Pesquisa Pesquisa

Voltar

Planta conhecida como samambaia aquática denuncia poluição no Rio Capibaribe

Estudo aponta que o trecho do rio com maior grau de poluição foi o responsável pela maior alteração nas estruturas das amostras da Salvinia auriculata

Por Renata Reynaldo

Ao examinar uma plantinha que é bem frequente nas águas do Rio Capibaribe, conhecida como samambaia aquática ou carrapatinho d’água, é possível identificar não só se a água está poluída, como também quais os elementos poluentes predominantes naquele ambiente. É que essa 'delatora', digo, bioindicadora, cientificamente chamada de Salvinia auriculata, reflete as variações físico-químicas e biológicas da água do rio na sua estrutura morfo-anatômica, no teor de pigmentos fotossintetizantes e na sua composição química foliar (perfil n-alcanos), segundo estudo realizado pela bióloga Nathália Bandeira Carvalho dos Santos, defendido no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da UFPE.

Na dissertação “O efeito da qualidade da água do rio Capibaribe na estrutura anatômica, teor de pigmentos fotossintéticos e perfil de n-alcanos cuticulares de Salvinia auriculata Aublet (Salviniaceae)”, orientada pelo professor Antônio Fernando Morais de Oliveira, Nathália também identificou “que o trecho de Rio Capibaribe com maior grau de poluição foi o responsável pela maior alteração nas estruturas de S. auriculata”. A autora coletou aproximadamente 200 indivíduos da planta no Rio Gurjaú (no município do Cabo de Santo Agostinho, litoral Sul de Pernambuco) e, ao longo do Capibaribe, selecionou três locais - Lagoa de Itaenga (na Zona da Mata Norte), e São Lourenço da Mata e Recife, os dois últimos situados na RMR - para coletar amostras de água, por apresentarem diferentes concentrações de poluentes. 

“Na comparação entre a água coletada no Gurjaú e a do Capibaribe, o primeiro é o que mais atende aos critérios da resolução, sendo por isso considerada a com menor grau de poluição entre as estudadas e, por isso, escolhida para as coletas da samambaia aquática para o estudo”, explica Nathália. Depois, em laboratório, as amostras das S. auriculata foram lavadas e submetidas ao bioensaio, que consistiu no mergulho das plantas em amostras das águas do Rio Capibaribe, sendo uma delas, a quarta bandeja, preenchida com fluido não poluído, para acolher o grupo controle da pesquisa. Em seguida, com 15 dias de intervalo, foram recolhidas as amostras de S. auriculata para o estudo da anatomia, pigmentos fotossintéticos, perfil de n-alcanos e morfometria. Para a análise da ultraestrutura, as plantas foram colocados em sacos de papel e mantidos em estufa de circulação de ar à temperatura de 60º C, por 20 dias.





PARÂMETROS | Dentre os parâmetros físico-químicos e biológicos das amostras das águas analisadas, foram observador o pH, cor, turbidez, condutividade, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica por oxigênio, demanda química por oxigênio, nitrato, nitrito, nitrogênio amoniacal, fósforo total, cloretos e coliformes termotolerantes, entre outros. E os resultados mostraram que vários desses parâmetros (oxigênio dissolvido, DBO, nitrato, nitrito, nitrogênio amoniacal, fósforo total, coliformes termotolerantes, cloretos, cobre, ferro total, chumbo e manganês) estão em desacordo com os requisitos do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) da Resolução 357/2005.

Segundo a autora, de acordo com a metodologia aplicada (Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater) e o Conama, das 21 variáveis físico-químicas e biológicas analisadas, as amostras do Rio Capibaribe apresentaram um total de nove não conformidades com a legislação brasileira em vigor para água destinada ao abastecimento humano, após tratamento convencional. Nathália aponta que o trecho do Capibaribe que corre no Recife possui regiões em que o esgoto, principalmente doméstico, é lançado sem nenhum tratamento e, em conjunto com as outras variáveis, afetam, sim, a S. auriculata. “As concentrações dos poluentes presentes na água interferem diretamente nas estruturas morfológicas e químicas da planta”, atesta.

Na dissertação, a bióloga recomenda o aprofundamento dos estudos, principalmente com plantas aquáticas, a fim de se elucidar os danos ocorridos da poluição no ecossistema aquático em suas estruturas e os seus mecanismos para bioindicação. E, segundo defende o estudo, “faz-se necessário uma maior fiscalização dos despejos lançados sem o tratamento prévio no Rio Capibaribe para que esses efluentes não impactem em demasiado a biota aquática e a que a S. auriculata seja utilizada no biomonitoramento da qualidade ambiental das águas que percorrem o Estado de Pernambuco”.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da UFPE
(81) 2126.8348/2126.8946
secretaria_ppgbv@hotmail.com

Nathália Bandeira Carvalho dos Santos
nathaliabandeiraa@gmail.com

Data da última modificação: 26/09/2018, 16:10