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Livro “Lugares de memória da escravidão e da cultura negra em Pernambuco” é lançado pela Cepe

A obra, organizada pela professora Isabel Cristina Martins Guillen (UFPE), conta com ensaios assinados por vários professores da Universidade

Com informações da assessoria da Cepe

No mês da Consciência Negra, período que evidencia o importante debate sobre a luta do povo negro contra a histórica opressão, a Cepe Editora lança o livro “Lugares de memória da escravidão e da cultura negra em Pernambuco”, organizada pela historiadora Isabel Cristina Martins Guillen (UFPE). A obra colaborativa reúne textos de pesquisadores acadêmicos que buscam desfazer o esquecimento sobre a história da escravidão e das resistências nos espaços públicos do Estado, entre eles três professores da UFPE. O lançamento, aberto ao público, acontecerá amanhã (30), a partir das 18h, no Centro da Cultura Afro-Brasileira, instalado na casa n° 34, do Pátio de São Pedro. O evento contará com bate-papo reunindo os autores e apresentação cultural da Banda Abê Adu Lofé, formada por músicos afrodescendentes, quilombolas. O livro custa R$ 60,00.

Fruto de um projeto aprovado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), o livro conta com ensaios assinados por Marcus Joaquim Maciel de Carvalho (“O tráfico de escravos depois de 1831: história e esquecimento no Nordeste insurgente”), da UFPE; Ezequiel David do Amaral Canário (“A escravidão e seus espaços no Recife oitocentista”); Robson Pedrosa Costa (“Escravidão e lugares de memória negra em Olinda”); Marcelo Mac Cord (“Irmandades negras em Pernambuco”); Gabriel Navarro de Barros (“Entre ruas e praças, o Teatro de Santa Isabel e a Faculdade de Direito: lugares de memória do abolicionismo e de lutas judiciais por liberdade no Recife”); Janine Primo Carvalho Meneses (“Quilombro, passado presente”); Ivaldo Marciano de França Lima (“Sambistas, maracatuzeiros e afoxezeiros: entre as memórias e a história, lugares de memória de homens e mulheres que fazem o Carnaval do Recife”); Raphael Souza Lima (“Àgò Iónà: uma breve história dos xangozeiros do Recife”); Rosely Tavares de Souza (“O lugar de memória da escravidão no Recife e os desafios para a implementação da Lei nº 10.639/2003 na Educação Básica”), da UFPE; e de Isabel Cristina Martins Guillen (“O debate sobre a memória da escravidão e do tráfico atlântico de africanos escravizados: lugares de memória na Região Metropolitana do Recife”), também da UFPE.

Como um trabalho de história pública, o livro colabora inventariando em Pernambuco lugares de memórias na perspectiva de estimular o debate sobre o apagamento. Apesar do amplo arco de análise, a obra foca, em especial, o pós-Abolição (momento em que houve a queima dos arquivos da escravidão por ordem ministerial) -, avaliando de que forma a escravidão foi tratada historicamente e como se manteve na memória coletiva do Brasil. “O pós-Abolição se constitui num longo período em que o trauma (da escravidão) foi sendo tratado, muitas vezes de maneira enviesada, de acordo com os ditames da época, pautadas sobretudo pelas teorias raciais que inferiorizam os afrodescendentes e pelo ideal de branqueamento da população brasileira”, indica a organizadora.

A história do Recife está mergulhada no sistema escravista. No passado, a cidade foi o quinto maior centro do tráfico de seres humanos do mundo. Chegou a ter 10% de sua população na condição cativa (década de 1880) e as redes de influência política e econômica protegeram fortemente o rentável negócio. Apesar desse cenário, o que se observa na cidade e em sua região metropolitana é o esquecimento dessas memórias. “Caminhando pelas ruas do Recife, lembramos que a cidade foi palco de mais de 300 anos de escravidão. Esta observação, naturalmente, se estende às cidades de Olinda, Paulista, Jaboatão dos Guararapes e Igarassu. Onde estão as marcas dessa história nas cidades? Podemos procurar os lugares que lembram esse período, mas não encontraremos com facilidade. Parece que a história da escravidão e da cultura considerada negra, herança da diáspora, permanece invisibilizada na cidade”, afirma Isabel Guillen.

