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Edição da revista Estudos Universitários sobre raça, gênero e classe social é lançada na UFPE

Os conteúdos abordados nos estudos, relatos de experiência, entrevista e resenhas foram apresentados durante o lançamento da revista

“Raça, gênero e classe social: Atravessamentos identitários e tensionamentos sociais” é o tema trabalhado ao longo do volume 40.1 da publicação “Estudos Universitários: revista de cultura”, lançada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc). Os conteúdos abordados nos estudos, relatos de experiência, entrevista e resenhas foram apresentados durante o lançamento da revista, que ocorreu na manhã de sexta-feira (1º), no auditório do Instituto de Pesquisa em Petróleo e Energia (I-Litpeg).

“É com satisfação que apresento a vocês um volume da ‘Estudos Universitários’ com dez textos cuidadosamente escritos, criteriosamente revisados e com a qualidade esperada de uma revista que, ao longo de seis décadas de existência, se consolidou como um veículo fundamental de divulgação das informações. Além da pluralidade da publicação, com diferentes gêneros textuais, chama atenção a postura historicamente consolidada de discutir questões fundamentais relacionadas com a diversidade da nossa sociedade e, assim, ainda que existam críticas, elas sempre vão existir, a liberdade de expressão prevalece e a ‘Estudos Universitários’ figura como um real exemplo de resistência, perseverança e excelência”, afirmou a editora da revista, Sylvana Melo dos Santos, na abertura do evento.

Foto: Fernanda Souza

Reitor destaca importância de discussão sobre temáticas sociais e culturais

O lançamento foi transmitido ao vivo pelo canal da UFPE no YouTube e, por meio de vídeos gravados, algumas pesquisadoras e pesquisadores comentaram sobre seus trabalhos (os textos publicados na Estudos Universitários são escolhidos por meio de chamada pública).

A primeira pessoa a falar sobre sua contribuição foi o professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Diogo Valença de Azevedo Costa. “O artigo se divide em duas partes. Na primeira delas, eu faço uma reconstrução das críticas feitas por sociólogos e historiadores da escravidão no Brasil, da questão racial, a partir da década de 1980, aos trabalhos de Florestan Fernandes sobre a questão social, que ele desenvolveu entre as décadas de 1950, 1960, 1970 e nos anos 1980. A partir da refutação dessas críticas, meu objetivo foi discutir metodologicamente como Florestan Fernandes aborda a questão racial do Brasil”, iniciou o pesquisador.

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da UFPE, Emanuele Nascimento é uma das autoras do artigo “O ser negro nas representações midiáticas: um debate de construções de identidades”. “Fazemos uma análise do conceito de representação e um debate sobre análise do discurso, destacando como é que as identidades desses homens negros acabam sendo formadas por processos de construção de significados. O objetivo era analisar de que forma essas mídias acabavam por ensinar modos de ser, inclusive modos de agir, pautados em valores racistas”, explicou. 

Foto:Catarina Albertim

Participantes reunidos ao final do evento no I-Litpeg

A professora Auxiliadora Martins, do Departamento de Ensino e Currículo (DEC) da UFPE, comentou sobre a entrevista que ela fez com o babalorixá pai Ivo de Xambá. “Ele fala sobre sua vida e como ela está pautada pelos ensinamentos africanos e afrodescendentes, fundamentos que permearam sua história pessoal, profissional, como sindicalista e suas vivências escolares. Revela-nos também o terreiro de candomblé enquanto uma imponência descolonizadora que se opunha à colonialidade do poder, ao privilégio branco e também ao racismo em todas as suas vertentes”, afirmou.

O próprio babalorixá fez parte da mesa oficial no lançamento. “Para nós que fazemos o Xambá, uma edição dessa é de grande importância para melhoria da cultura e da condição do negro neste país. Digo muitas vezes que as universidades, talvez, os professores atuais, não têm culpa por toda a questão que passou o negro neste país, mas eles têm responsabilidade de mudar a condição em que vivemos. Posso até ser um sonhador, mas tenho certeza que, se vocês sonharem comigo, amanhã teremos um mundo melhor”, declarou o pai Ivo de Xambá, que recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFPE. 

