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Professor da UFPE expõe em Beirute relações entre patrões e empregadas domésticas

Exposição “Suíte Master Quarto de Empregada” ficará em cartaz na embaixada brasileira e é a primeira participação internacional do docente e fotógrafo José Afonso Júnior

Da assessoria do evento

Autor de uma pesquisa visual que consumiu mais de três anos de trabalho e cujo objetivo foi esmiuçar as contradições das classes média e alta brasileiras, o jornalista, fotógrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco José Afonso Silva Júnior faz sua primeira exposição internacional. A mostra fotográfica “Suite Master Quarto de Empregada” está em cartaz na embaixada do Brasil em Beirute, capital do Líbano, até o dia 28 deste mês. A exposição começou no dia 28 de junho. O trabalho do fotógrafo está disponível no site da exposição

Ele fotografou, entre 2017 e 2020, como o título da mostra sugere, os ambientes de casas e apartamentos da Região Metropolitana do Recife (indo da classe média baixa até a mais abastarda) e não se limitou a registrar apenas imagens, mas diálogos, acordos (inclusive os velados) e situações diversas. 

Professor do Departamento de Comunicação (DCOM), José Afonso Júnior diz que recebeu o convite para expor na embaixada por meio do Instituto Guimarães Rosa (ligado Ministério das Relações Exteriores), cujo objetivo é elaborar diretrizes de política externa brasileira no âmbito das relações culturais e educacionais. Ele observa que, ainda por que por razões bem diversas, há uma certa conexão entre a realidade do trabalho doméstico no Brasil e no Líbano. “Lá, por conta da guerra civil na Síria – país vizinho e com uma cultura muito parecida –, muitas mulheres sírias fogem e se refugiam no Líbano. E elas só encontram oportunidades em residências cujas relações trabalhistas são tão precárias como as que muitas vezes vemos aqui”, compara.

A ideia do projeto surgiu a partir da PEC das Domésticas, em 2015, legislação que assegurou e ampliou os direitos trabalhistas dessa categoria profissional, equiparando-a com os demais trabalhadores do mercado. “A grande ironia é que a maior parte das pessoas estava bem mais preocupada com o impacto financeiro da nova lei, já que o aumento dos encargos trabalhistas era certo, do que perceber que até então estavam reproduzindo processos históricos que remontavam e remontam, ainda hoje, à escravidão”, detalha.

Ao retratar essa realidade brasileira, o fotógrafo reconhece que o tema acaba remetendo, ainda que involuntariamente à obra do sociólogo Gilberto Freyre, o clássico “Casa Grande & Senzala”. Mas pondera que, em que pese, e muito, o entendimento no tempo atual e a disposição dos espaços como um prolongamento de relações coloniais e escravocratas, ele procurou ter a devida cautela no conjunto das imagens no sentido de não repetir o tom gilbertiano.

De fato, no trabalho de José Afonso, nas palavras do curador da exposição, o também fotógrafo, pesquisador e professor da UFMG Eduardo Queiroga. “nas cenas captadas das suítes e dos quartos de empregada, podemos ver ali a tensão que apoiou essa pesquisa, a fissura social e as ideologias que agem pela manutenção do status quo”. E conclui: “Aponta para cartografias sedimentadas na nossa estrutura social, repletas de injustiças, mas invisibilizadas pela naturalização cotidiana de nossas práticas.

Data da última modificação: 04/07/2023, 13:56