Dessa forma, o livro percorre bairros e cidades, pontua a importância histórica de lugares de encontros e de resistências da cultura negra, suas manifestações artísticas, religiosas, personagens e movimentos contextualizando o papel decisivo na formação da sociedade e na construção de identidades. Estão relacionados na obra locais como a Rua do Bom Jesus (que serviu para quarentena e venda de escravizados), o Pátio do Carmo (onde a cabeça de Zumbi dos Palmares teria sido exposta após assassinado), o Pátio do Terço (que abrigou terreiros e agremiações feitas por negros e onde acontece a Noite dos Tambores Silenciosos), entre outros tantos.

O livro aponta ainda para desafios que se apresentam, como, por exemplo, na educação. Passados 15 anos da implementação da obrigatoriedade do ensino da história e cultura da África e dos afrodescendentes, a temática, como pontua a historiadora Rosely de Souza, não vem sendo atualizada nas salas de aulas de escolas do Recife e região. “Precisamos refletir sobre o que, de fato, consolida-se na formação desses estudantes quando tratamos do tema escravidão e quais foram as proporções desse acontecimento na cidade em que vivem. Infelizmente, poucos conseguem caminhar pela cidade do Recife e estabelecer um sentido entre os lugares que transitam e a escravidão”, assegura.

Autores

Ezequiel David do Amaral Canário - Licenciado em História pela UFPE e mestre em História. É autor do livro “É mais uma scena da escravidão: suicídio de escravos na cidade do Recife, 1850–1888” e participou da obra “História da escravidão em Pernambuco” (Ed. Universitária da UFPE, 2012). Atualmente, é professor de História da Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes e da Prefeitura Municipal de Igarassu.

Gabriel Navarro de Barros -  Licenciado em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFPE (2014) e doutor também pelo mesmo programa (2020). Atualmente, é professor da rede estadual de ensino de Pernambuco.

Isabel Cristina Martins Guillen - Doutora em História pela Universidade de Campinas (Unicamp), com pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 2006. Professora do Departamento de História da UFPE, do Programa de Pós-Graduação em História da mesma universidade e do Profhistória.

Ivaldo Marciano de França Lima - Doutor em História pela UFF. Professor da Uneb DEDC II (Alagoinhas/BA), professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Difusão do Conhecimento (Uneb/UFBA e IFBA) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA). Líder do Grupo de Pesquisa África do Século XX e editor das revistas África(s) e Cadernos de África Contemporânea.

Janine Primo Carvalho de Meneses – Bacharela, mestra e doutora em História pela UFPE. Atualmente, exerce a função de gestora da Unidade de Educação Patrimonial e Projetos do Patrimônio Cultural na Gerência de Preservação do Patrimônio Cultural da Prefeitura do Recife.

Marcelo Mac Cord - Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); mestre, doutor e pós-doutor em História pela Unicamp; pós-doutor em História pela UFRJ. É professor de História da Educação da Faculdade de Educação da UFF.

Marcus Joaquim Maciel de Carvalho - Professor de História da UFPE. PhD. em História pela University of Illinois at Urbana-Champaign. Mestre em História pela UFPE, mestrado em História pela University of Illinois e bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (UFPE), com pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales e estágio pós-doutoral na Johns Hopkins University.

Raphael Souza Lima - Doutorando em História pela UFF, mestre em História Social pela UFPE e possui licenciatura em História pela UFRPE. Atualmente, é professor de História na rede estadual de Alagoas.

Robson Pedrosa Costa - Professor do Instituto Federal de Pernambuco (Campus Recife) e docente do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE. Possui doutorado em História pela UFPE e, atualmente, realiza seu pós-doutorado na Universidade de Lisboa.

Rosely Tavares de Souza - Professora da UFPE, mestra e doutora em História pela UFPE, especialista em Cultura e História dos Povos Indígenas pela UFRPE e licenciada em História pela UFRPE.

Data da última modificação: 29/11/2023, 14:47