Pró-reitora de Extensão e Cultura e presidente do Conselho Editorial da Revista, a professora Conceição Reis afirmou: “Esta edição tem um título que me envolve muito. Mesmo antes de eu chegar nessa pró-reitoria, ele já estava sendo lançado, então não foi por causa de mim, mas por causa da política que esta revista tem que busca abranger temáticas que envolvem situações problemáticas na sociedade. Precisamos publicar cada vez mais nossas pesquisas, nossas produções e nossas intenções. A partir do momento em que fazemos publicações como esta, estamos dizendo da nossa responsabilidade social com a universidade nessa relação dialógica que a Extensão promove”.

Professor emérito da UFPE e membro do Conselho Editorial da revista, Flávio Brayner retomou alguns momentos da trajetória da Estudos Universitários. “Não é qualquer revista universitária que tem uma longevidade dessa. Ano passado, nos 60 anos dela, tive a oportunidade de dizer que não era por acaso que a mesma pessoa que fundou a revista também fundou uma pedagogia, Paulo Freire. O que está em jogo tanto na formação da revista quanto na Pedagogia do Oprimido é a ideia de que o povo possa se transformar em sujeito de sua própria história e agente ativo de um projeto nacional autônomo e soberano. Foi isso que foi feito naquele momento e que a revista Estudos Universitários contribuiu imensamente para que a gente pudesse ganhar um nível mais elevado de consciência nacional. Coisa que nós estamos novamente precisando hoje fazer”, opinou.

Por fim, o reitor da UFPE Alfredo Gomes também parabenizou a equipe envolvida no projeto, falou sobre a importância da continuidade da revista ao citar que o próximo número da Estudos Universitários está em produção e lembrou que há outras obras disponíveis gratuitamente para leitura pelo site da Editora UFPE. 

“É muito importante que as temáticas sociais e as culturais entrem de forma cada vez mais expressiva para discutir, nesse momento particular da História do Brasil, o que é que nós podemos influir no que concerne a um projeto nacional. Que debates que envolvem temas tão importantes quanto raça, gênero, diversidade se consolidem. Precisamos estabelecer um entendimento mais amplo junto à população em torno de temas tão importantes e, neste sentido, acho que a revista vem contribuir para que possamos fazer este debate de forma mais consistente”, afirmou o reitor.

Sumário

Estudos
“Os desafios de gênero e raça no ensino superior público: uma análise no Nordeste brasileiro” 
Saulo Cabral dos Santos e Nayara Kelly de Melo Silva
“Florestan Fernandes e a crítica da formação colonial brasileira: trabalho, racismo e capitalismo dependente”
Diogo Valença de Azevedo Costa
“O ser negro nas representações midiáticas: um debate de construções de identidades”
Emanuele Cristina Santos do Nascimento, Ana Paula Abrahamian de Souza
“Livros didáticos de História e a Educação das Relações Étnico-Raciais”
Maria da Conceição dos Reis, Cledson Severino de Lima e Rafaela Alcântara Barros de Oliveira

Entrevista
“Saberes transcendentais – Xambá e o Portão do Gelo, do quilombo aos entrelaçamentos epistêmicos da cultura negra em Olinda, Pernambuco: uma entrevista com Ivo de Xambá”
Auxiliadora Maria Martins da Silva

Relatos de Experiência
“Uso ativista de smartphones em territórios afetados por operações de mineração”
Adriana Bravin e Evandro José Medeiros Laia
“Racismo e sexismo em Instituições de Ensino Superior: experiências de docentes negras na gestão acadêmica”
Flávia da Silva Clemente e Márcia da Silva Clemente

Resenhas
“Paulo Freire: A prática da liberdade, para além da alfabetização”
Antônio Fernando de Araújo Sá
“Em busca de uma redistribuição da violência: algumas reflexões sobre as perspectivas de Jota Mombaça”
André Pereira da Costa
“Alforria pelo verso”
Peron Pereira Santos Machado Rios

Mais informações
Estudos Universitários: revista de cultura

estudosuniversitarios@ufpe.br

Data da última modificação: 04/12/2023, 15:45