A proposta do projeto foi de desenvolver um antivírus capaz de perceber que um programa tinha intenção maliciosa, agindo de maneira preventiva
Ao longo de um ano, estudantes da Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio Governador Barbosa Lima, no Recife, dedicaram-se ao desafio de criar o próprio antivírus, do zero, para identificar um tipo de golpe digital chamado ransomware. A experiência ocorreu durante o curso “Inteligência Artificial aplicada à segurança da informação”, realizado em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O encerramento da formação foi realizado na última sexta-feira (28), com presença do professor Departamento de Engenharia Eletrônica e Sistemas da UFPE Sidney Lima, coordenador do projeto de extensão; e das engenheiras em formação Rachel Muniz e Carol Lira, que ministraram aulas ao longo do ano. Durante a cerimônia, houve uma apresentação da empresa Inorpel Security, especializada em cibersegurança.
Diferentemente de outras formas de aplicações maliciosas que visam apenas coletar dados ou degradar o desempenho de um sistema, o ransomware tem como objetivo principal a extorsão direta das vítimas. Após infectar um dispositivo, o ransomware criptografa arquivos essenciais: documentos, fotos, planilhas, bases de dados, entre outros. A vítima é forçada a escolher entre pagar um resgate ou perder permanentemente informações de valor pessoal, profissional ou institucional.
No curso de extensão, a proposta era desenvolver um antivírus capaz de perceber que um programa tinha intenção maliciosa antes mesmo de o usuário terminar de clicar, agindo de maneira preventiva. Para chegar a esse resultado, os estudantes aprenderam a “desmontar” o ransomware por dentro, entendendo como ele funciona (algo parecido com desmontar um motor para ver cada peça). Como suporte, foram usados métodos matemáticos estatísticos para que o computador aprendesse a reconhecer, sozinho, quais características costumam aparecer em softwares perigosos. Como fruto desse trabalho, o antivírus desenvolvido pelos alunos da Escola Governador Barbosa Lima foi capaz de identificar, em frações de segundo e com uma taxa de acerto acima de 99%, os sinais típicos de ransomware, protegendo o usuário antes que o ataque se concretizasse.
Resultados – Segundo o docente Sidney Lima, o curso de extensão alcançou o objetivo de construir uma ponte entre o mercado de trabalho e as escolas públicas: “De um lado, há uma grande carência de mão de obra qualificada para atuar nas empresas de cibersegurança; de outro, há jovens talentosos nas escolas públicas, apenas aguardando uma oportunidade para mostrar seu potencial. O curso representa exatamente essa oportunidade: uma apostila autoral com cerca de 300 páginas, reunindo embasamento teórico e uma série de experimentos práticos de laboratório digital, sendo tudo ministrado por engenheiras em formação e profissionais da área, sem qualquer custo aos alunos”.
O professor Sidney Lima afirma que as gestões administrativa e pedagógica da Barbosa Lima apoiaram com “muito entusiasmo” a proposta de desenvolver o projeto de extensão escola, visto como oportunidade de profissionalização em uma área emergente. Adicionalmente, ele destaca que tão fundamental quanto o preparo técnico é o acesso a networking e à possibilidade de apresentar o próprio portfólio ao setor privado. Nesse sentido, a participação da Inorpel é vista como uma abertura para futuras oportunidades de estágio, emprego e colaboração em projetos de segurança da informação.
Para Nicolas Stevan, representante da empresa, trazer uma organização da área de cibersegurança para dentro da escola, compartilhando cenários reais e relatos sobre o mercado de trabalho, foi fundamental para que os estudantes entendessem quais habilidades e temas são hoje exigidos pelas empresas. Na mesma linha, Caio Hely, também representante da Inorpel Security, destaca que os estudantes já demonstram consciência sobre os desafios modernos na área de cibersegurança. Para Caio Hely, o projeto oferece uma chance ímpar de desenvolvimento de competências cada vez mais valorizadas pelo setor privado, fortalecendo o vínculo entre formação acadêmica, extensão universitária e demandas reais do mercado.