Cultura

Navegação Navegação

Notícias Notícias

Voltar

Pesquisa da UFPE revela impactos das flutuações do nível do mar no litoral nordestino durante o Holoceno

As análises revelaram que as rochas estudadas têm menos de 8 mil anos e se formaram em um ambiente tropical de águas quentes

Petra Pastl

Pesquisadores do Departamento de Oceanografia (DOcean) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) divulgaram estudo que oferece uma análise detalhada dos efeitos locais das variações do nível do mar na costa nordeste do Brasil durante o Holoceno – período geológico iniciado há cerca de 11 mil anos e que se estende até os dias atuais. Intitulado “Beachrocks of the Northeast of Brazil: local effects of sea level fluctuations in a far-field during in Holocene” (“Beachrocks do Nordeste do Brasil: efeitos locais das flutuações do nível do mar em uma região afastada durante o Holoceno”, em tradução livre), o estudo publicado na revista Ocean and Coastal Research tem autora dos professores Antonio Vicente Ferreira Júnior e Tereza Cristina Medeiros de Araújo, do DOcean; João Marcello Ribeiro de Camargo, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Oceanografia (PPGO) da UFPE; e Karl Stattegger, da Universidade de Kiel (Alemanha) e Universidade Adam Mickiewicz (Polônia).

O objetivo principal da pesquisa foi compreender como as flutuações do nível do mar durante o Holoceno influenciaram a formação e a distribuição dos beachrocks (arenitos de praia) na costa de Pernambuco. Esses afloramentos rochosos, formados pela cimentação de areias de praia, são indicativos valiosos das condições ambientais passadas e das mudanças no nível do mar. Para investigar esses fenômenos, a equipe de pesquisadores realizou uma série de análises petrológicas, isotópicas e geocronológicas em amostras de beachrocks coletadas em diversos pontos da costa.

As análises revelaram que as rochas estudadas têm menos de 8 mil anos e se formaram em um ambiente tropical de águas quentes, características do litoral de Pernambuco. As rochas são compostas predominantemente por quartzo, cimentadas por calcita rica em magnésio, com presença de bioclastos marinhos. Essas formações apresentam sinais de compactação, fraturas e dissoluções, evidências que indicam um processo de cimentação em zonas intertidais – áreas costeiras que ficam expostas ao ar durante a maré baixa e submersas durante a maré alta –, onde a interação entre a água doce e a água do mar desempenhou um papel crucial.

Os resultados do estudo permitiram identificar três fases distintas de flutuação do nível do mar ao longo do Holoceno: uma fase inicial de rápida elevação do nível do mar, seguida por um período de estabilização em um nível máximo de dois a três metros acima do nível atual, e, finalmente, uma fase de regressão. Essa última fase de queda do nível do mar foi particularmente significativa, pois levou à exposição e formação das características erosivas atuais dos beachrocks na área estudada.

Além de documentar essas flutuações, o estudo também destacou a importância dos beachrocks como registros geológicos que podem ser utilizados para reconstruir as variações do nível do mar ao longo do tempo. As análises isotópicas, que mediram a composição de carbono e oxigênio dos cimentos carbonáticos, indicaram que esses processos de cimentação ocorreram em um ambiente marinho raso, sob a influência de águas doces meteóricas. Essas descobertas fornecem dados importantes para modelar cenários futuros de elevação do nível do mar, um tema de grande relevância diante das mudanças climáticas globais.

Os pesquisadores concluíram que, em cenários futuros de aumento do nível do mar, a costa de Pernambuco pode sofrer mudanças geomorfológicas significativas, o que representa um grande desafio para as comunidades costeiras. Esse estudo não apenas amplia o conhecimento sobre as flutuações do nível do mar na região, mas também oferece uma base sólida para futuras pesquisas sobre a dinâmica costeira e as respostas do ambiente a mudanças climáticas.

Data da última modificação: 15/08/2024, 11:34