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Pesquisadores da UFPE analisam prioridades no primeiro ano de governo Lula e Bolsonaro

O estudo foi coordenado pelo professor Ernani Carvalho, coordenador do mestrado profissional em Políticas Públicas da UFPE

Levantamento inédito realizado por pesquisadores do Departamento de Ciência Política (DCP) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) analisou as agendas oficiais do primeiro ano do atual mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2023) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019). O estudo, intitulado “Mensurando acesso político: evidências da agenda presidencial no Brasil”, oferece uma nova perspectiva sobre as prioridades dos dois dirigentes no início de suas gestões, permitindo assim compreender como os presidentes brasileiros interagem com grupos de interesse, membros de seus ministérios e familiares.

Os resultados da análise indicam que, em termos de carga de trabalho, a quantidade de compromissos realizados por ambos os presidentes é semelhante. No entanto, enquanto Lula distribuiu seus compromissos de forma mais uniforme ao longo da semana, Jair Bolsonaro concentrou a maioria de suas atividades nos dias úteis, reduzindo substancialmente as atividades oficiais nos fins de semana. No que diz respeito às relações internacionais, Lula apresenta um nível mais elevado de engajamento com representantes de outros países, enquanto que Bolsonaro manteve uma rotina doméstica mais intensa, formada por encontros com a equipe de ministros e outras autoridades brasileiras.

Outros pontos destacados pelos pesquisadores mostram como Bolsonaro priorizou encontros com o setor empresarial e líderes religiosos, enquanto que Lula manteve um contato mais próximo com representantes sindicais. No que envolve a esfera familiar, Janja, esposa de Lula, apresenta um nível mais elevado de participação nos assuntos presidenciais oficiais em comparação com Michelle Bolsonaro. Já em relação aos filhos, os de Jair Bolsonaro eram presença frequente nos compromissos do ex-presidente, enquanto que Lula não registrou qualquer atividade envolvendo seus cinco filhos.

O estudo foi coordenado pelo professor Ernani Carvalho, coordenador do mestrado profissional em Políticas Públicas da UFPE e líder do grupo de estudos sobre Poder Judiciário, Política e Sociedade. “Os dados mostraram inicialmente que existe uma forte evidência de que as agendas dos presidentes estão vinculadas à lógica de funcionamento de suas bases”, explica Ernani. “Por exemplo, no caso do presidente Jair Bolsonaro, nós temos uma forte presença de grupos evangélicos e empresários; e no caso do presidente Lula, uma presença significativa de sindicatos e também de embaixadas e representantes internacionais, que mostram a vinculação do presidente com essa arena mais internacional”, completa o docente. Participaram ainda do levantamento os também docentes da UFPE Dalson Figueiredo e Lucas Silva, ambos do grupo de métodos de pesquisa em Ciência Política; além de Bhreno Vieira, doutorando em Ciência Política na UFPE e membro do grupo de pesquisa Instituições, Políticas e Governo.

ANÁLISE - Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram ferramentas de programação que permitiram extrair e filtrar os dados de forma automatizada. Foram criados algoritmos para coletar as informações das agendas oficiais, sistematizá-las e organizar o conteúdo a partir de palavras-chaves, como o nome das autoridades recebidas pelos presidentes. Foram consideradas todas as atividades registradas nas agendas oficiais de Lula e Bolsonaro, a exemplo de encontros com líderes, cerimônias, viagens (nacionais e internacionais) e transmissões ao vivo em redes sociais, entre outras.

Os registros analisados, porém, não refletem a totalidade das atividades presidenciais. Isso ocorre porque há compromissos dos dois presidentes, divulgados via imprensa ou redes sociais, que não foram incluídos nas agendas oficiais. Outro ponto observado pelos pesquisadores diz respeito à falta de padronização na forma como os compromissos foram inseridos na agenda de cada presidente, o que impede uma comparação mais detalhada do tempo que eles dedicaram aos respectivos compromissos oficiais.

Conforme explica Ernani Carvalho, a ideia é que a análise continue. “Desde a redemocratização, a ciência política tem avançado muito nos estudos sobre o Executivo, mas até então nós não tínhamos um estudo sobre a agenda presidencial. A ideia é, a partir desse primeiro trabalho, iniciar uma trajetória de pesquisa mais aprofundada das agendas dos presidentes, desde a redemocratização até os nossos dias, para acompanhar mais de perto como os grupos de pressão tiveram acesso aos presidentes durante esse período, se isso tem alguma vinculação com políticas públicas que foram implementadas e, de certa forma, mostrar a importância do acesso, da publicização e da transparência desses dados para a sociedade”, conclui o pesquisador.

Data da última modificação: 30/01/2024, 17:18