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UFPE lança Núcleo de Políticas de Educação das Relações Étnico-Raciais

Lançamento foi realizado hoje (20) à tarde, em evento virtual que incluiu a posse de sua coordenadora, professora Maria da Conceição dos Reis

“Precisamos nos afrocentrar, saber das nossas origens, saber quem nós somos.” A afirmação é da professora Maria da Conceição dos Reis, coordenadora do Núcleo de Políticas de Educação das Relações Étnico-Raciais (Núcleo ERER) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O novo núcleo foi lançado na tarde de hoje (20), em solenidade virtual, com a participação de diversos representantes da sociedade civil.

Para a coordenadora, a institucionalização do núcleo é um primeiro passo para a promoção da igualdade e para uma gestão antirracista da Universidade. Ela afirma que o trabalho será coletivo e contará com um comitê de ações afirmativas unindo diversos grupos. “É preciso agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo e fazer isso o tempo todo, como diz Angela Davis”, disse a professora.

A procuradora Bernadete Figueiroa, fundadora do GT Racismo do Ministério Público de Pernambuco, afirmou que está em diálogo constante com a UFPE desde o início do GT, em 2002. “O racismo se manifesta de tantas formas que precisa ser tratado de uma maneira transversal”, explicou. “A UFPE está pronta para entrar nessa descolonização, partindo para essa abertura de acolhimento, enfrentamento e desconstrução.”

A cônsul da Costa do Marfim em Recife, Giovanna Pessoa, destacou a importância da cultura do povo africano, com sua grande diversidade, na formação da cultura brasileira, frisando a necessidade da luta contra o racismo estrutural. Já o defensor público federal André Carneiro se colocou à disposição para firmar parcerias na luta antirracista, pois a Defensoria Pública da União também conta com um grupo de trabalho para esse fim.

Primeira conselheira negra da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pernambuco, Manoela Alves lembrou que a academia é um espaço de saber, mas também de poder. “Precisamos de mais pessoas negras fomentando debates e produções científicas para ter nossas narrativas visibilizadas e nossas existências valorizadas”, afirmou. “Mudar pela educação é mudar na raiz do problema, plantando aqui para colher mais à frente.”

O professor José Bento Rosa, fundador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (Neab) da UFPE, fez um histórico do protagonismo da luta dos Neabs em todo o Brasil. O professor Josebias José dos Santos, da Unidade de Educação das Relações Étnico-Raciais da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, lembrou a relação da pesquisa acadêmica com o “chão da escola” e o desafio de estabelecer parcerias institucionais.

Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, o professor Kléber Vieira defendeu a necessidade de se pensar como inserir as cotas raciais nos protocolos internos. Estudante de Pedagogia e membro do Laboratório de Educação das Relações Étnico-Raciais (Laberer), Yure Gonçalves foi o primeiro de sua família a entrar em uma universidade federal. “Esse dia é fruto da demanda do povo negro e indígena”, disse.

Para Marta Carmelita Bezerra de Almeida, do Movimento Negro Unificado, avançar na luta antirracista é dar condições aos estudantes negros não só de terminar suas graduações, mas também de ser reitores e reitoras. “A reparação é a gente ampliar a diversidade”, frisou Marta, que iniciou sua fala recitando a música “Kizomba, Festa da Raça”, de autoria de Martinho da Vila.

A professora Claudilene Maria da Silva, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), coordena a Rede Erer Nordeste, formada por profissionais da Pedagogia. “A responsabilidade para construir políticas e práticas não é apenas do núcleo, mas da comunidade acadêmica”, relembrou, falando sobre a reeducação das relações sociais, pedagógicas e acadêmicas.

O vice-reitor Moacyr Araújo afirmou que haverá discussões sobre políticas afirmativas na pós-graduação stricto sensu. “O racismo é a origem de todos os abismos brasileiros”, afirmou. “Precisamos unir forças e promover a igualdade racial”, completou o reitor Alfredo Gomes, informando que há 54 disciplinas, em diversas áreas, sobre a temática racial na UFPE. “É um indicativo das mudanças que a Universidade vem operando”, disse.

Data da última modificação: 23/11/2020, 17:25