O professor Anderson Gomes, do Departamento de Física e do Programa de Pós-Graduação em Física da UFPE, colaborou com a pesquisadora Anne L’Huillier no período entre 1988 e 1990, numa parceria internacional Brasil-França, quando ele esteve um mês por ano no Centro de Energia Atômica Paris-Saclay. “Nestes períodos, trabalhei na montagem do sistema laser que foi a base para a geração de altos harmônicos (a partir do qual gera pulsos de atosegundos) e, depois, trabalhei em um experimento usando o sistema laser desenvolvido para gerar até o 53º harmônico (recorde na época) a partir do laser fundamental, usando um gás nobre. Estas interações deram origem a dois artigos com ela e equipe, no qual sou coautor: um sobre o equipamento em si e outro sobre seu funcionamento”, diz ele.

A pesquisadora atuou no Centro de Energia Atômica Paris-Saclay, onde ela trabalhava antes de se transferir para a Universidade de Lund, na Suécia, em que está até hoje. “Ela já tinha concluído o doutorado. Era física teórica, frequentava o laboratório e queria aprender o máximo possível das técnicas de laboratório. Como eu trabalhava com lasers e passava o tempo todo no laboratório, nós nos encontrávamos com frequência por lá”, diz o físico, destacando a parceria na elaboração dos estudos publicados.

Segundo o físico, que também é membro da Academia Brasileira de Ciências, o Brasil já conta com laboratórios nacionais (um deles na UFPE, no DF) que também têm potencial para fazer medições do comportamento de partículas na escala dos atosegundos (quintilionésimos de segundo), façanha que se tornou possível graças aos trabalhos da francesa e dos outros ganhadores do Nobel da área neste ano. 

Para ele, o que falta para que o Brasil ganhe premiação semelhante é a continuidade nas pesquisas. “Ela continua batalhando nisso sem parar desde os anos 1980. Não é algo que você consegue fazer florescer em um, dois, três anos. Essa constância, com investimento em pessoas, precisa se manter independentemente de mudanças de governantes”, destaca ele.