Por Petra Pastl

O projeto de extensão UFPE no Meu Quintal, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que, desde 2017, tem se dedicado a levar conhecimento e experiências universitárias diretamente para comunidades no interior de Pernambuco, anunciou uma parceria com o Programa Trilhas Potiguares, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que engajou 1.602 pessoas em 91 ações realizadas do dia 31 de julho a 4 deste mês, no município de Tenente Laurentino Cruz, no Rio Grande do Norte. A colaboração tem como objetivo ampliar a troca de conhecimentos e o impacto social positivo, abrindo portas para futuras parcerias interinstitucionais.

Foto: Divulgação

Equipes da UFRN e da UFPE realizam atividades em Tenente Laurentino Cruz (RN)

Mas essa não foi a primeira vez que os dois projetos trabalharam juntos, a colaboração com o Programa Trilhas Potiguares teve início em janeiro deste ano, em 2023, quando uma equipe formada por oito estudantes e duas professoras da UFRN se juntou ao projeto UFPE no Meu Quintal, na operação realizada no município de Sertânia, no Sertão pernambucano, a 312 quilômetros do Recife. Essa experiência conjunta marcou o início de um intercâmbio educacional valioso entre as duas instituições. Dessa vez, em Tenente Laurentino Cruz (RN), a ação foi de maior porte, com a participação de 225 estudantes do Rio Grande do Norte e 36 pessoas nas coordenações do município.

Coordenado pelos docentes do Centro Acadêmico de Vitória (CAV), em Vitória de Santo Antão, professores José Eduardo Garcia e Adriano Bento; pelos técnicos administrativos em Educação da Coordenadoria de Ensino de Ciências do Nordeste (Cecine) Sérgio Matias da Silva, e do CAV, Wkellison Miguel; e pela doutoranda em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da UFPE Jéssica Correia, o projeto UFPE no Meu Quintal tem desempenhado um papel vital na promoção da educação popular e no fortalecimento das comunidades locais. Até o momento, nove operações foram realizadas no total, beneficiando mais de 15 mil pessoas e envolvendo mais de 800 estudantes da graduação.

O professor José Eduardo Garcia, um dos coordenadores do projeto, enfatizou a importância dessa parceria, explicando que a UFRN e a UFPE compartilham valores semelhantes, “visando promover a educação e a pesquisa como ferramentas para o desenvolvimento sustentável”. Ele destaca que essa colaboração vai além da troca de conhecimentos, incluindo também a possibilidade de cooperação em futuros projetos envolvendo outras instituições de Ensino Superior do Nordeste. Pra ele, “com o compromisso de proporcionar conhecimento acessível e transformador, o projeto UFPE no Meu Quintal e o programa Trilhas Potiguares da UFRN estão abrindo caminhos para um futuro mais brilhante e colaborativo para a educação no Nordeste do Brasil”.

O sucesso da parceria é evidenciado pelo fato de que a colaboração entre a UFRN e a UFPE não ficou restrita a duas operações. Pelo contrário, foi formalizado um Acordo de Cooperação entre as duas instituições para promover a continuidade dessa aliança estratégica. O projeto UFPE no Meu Quintal trabalha com a perspectiva de expansão e parceria com outras instituições, inclusive do exterior, para conferir à extensão o mesmo caráter colaborativo e interinstitucional que já existe e é bem consolidado na pesquisa. O alcance do UFPE no Meu Quintal, inclusive, já foi além das fronteiras do Brasil. “Em 2022, realizamos nossa primeira operação internacional, na cidade de Cabo Haitiano, no Haiti, em parceria com a Universidade do Estado do Haiti (Université d'État d'Haïti) e uma ONG norte-americana. Em setembro, devemos realizar uma ação no Paraguai, em parceria com a Universidade da Integração Latino-Americana (Unila) de Foz do Iguaçu”, explana o professor José Eduardo Garcia.

Para José Eduardo, o UFPE no Meu Quintal tem a capacidade de ultrapassar os muros da Universidade e os alunos que participam dele voltam totalmente transformados. “O projeto é uma grande ação de extensão baseada na educação popular e que tem como um dos princípios fundamentais a autonomia dos estudantes. As propostas de ação (cursos, palestras e capacitações) são inteiramente concebidas e executadas por estudantes de graduação. A ideia é de ultrapassar os muros da academia levando conhecimento e experiências da UFPE diretamente para a população do interior que tem pouco acesso à Universidade, mas também e tão importante quanto, trazer da comunidade os saberes populares, experiências e expectativas que retroalimentam a vida e a ação universitária. Os estudantes que participam dessa vivência retornam transformados e com grande desejo de se tornarem de fato agentes transformadores da sociedade e de suas próprias realidades”, explica.

Depoimentos

“Participar do projeto UFPE no Meu Quintal, principalmente agora nessa edição, que foi em parceria com o Trilha Potiguares, foi de suma importância para a minha formação acadêmica. É importante também sair da Universidade, desse olhar mais teórico e poder explorar novos lugares com novas pessoas, colocando a educação popular em prática, havendo essa troca, esse viés de conhecimento onde estou compartilhando o que eu sei, mas eles também partilham o que eles sabem. Essa experiência em Tenente Laurentino me proporcionou conhecer profissionais que amam a Educação, que são apaixonados pelo educar, principalmente a educação inclusiva, partilhando alguns conhecimentos acerca do autismo, de alguns métodos que facilitam a aprendizagem de crianças autistas – a área de pesquisa onde atuo. Eu saí com novas perspectivas, com novos saberes. E isso impacta muito, principalmente na formação acadêmica. Poder relacionar a teoria com a prática, ver que nada é estático, que a gente vai se flexibilizando, que cada lugar vai ter suas necessidades, cada lugar tem a sua forma, à sua maneira, e poder partilhar isso foi muito importante”, explanou a estudante do curso de Pedagogia da UFPE Daniella Ferreira Cordeiro, 6º período, 21 anos.

“Participar de um projeto como esse é uma sensação de retribuição para a sociedade muito grande, de dar de fato uma devolutiva, de contribuir para a sociedade que a gente acredita, que a gente procura. Eu faço parte do curso Serviço Social da UFPE, e viver essa experiência, para mim, foi o começo da vivência do ciclo que é o tripé da universidade pública, com extensão, pesquisa e ensino. Eu já tinha vivido a experiência da pesquisa e do ensino, faltava somente a extensão. E o UFPE no Meu Quintal foi uma porta que me abriu várias possibilidades. É muito bom estar na ponta, estar no contato com a base que é a população, fazer essa educação popular e levar adiante o legado de Paulo Freire. E esse tipo de experiência é ainda bastante potencializado quando a gente encontra, na extensão, oportunidades de fazer parcerias com outras universidades, como é o caso da UFRN, com projetos estruturados. Ir para campo, que, no caso, é a comunidade, contar com a equipe, bastante variada de cursos de educação, de artes, das ciências exatas, das ciências da natureza, das ciências humanas, ciências sociais aplicadas, que é o Serviço Social, é de suma importância, porque prepara e potencializa a nossa atuação profissional para quando tivermos concluído a graduação”, explicou o estudante do curso de Serviço Social da UFPE Eduardo Pontes, 7º período, 22 anos.

Mais informações
Professor José Eduardo Garcia
joseeduardo.garcia@ufpe.br
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