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Coletivo AKAFans desenvolve pesquisas sobre fãs, mídia e entretenimento no Propad

Grupo foi criado e é coordenado pelo professor André Luiz de Souza-Leão no Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad) da UFPE

Por Eugênia Bezerra

Para uma parcela do público de produções culturais como as séries “Game of Thrones” e “Harry Potter”, a relação com a obra não termina quando se fecha o livro e nem quando a tela escurece após a exibição dos filmes ou do capítulo da série. Ela continua por meio de experiências como os debates que ocorrem pelas redes sociais e a produção de conteúdos diversos – como os vídeos em que pessoas analisam a adaptação das histórias (publicados aos montes no YouTube) e as ‘fanfics’ (narrativas ficcionais escritas por fãs). Essa cultura participativa fomentada por consumidores produtivos está no radar dos grandes estúdios e interessa ao coletivo de pesquisa AKAFans, criado e coordenado pelo professor André Luiz de Souza-Leão no Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Foto: Divulgação

Professor André Leão e alunos envolvidos nas pesquisas

O docente tem trabalhado com pesquisa do consumidor desde o mestrado. Ele recorda que, no doutorado, passou a adotar uma perspectiva “culturalista e ‘pós-moderna’ do fenômeno – um campo hoje conhecido como Consumer Culture Theory (CCT) – e, gradativamente, uma visão crítica a seu respeito, em diálogo com uma perspectiva de Critical Marketing”.

Fã de cultura pop e nerd desde que “se entende por gente”, André Leão decidiu se dedicar a esse nicho como pesquisador em 2015. “A ideia era trabalhar uma tríade que, em minha concepção, define o fenômeno da cultura pop. Foi assim que lancei meu próprio grupo de pesquisa, inicialmente denominado Círculo de Estudos sobre Fãs, Mídia e Entretenimento”, relembra o professor.

“Com o tempo, dois pontos foram amadurecendo: por um lado, o desafio (axiológico) de ser um fã da cultura pop fazendo pesquisa sobre a cultura pop e, mais particularmente, sobre outros fãs; por outro, as investigações foram adquirindo um caráter cada vez mais político. Foi aí que o ‘círculo’ virou ‘coletivo’, conceitual e literalmente falando, já que egresses se tornaram pesquisadorus e o alcance do grupo saiu do Propad para atingir o Centro Acadêmico do Agreste (CAA) e outras instituições de ensino superior (IES) do estado, como UPE, Unibra e Uninassau; e o grupo passou a ter um nome propriamente dito: AKAFans, um trocadilho com o conceito (metodológico) de acafans – fãs acadêmicos, que fazem pesquisa assumindo seu duplo papel de pesquisadores e fãs de cultura pop – corroborado pela noção de A.K.A. – ‘também conhecido como’, do inglês”, esclarece o professor.

Dois aspectos se destacam nas pesquisas realizadas pelo grupo desde então. Um deles é que houve uma ênfase nos estudos sobre os fãs, entre as partes da tríade que caracteriza a proposta investigativa do AKAFans – “aspecto que acredito poder ser explicado tanto pelo interesse des orientandes quanto pela minha inserção no campo da CCT. Por outro lado, meu entendimento de que as práticas de fãs são cada vez mais bem explicadas por meio de sua inserção em um contexto de tecnocultura fez com que todos os trabalhos adotassem métodos on-line, sendo a netnografia a abordagem mais utilizada, consolidando uma expertise do grupo”, afirma André Leão.

“Um primeiro ciclo de pesquisas que findaram por enfatizar mais os fãs de produtos de mídia e entretenimento foi concluído em 2022 e acredito que tenha produzido um importante conhecimento sobre esse consumidor tão peculiar; principalmente se considerarmos o campo da pesquisa do consumidor, já que o estudo de fãs está mais consolidado na área de Comunicação”, avalia o professor André Leão.

“Com isso, redirecionei os estudos do grupo para dois novos interesses teóricos: por um lado, investigar o papel das mídias sociais nas relações sociomercadológicas, a partir do entendimento de que as tecnologias de informação e comunicação e a tecnocultura têm cada vez mais se espalhado e enraizado na vida social; de forma mais específica, por sua vez, analisar as implicações desse processo sobre as questões de gênero, a partir de estudos feministas e ‘queer´”, completa André Leão.

Esse novo direcionamento coincidiu com a chegada de pesquisadores como o mestrando Stenio Barros. Ele acredita que entrar logo em contato com o campo da CCT em uma disciplina ministrada pelo professor André Leão foi algo crucial para “desconstruir formatações de pensamentos hegemônicos” e entender por onde poderia buscar as respostas que não encontrava no mercado do marketing.

“Ao mesmo tempo, também me identifico como nerd, inclusive já tendo atuado como produtor cultural de eventos de cultura pop japonesa nos anos 2000, e um fascinado pela cultura pop como fenômeno de consumo e produção identitária, que muito me interessa pesquisar. Com isso, ao desenvolver o meu pré-projeto, propus o estudo da cultura de consumo drag queen, à luz da teoria queer, a partir de um campo de pesquisa com viés qualitativo e crítico, como a CCT. Contudo, como estou no meu primeiro ano de mestrado, me dedicando no aprofundamento teórico e metodológico, o tema da dissertação ainda está em processo de construção e pode sofrer alguns ajustes até a qualificação”, esclarece Stenio Barros.

A seguir, alguns artigos publicados por integrantes do AKAFans:

- “Resisting to Game of Thrones: a fannish agonism” (CAMARGO; SOUZA-LEÃO; MOURA, 2022); 
- “Agenciados pelo desejo: o consumo produtivo dos Potterheads” (SOUZA-LEÃO; COSTA, 2018);  
- “Commitment to Freedom: A Fannish Struggle for the Representativeness of Political Identities” (SOUZA-LEÃO; FERREIRA; MOURA, 2022); 
- “All in One: Digital Influencers as Market Agents of Popular Culture” (SOUZA-LEÃO; MOURA; NUNES, 2022) e 
- “Bouncing between screens: social TV and Brazilian NBA audience” (SOUZA-LEÃO; MOURA; CARNEIRO-LEÃO, 2022). 

Mais informações
Perfil do AKAFans no Instagram
@akafans.ufpe 

Data da última modificação: 12/09/2023, 11:47