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Mestrando e docente do Posneuro da UFPE publicam estudo sobre o efeito do resveratrol em paralisia cerebral

Caio Matheus Santos da Silva Calado é orientado pela professora Ana Elisa Toscano, coordenadora do Posneuro

Por Petra Pastl

O mestrando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento e pesquisador da Unidade de Estudos em Nutrição e Plasticidade Fenotípica (UENPF), ambos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Caio Matheus Santos da Silva Calado – que é psicólogo formado pela UFPE no ano passado –, publicou artigo junto com a professora Ana Elisa Toscano, que é sua orientadora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento (Posneuro), do Centro de Ciências Médicas (CCM), do Campus Recife, e equipe formada por pesquisadores da Universidade e instituições internacionais, sobre novas possibilidades para o tratamento da paralisia cerebral.

O estudo, intitulado “Resveratrol reduces neuroinflammation and hippocampal microglia activation and protects against impairment of memory and anxiety-like behavior in experimental cerebral palsy”, foi publicado na revista “Molecular Neurobiology”, pertencente à Editora Springer, que compõe também a revista “Nature”.

Segundo a professora Ana Elisa, o objetivo da pesquisa foi investigar possíveis agentes terapêuticos na atenuação das sequelas presentes em doenças perinatais, como a paralisia cerebral, que é a principal causa de disfunção crônica na infância, pois as condições ambientais desafiadoras no início da vida impactam diretamente no surgimento de doenças ou no tratamento das suas sequelas.

O estudo explora o uso do resveratrol, um polifenol com propriedades anti-inflamatórias, no tratamento de ratos com modelo experimental de paralisia cerebral. Os resultados demonstraram que o tratamento com resveratrol reduziu a neuroinflamação no hipocampo, uma área do cérebro essencial para a memória e o comportamento, e protegeu contra o prejuízo da memória e comportamentos semelhantes à ansiedade.

O pesquisador Caio Matheus explicou um pouco dos resultados da pesquisa: “Acredito que um dos pontos mais importantes da nossa publicação são os resultados que demonstram como a experiência adversa, no início da vida, pode impactar negativamente também processos cognitivos e comportamentais, em outras fases do desenvolvimento, como os prejuízos encontrados na memória episódica (aquela relacionada com o reconhecimento de coisas, pessoas, lugares etc.). Por outro lado, essa fase inicial da vida também é uma janela do desenvolvimento promissora, devido aos mecanismos plásticos, ou seja, à capacidade do organismo de se adaptar e de se modificar estar bastante presente nesse período. Assim, pode ser utilizada para reduzir ou prevenir as sequelas observadas em diversas desordens do neurodesenvolvimento como a paralisia cerebral”.

Ele destaca ainda que “os resultados demonstram que o resveratrol (um composto natural encontrado em alimentos, como a uva), se administrado nesse período crítico, logo após a lesão cerebral, é capaz de reduzir a neuroinflamação e reduzir sequelas cognitivas e comportamentais que são observadas posteriormente. Esses dados abrem uma oportunidade terapêutica que deve ser investigada em detalhes para verificar sua segurança e aplicabilidade clínica, visto que, aproximadamente, 40% das crianças com paralisia cerebral apresentam alterações cognitivas e comportamentais que interferem na aprendizagem, nas atividades de vida diária e na inserção social”.

A docente Ana Elisa Toscano destacou que a suplementação com o resveratrol também poderia ser realizada durante a amamentação para ter benefícios em pacientes que passaram por lesão cerebral. “Conseguimos verificar que a suplementação com o resveratrol, durante a lactação, foi capaz de reduzir marcadores da inflamação no hipocampo de ratos com paralisia cerebral. O hipocampo é uma região que participa ativamente em processos comportamentais. Com isso, foi possível observar também uma redução nos prejuízos cognitivos e comportamentais que, por diversas vezes, apresentam-se enquanto barreiras na aprendizagem e no convívio social de crianças com paralisia cerebral”, explicou.

Ou seja, esta pesquisa oferece uma nova abordagem sobre o tratamento da paralisia cerebral, sugerindo que o resveratrol pode ter efeitos benéficos na redução da neuroinflamação e na proteção contra danos à memória e ao comportamento.

Os resultados do estudo são promissores para futuras pesquisas e possíveis aplicações terapêuticas para as sequelas cognitivas e comportamentais, que constantemente estão presentes com os prejuízos motores e posturais, mas são negligenciados no momento da busca por terapêuticas, abrindo caminho para novas estratégias de tratamento para indivíduos com paralisia cerebral. A professora Ana Elisa Toscano e sua equipe continuam a explorar o potencial do resveratrol e outras abordagens medicamentosas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com paralisia cerebral.

O artigo completo pode ser acessado através do DOI para aqueles que desejam se aprofundar nos detalhes da investigação.

AUTORES - Ana Elisa Toscano, orientadora de Caio Matheus, é vinculada ao Núcleo de Enfermagem do Centro Acadêmico de Vitória (CAV), da UFPE; coordena o Posneuro; é docente do Programa de Pós-Graduação em Nutrição (Posnutri), do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da UFPE, e é responsável pela Unidade de Estudos em Nutrição e Plasticidade Fenotípica (UENPF), localizada no Departamento de Nutrição, igualmente no CCS. Ela liderou a equipe que conduziu a pesquisa, com duração de um ano e meio, que deu origem ao artigo publicado.

Além do mestrando e da professora, a equipe do estudo foi formada pelo professor Raul Manhães de Castro, professor emérito da UFPE e atualmente docente da UENPF; Sabrina da Conceição Pereira, doutoranda em Neurociências pelo Posneuro da UFPE; Vanessa da Silva Souza, mestranda do Posneuro e participante da UENPF; Leticia Nicoly Ferreira Barbosa, participante da UENPF; Osmar Henrique dos Santos Júnior, mestrando do Posneuro; Claudia Jacques Lagranha, docente do Posneuro, do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Fisiologia (PGBqF) da UFPE e do Núcleo de Educação Física e Ciências do Esporte do CAV/UFPE.

Também participam do grupo Pedro Alberto Romero Juárez, pesquisador do Laboratory of Experimental Neuronutrition and Food Engineering, do Tecnológico Nacional de México (TECNM), Instituto Tecnológico Superior de Tacámbaro, em Tacámbaro, Michoacán, no México, e do Centro de Investigación Biomédica de Michoacán, Instituto Mexicano del Seguro Social, na mesma cidade mexicana; Luz Torner, pesquisador do Centro de Investigación Biomédica de Michoacán, no México; e Omar Guzmán-Quevedo, pesquisador do TECNM, Instituto Tecnológico Superior de Tacámbaro, no México, e colaborador estrangeiro do Posneuro da UFPE.

Mais informações
Professora Ana Elisa Toscano

ana.tmsilva@ufpe.br
Caio Matheus Calado
caio.matheus@ufpe.br

Data da última modificação: 01/12/2023, 15:25