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Apenas as cidades do Porto e de Estocolmo se adequam às novas diretrizes de qualidade do ar da OMS

O estudo foi realizado pelo professor Helotonio Carvalho, do Departamento de Biofísica e Radiobiologia

Por Renata Reynaldo

De um universo de 47 cidades com diferentes níveis de poluição, tendo como parâmetro as novas diretrizes de qualidade do ar definidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o professor do Departamento de Biofísica e Radiobiologia da UFPE Helotonio Carvalho identificou que apenas duas delas, Porto (Portugal) e Estocolmo (Suécia), estão de acordo com os critérios atualizados. Já dentre as demais localidades, mesmo as com menores níveis de poluição, a adequação ainda é com os padrões ultrapassados. “Muitas delas precisarão reduzir as concentrações de material particulado (PM) medindo até de 2,5 micrômetros de diâmetro (PM2.5 ) entre 50% até mais de 70% para estarem de acordo com os novos padrões de qualidade do ar da OMS”, afirma o pesquisador. 

No artigo científico “New WHO global air quality guidelines: more pressure on nations to reduce air pollution levels”, publicado recentemente na revista The Lancet, o professor relata que dividiu o rol de cidades observadas entre as com níveis mais altos e outras com níveis mais baixos de poluição, e aponta que “no grupo das localidades mais poluídas, a maioria irá precisar de reduções em suas concentrações de PM2.5 de mais de 90% para estarem de acordo com os novos padrões, incluindo Pequim (China), Riade (Arábia Saudita), Carachi (Paquistão), Ulaanbaatar (Mongólia) e Nova Deli (Índia)”. 

A situação, segundo o estudo, é particularmente preocupante em Mumbai (Índia), que precisará de uma redução de 92%, Pequim (China) e Riade (Arábia Saudita; 93%), Karachi (Paquistão; 94%), Ulaanbaatar (Mongólia; 95%) e Nova Delhi (Índia; 97%). Carvalho explica que o Recife não consta da lista por, infelizmente, não apresentar uma rede de monitoramento de qualidade do ar. Comparando os padrões anteriores aos novos padrões de qualidade do ar, e usando dados de 2014, 2016 e 2018, o pesquisador se propôs a chamar a atenção para a importância da revisão desses parâmetros, tendo em vista as mais de sete milhões de mortes anuais causadas pela poluição atmosférica no mundo.
 
LIMITES | Segundo Helotonio, os novos critérios para se definir a qualidade do ar, aliados à pressão para redução do uso de combustíveis fósseis a fim de combater as mudanças climáticas e, ainda, aos objetivos para a diminuição das emissões de Dióxido de Carbono (CO2) em consonância com o Protocolo de Paris, serão essenciais à transição para um mundo descarbonizado e contribuindo para salvar milhões de vidas. “Embora muitos países tenham seus próprios padrões de qualidade do ar, as diretrizes de qualidade do ar da OMS são geralmente mais rígidas, especialmente se comparadas com aquelas adotadas por países de baixa e média renda (LMICs)”, afirma. 

Ao comentar sobre a revisão dos padrões de qualidade do ar – “consideravelmente mais restritivos que os critérios  anteriores, de 2005” –, o autor avalia que, com base nos novos postulados, a média anual de material particulado fino (PM2.5) aceitável à saúde humana foi reduzida à metade, de 10 para 5 µg/m3, enquanto a média anual para Dióxido de Nitrogênio (NO2) foi reduzida de 40 para 10 µg /m3. E mais: os limites concebíveis em 24 horas também foram reduzidos, embora em menor grau. 

REDUÇÃO | Para o pesquisador, as diretrizes de qualidade do ar, associadas ao monitoramento da qualidade do ar, conseguiram, sim, induzir uma diminuição nos níveis de poluição do ar em muitas cidades e países nas últimas duas décadas e exemplifica que, apesar de ainda apresentar altos níveis de poluição atmosférica, a China tem conseguido reduzir substancialmente seus níveis de poluentes atmosféricos na última década, resultando em benefícios para a saúde de sua população. No rol das localidades que, mesmo apresentando baixos níveis de poluição ainda precisam se ajustar aos novos parâmetros estão Adelaide (Austrália), Auckland (Nova Zelândia), Helsinque (Finlândia) e Vancouver (Canadá), estas com níveis de PM2.5 menores que 10 µg/m3.

Outras cidades conseguiram diminuir os níveis de poluição do ar de 2014 a 2018, como Nova York (EUA) e Oslo (Noruega). Cidades como Amsterdã (Holanda), Barcelona (Espanha), Lisboa (Portugal), Londres (Reino Unido), Los Angeles (EUA), Moscou (Rússia), Rio de Janeiro (Brasil) e Roma (Itália) tiveram PM2.5 decrescente nesse período e estavam perto de atender às diretrizes anteriores da OMS. “No entanto”, aponta o estudo, “outras cidades, como Berlim (Alemanha), Frankfurt (Alemanha), São Paulo (Brasil), Tóquio (Japão) e, em particular, Cidade do México (México), Milão (Itália) e Seul (Coreia do Sul), mostraram níveis de poluição do ar em 2018 que estavam bem acima das diretrizes anteriores da OMS”. 

A análise de Helotonio Carvalho também revela que a maioria das cidades selecionadas com níveis mais altos de poluição do ar está localizada em países de baixa e média renda, ouwer-middle-income countries (LMICs), em inglês, na África, sul da Ásia, leste da Ásia e Pacífico, ou no Oriente Médio, enquanto algumas estão no leste da Europa. “Devido aos níveis mais altos de poluição do ar, todas essas cidades precisarão de, pelo menos, uma redução de 80% nas concentrações de PM2•5 de 2018 para atender às novas diretrizes”, estima o autor. 

Para Carvalho, que reconhece ser “uma tarefa difícil”, a maioria das cidades, especialmente aquelas com níveis mais altos de poluição do ar nos países de renda baixa e média, provavelmente precisará de muitos anos para se aproximar dessas novas diretrizes. Mas, otimista, ele estima que “as novas diretrizes da OMS para a qualidade do ar funcionarão como uma força motriz adicional na direção de um mundo onde a poluição do ar será história. Isso levará algum tempo, mas é possível. Quanto mais cedo chegarmos lá, mais vidas serão salvas”.

MATERIAL PARTICULADO | Segundo explica o pesquisador, “a poluição atmosférica representa um sério risco à saúde pública e, dentre os diversos poluentes atmosféricos, o material particulado, principalmente o PM2,5, é o mais associado a efeitos adversos à saúde que incluem o agravamento de doenças respiratórias como asma, bronquite e enfisema, além de estar relacionado com infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e câncer de pulmão”. 

Mais informações

Departamento de Biofísica e Radiobiologia da UFPE
(81) 2126.8535
secretaria.dbr@gmail.com

Professor Helotonio Carvalho
helotonio.carvalho@ufpe.br 

Data da última modificação: 19/11/2021, 08:50