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Professor Ricardo Galvão, da USP, destaca importância da ciência no contexto das mudanças climáticas

No Agenda UFPE de sexta-feira (6), o reitor Alfredo Gomes conversou com o docente e físico, ex-presidente do Inpe

Uma aula! Foi assim a participação do físico, engenheiro e professor da USP Ricardo Galvão na 4ª edição do Agenda UFPE, evento realizado na última sexta-feira (6) com o tema “Ciência e mudança climática”. O vídeo está disponível no canal da UFPE no YouTube. Como cientista, membro da Academia Brasileira de Ciência e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Galvão partiu de evidências para comprovar o equívoco que incorre o governo brasileiro ao propagar teorias negacionistas quanto ao aquecimento global. “Em 2018, ainda antes da posse do presidente Bolsonaro, o seu chanceler Ernesto Araújo declarou que a questão da mudança climática era um complô marxista, ao que o respeitado jornal inglês The Guardian afirmou que, com esse tom, o Brasil iria perder o papel de liderança internacional na questão”, relembrou.

Com base em estudos que inauguraram a paleoclimatologia, o palestrante afirmou que há três efeitos na órbita da Terra responsáveis pela variação da temperatura no nosso planeta e, segundo ele, é daí que surge o argumento de que o aquecimento é um fenômeno natural. “Mas, devemos atentar que a escala de tempo na variação natural é da ordem mínima de 40 mil anos, enquanto que hoje, precisamente da década de 1970 para cá, estamos vendo uma anomalia da temperatura da Terra, que sobe numa taxa de 18ºC por década”, ressalvou. Galvão complementou: “É de se destacar que entre os anos 1880 e 1900, quando se começou a aferir essa variação de temperatura, o homem promoveu a revolução industrial e iniciou o uso de combustível fóssil.”

Para o professor, que apontou algumas personalidades de fora da política também avessas à tese da Terra em acelerado processo de aquecimento – como exemplo Ivar Giaever, Nobel da Física em 1973 –, um das razões que os críticos têm para não reconhecer o aquecimento global não é propriamente o aquecimento global; “na verdade, eles estão se recusando a admitir o efeito antrópico do aquecimento global”. Para os interessados em aprofundar conhecimentos acerca do tema, Galvão recomendou a leitura do livro do pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Kerry Emanuel, “What We Know about Climate Change”, da Updated Edition.

FALSO DILEMA – A fim de rebater o argumento de quem defende o desmatamento das matas e florestas como única forma de incrementar a economia, para usar as terras com agricultura e pasto, o físico da USP mostrou um gráfico que revela não ser incompatível a preservação da natureza com desenvolvimento econômico. Tendo como exemplo a situação da Amazônia brasileira, dados colhidos pelo pesquisador Paulo Barreto, da ONG Imazon, sobre a taxa de desmatamento e a produção agrícola no Amazonas são postos em cruzamento. “De 2005 a 2010, quando cai drasticamente a taxa de extração de árvores na área, a produção agrícola no Amazonas apresenta elevação também considerável”, analisou Ricardo Galvão; e, “quando os produtores perceberam que o Governo estava determinado a coibir o desmatamento, começaram a desenvolver novas tecnologias para aumentar a produção agrícola”, atestou.

Quanto à relevância da geração de conhecimento científico nacional para se abordar o problema da mudança climática, o pesquisador convidado afirmou que os dados colhidos e analisados pelo Inpe – “duramente atacados por este Governo” – foram utilizados como base de pesquisas na Europa e todos foram ratificados. Também como exemplo da qualidade científica dos estudos brasileiros sobre o tema, Galvão citou duas pesquisas de autoria nacional publicadas na prestigiosa revista Science, Long-term forest degradation surpasses deforestation in the Brazilian Amazon e Persistent collapse of biomass in Amazonian forest edges following deforestation leads to unaccounted carbon losses. “Apesar de todas as dificuldades, a ciência brasileira tem reagido com hombridade e com trabalhos de altíssimo nível”, destacou.

AGENDA UFPE – O Agenda UFPE consiste em uma série de encontros virtuais promovidos pela Universidade para debater temas globais como sustentabilidade, educação, política, economia, cultura e desenvolvimento. Ao abrir esta edição, o reitor Alfredo Gomes e o vice-reitor Moacyr Araújo pontuaram sintonia da pauta da UFPE com essas questões abordadas pelo físico Ricardo Galvão. “Implementamos a política de diversificação da matriz energética para nossos campi com mais três usinas fotovoltaicas a fim de dar outra perspectiva de desenvolvimentos institucional e fortalecimento da Universidade”, afirmou Gomes. Outra medida nesse mesmo sentido, apontada por Araújo, é o projeto de revitalização do Riacho do Cavouco, no Campus Recife.

Data da última modificação: 09/11/2020, 18:36