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Pesquisadores da UFPE descobrem nova espécie de fungo em Pernambuco

Até agora, não havia registros em Pernambuco, seja em matas naturais ou em agroflorestas

Uma nova espécie de fungo foi descoberta em Pernambuco. Nomeada Gibellula agroflorestalis, essa espécie se destaca por parasitar aranhas e por ser a primeira do gênero Gibellula encontrada em sistemas agroflorestais (SAFs) no mundo. A descoberta está registrada no artigo "Untangling a web of spider fungi: Gibellula agroflorestalis (Hypocreales, Ascomycota), a new species of spider parasite from Brazil", publicado, este mês, na revista científica Journal of Invertebrate Pathology, e o trabalho tem autoria de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Os fungos do gênero Gibellula são conhecidos por infectar exclusivamente aranhas, mas até agora não havia registros desse grupo em Pernambuco, seja em matas naturais ou em agroflorestas. No estudo, foram encontrados 17 isolados de aranhas parasitadas pelo fungo, distribuídos em três áreas de sistemas agroflorestais e em um fragmento de Mata Atlântica nos municípios de Abreu e Lima (Grande Recife) e Paudalho (Zona da Mata).

Gibellula agroflorestalis apresenta um tapete micelial branco cobrindo a aranha hospedeira, com um ou dois sinêmios brancos emergindo do abdômen. Seus conidióforos verrucosos a globosos diferem em comprimento em relação a outras espécies do gênero. A principal distinção está nas vesículas espatuladas a coniformes, enquanto a maioria das espécies possui vesículas globulares a subglobosas”, descreve Julie Erica da Rocha Alves, primeira autora do artigo, doutoranda em Biologia de Fungos e autora da dissertação de mestrado que deu origem a esta pesquisa. Outro diferencial é o formato dos conídios [esporos assexuais], que são lacrimoides a subclavados. A análise do fungo foi realizada por meio de métodos de coleta e preservação, caracterização morfológica, além de análises  moleculares e filogenéticas.

A presença do novo fungo nesses ambientes reforça a importância ecológica dos sistemas agroflorestais. Os SAFs são formas sustentáveis de produção agrícola que combinam árvores, cultivos e, às vezes, animais, promovendo maior biodiversidade e equilíbrio ecológico. A ocorrência desse fungo nesses locais sugere que esses sistemas podem oferecer condições ambientais semelhantes às das matas naturais, favorecendo a manutenção de inimigos naturais de pragas e contribuindo para a preservação dos ecossistemas.

“O novo fungo Gibellula agroflorestalis desempenha um papel fundamental no equilíbrio ecológico dos sistemas agroflorestais e da mata nativa, atuando como um agente natural de controle biológico de aranhas. Embora as aranhas sejam predadoras importantes na regulação de insetos, suas populações também precisam ser controladas para manter o fluxo de energia e a estabilidade do ecossistema”, explica Patrícia Vieira Tiago, uma das autoras do artigo e professora do Departamento de Micologia do Centro de Biociências (CB). Também assinam o artigo Ana Carla da Silva Santos, pós-doutoranda no Departamento de Micologia (CB); Sheila Karine Belo Pedroso, mestranda em Biologia de Fungos; e Roger Fagner Ribeiro Melo, professor do Departamento de Micologia (CB).

O nome Gibellula agroflorestalis foi escolhido em homenagem às agroflorestas, destacando a relevância desse modelo de uso da terra para a manutenção da biodiversidade. Além de enriquecer o conhecimento sobre fungos entomopatogênicos (micro-organismos que infectam insetos e outros artrópodes), essa descoberta reforça o papel das agroflorestas como ambientes que favorecem interações ecológicas complexas e sustentáveis. Essa descoberta demonstra que os SAFs podem atuar como refúgios para espécies ainda desconhecidas, fortalecendo seu papel na preservação ambiental.

Outro importante aspecto deste estudo foi o envolvimento de agricultores, que passaram a compreender e reconhecer esses organismos na vegetação. O aprendizado adquirido por meio do acompanhamento das coletas permitiu que eles percebessem a riqueza biológica presente nos sistemas produtivos.

Data da última modificação: 19/02/2025, 12:48

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