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Paleontólogos do Projeto Paleoantar publicam estudo com fósseis de plantas que coexistiram com dinossauros há milhões de anos

Entre os pesquisadores estão os doutorandos Edilson B. S. Filho (líder da pesquisa) e Cristian David Usma Cuervo, e a professora Flaviana Jorge de Lima (CAV)

Da assessoria do projeto

Os pesquisadores Edilson Bezerra dos Santos Filho (doutorando em Geociências na UFPE e docente da Universidade Regional do Cariri), Arthur S. Brum (Museu Nacional – UFRJ), Geovane A. Souza (Museu Nacional – UFRJ), Rodrigo G. Figueiredo (Ufes), Cristian David Usma Cuervo (doutorando em Geociências na UFPE), João H.Z. Ricetti (UFRGS), Cristine Trevisan (Universidade do Contestado), Marcelo Leppe (Antarctic and Patagonia Paleobiology Laboratory, Chilean Antarctic Institute - INACH), Juliana M. Sayão (Museu Nacional – UFRJ, foi docente da UFPE no período do estudo), Flaviana Jorge de Lima (coordenadora do Núcleo de Biologia do Centro Acadêmico de Vitória – CAV-UFPE), Gustavo R. Oliveira (UFRPE) e Alexander W. A. Kellner (Museu Nacional – UFRJ) apresentaram recentemente novos registros de interações inseto-planta do Cretáceo Superior na Ilha Nelson, Península Antártica. Os registros estão no artigo “First record of insect-plant interaction in Late Cretaceous fossils from Nelson Island (South Shetland Islands Archipelago), Antarctica”, publicado pelo periódico científico Anais da Academia Brasileira de Ciências.

Foto: Arthur Brum

Equipe do Paleoantar em campo na Ilha Nelson, Antártica, 2020

O conjunto de dados inclui 15 espécimes foliares da angiosperma Nothofagus sp., que preservaram vestígios da atividade de insetos. “O gênero Nothofagus é um elemento importante da paleoflora da Península Antártica durante o período Cretáceo, sendo, em algumas localidades, o fóssil mais comum em assembleias fossilíferas. Embora o estudo das interações inseto-planta no continente seja escasso, apresentamos registros inéditos dessa evidência para o Cretáceo Superior (Campaniano). Essas descobertas contribuem para uma compreensão aprimorada das relações ecológicas nos ecossistemas antárticos”, explica o professor Edilson Bezerra dos Santos Filho, da Universidade Regional do Cariri e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFPE, líder da pesquisa que envolve a colaboração de instituições brasileiras e chilenas.

Foto: Geovane Souza

Folha de Nothofagus fossilizada ainda na rocha onde foi encontrada, 2020

Os fósseis apresentados no estudo foram coletados na localidade Rip Point, na Ilha Nelson, durante o período de dezembro de 2019 a janeiro de 2020, durante a participação de pesquisadores do Paleoantar na Operantar 38. Os pesquisadores acreditam que, para além de contribuir para uma compreensão mais aprofundada do funcionamento dos ecossistemas, as evidências preservadas nas folhas possibilitaram a identificação da presença de insetos como um componente crucial das teias alimentares desses ecossistemas, há, aproximadamente, entre 80-70 milhões de anos atrás.

“A Ilha Nelson, embora tenha sido pouco explorada em comparação com outras regiões da Antártica, destaca-se como um local de significativa importância, especialmente para a paleobotânica. Isso ressalta a necessidade de desenvolver novas pesquisas nessa área”, afirma a professora Flaviana Jorge de Lima, do CAV-UFPE.

Folha fóssil com galhas (setas brancas) e mina (seta preta) e desenho esquemático

A Antártica é reconhecida como uma das últimas fronteiras do conhecimento científico, resultando em um aumento significativo nas visitas técnicas por pesquisadores de todo o mundo. Apesar do vasto potencial para investigações em diversas áreas da ciência, a complexidade de acessar o continente congelado continua sendo desafio substancial. Entre essas atividades, destaca-se o estudo de fósseis, as adaptações sofridas por esses organismos e as relações filogenéticas entre as diferentes espécies que habitavam o planeta. No período Cretáceo, a formação da Corrente Circumpolar Antártica, um dos fatores responsáveis pela glaciação do continente, ainda não havia ocorrido, resultando em um clima consideravelmente mais quente. 

“A Antártica, por exemplo, apresentava uma temperatura média em torno de 15ºC, o que permitia a formação de densas florestas habitadas por uma fauna diversa”, afirma o professor Gustavo Oliveira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco e orientador no Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFPE. Hoje, a Antártica é considerada como um sítio fossilífero de grande interesse para a paleontologia global.

O Paleoantar, coordenado pelo professor Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional da UFRJ, e em parcerias com diversas instituições brasileiras, é um dos projetos financiados pelo Programa Antártico Brasileiro. “O fato de o Brasil estar fazendo pesquisa pioneira na Antártica destaca o papel importante da nossa nação no cenário geopolítico internacional, no que diz respeito a conhecer o passado e o presente daquele continente. Ao mesmo tempo, coloca o nosso país no centro das tomadas de decisões que afetarão o futuro do continente branco, o qual pertence a toda a humanidade”, acrescenta a professora Juliana Sayão, vice coordenadora do projeto e participante da pesquisa. “Todos ficamos muito gratos ao CNPq pela renovação deste projeto, o que garantirá novas pesquisas por mais quatro anos”.

Mais informações
Professora Flaviana Jorge de Lima

flaviana.jorge@ufpe.br 

Data da última modificação: 14/12/2023, 14:26