valor das bolsas desde 2023. Segundo ela, após anos de queda, o número de ingressantes na pós-graduação voltou a crescer em 2024, com expectativa de novos avanços em 2025. “A educação superior é um poderoso instrumento de mobilidade social e de progresso científico. Afinal, não há soberania sem ciência”, afirmou.
O novo presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luiz Antônio Rodrigues Elias, afirmou que o atual contexto representa uma oportunidade histórica para fortalecer a centralidade da ciência e da tecnologia no governo. Elias lembrou os 40 anos de atuação no MCTI, ministério criado a partir de lutas encabeçadas pela SBPC, e citou Celso Furtado para destacar que o futuro precisa ser construído a partir da inovação e do conhecimento. “Esse é o desafio: transformar a ciência em política pública e garantir um Brasil mais soberano e inclusivo.”
A reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Maria José de Sena, anfitriã do evento, defendeu a descentralização dos investimentos em ciência e tecnologia, historicamente concentrados no Sul e Sudeste. “Falar em desenvolvimento sem garantir financiamento à pesquisa, estrutura para a formação de recursos humanos e valorização da comunidade acadêmica é apenas retórica”, afirmou. Ela classificou o tema da reunião, “Progresso é ciência em todos os territórios”, como um gesto pedagógico e político. “Estamos aqui para mostrar que o conhecimento precisa chegar a todas as comunidades, escolas e regiões do país.”
Representando o Governo de Pernambuco, a vice-governadora Priscila Krause também ressaltou o papel estratégico da ciência e da educação no desenvolvimento do estado. “A ciência é tratada como prioridade de Estado, não como apêndice, mas como motor, como centro, como alicerce”, afirmou. O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, por sua vez, homenageou os cientistas que contribuíram para o crescimento de Pernambuco como um polo de excelência científica. “Temos um grande futuro para a ciência do Nordeste”, declarou.
Encerrando a solenidade, a ministra Luciana Santos destacou o papel histórico da Reunião Anual da SBPC como espaço de resistência e avanço do conhecimento. “Este é um ambiente privilegiado para reafirmarmos nosso compromisso com uma ciência que sirva a um projeto de nação baseado em justiça social, desenvolvimento sustentável e soberania.” Ela reforçou que diversidade e inclusão não são apenas questões de justiça, mas também de excelência. “A pluralidade de olhares e saberes produz uma ciência melhor. Não haverá desenvolvimento sem soberania tecnológica, nem justiça social sem democratização do saber.”
HOMENAGENS E PREMIAÇÃO - A cerimônia de abertura também foi marcada por homenagens a três cientistas brasileiras de destaque: Lúcia Carvalho Pinto de Melo, Silke Weber e Tânia Bacelar, estas duas professoras eméritas da UFPE. Engenheira química e pesquisadora aposentada da Fundação Joaquim Nabuco, Lúcia Melo teve papel relevante na formulação de políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação. Silke Weber, pedagoga com formação internacional e ex-secretária estadual de Educação, dedicou sua carreira ao planejamento da educação e à formação docente. Já Tânia Bacelar, economista e socióloga formada pela Universidade Paris/ Panthéon-Sorbonne, se destacou na promoção do desenvolvimento regional com justiça territorial, atuando em posições estratégicas nos governos federal e estadual. A SBPC e a UFRPE ressaltaram o poder transformador das trajetórias das três homenageadas.
Também foi entregue o 45º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, concedido pelo CNPq ao físico Luís Carlos Bassalo Crispino, professor titular da Universidade Federal do Pará (UFPA) e referência em física teórica, com pesquisas sobre buracos negros, campos quânticos e radiação de cargas aceleradas. Luís Crispino também é reconhecido por seu trabalho de divulgação científica, que lhe rendeu o Prêmio Clio de História (2007) e o Prêmio Ernest Hamburger (2020). Ao receber o prêmio das mãos da ministra Luciana Santos e do presidente do CNPq, Ricardo Galvão, destacou a indissociabilidade entre ciência e política. “A ciência é extremamente importante, mas não podemos deixar de associá-la à política, porque é assim que transformamos a realidade desse país.”
A sessão solene de Abertura está disponível aqui.
Apoiadores:
A 77ª Reunião Anual da SBPC é uma realização da UFRPE e da SBPC, que tem como sócios institucionais: Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM).
Patrocínio: Banco do Nordeste (BNB), Baterias Moura, Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros (Suape), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
*Arte em foto de Lucas Manoel/UFPE