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Falha de projeto compromete vazão hídrica de obra no Sertão pernambucano

Em Passagem de Pedras, no município de Ibimirim, obras para aproveitamento de recursos hídricos da Bacia do Jatobá estão comprometidas

Por Renata Reynaldo 

Quem conhece ou vive no semiárido do Nordeste brasileiro não deve ter dificuldade para saber qual a importância das obras hídricas para a região. O que não é de fácil compreensão é o fato de, depois de prontas, algumas dessas intervenções - que não custam pouco - não atenderem à expectativa por erro na sua concepção e execução. Essa triste realidade foi constatada no Sertão pernambucano, na localidade de Passagem de Pedras, município de Ibimirim, em obras destinadas para o aproveitamento dos recursos hídricos subterrâneos da Bacia Sedimentar do Jatobá, mais especificamente no sistema aquífero Tacaratu/Inajá.

Evidências apontadas em pesquisa acadêmica desenvolvida, no Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFPE, por Felipe Oliveira Tenório da Silva indicam problemas na construção de dois poços dessa área que tiveram sua eficiência sensivelmente diminuída, acarretando uma baixa na capacidade produtiva dessas obras. Para o autor da dissertação Caracterização hidrogeológica da localidade de Passagem de Pedras na porção sul do sistema aquífero Tacaratu/Inajá - Bacia do Jatobá - Municípios de Ibimirim/Inajá/Manari-PE, "as baixas vazões dos poços contrariam o previsto, pois já foram observados, em outras localidades do mesmo sistema aquífero, poços de altas vazões e elevadas transmissividades calculadas para o aquífero".

Segundo Felipe Tenório, a fim de explicar a razão da discrepância entre o potencial de vazão e a pouca água transmitida, foi necessário verificar a geologia de superfície, atualizar o inventário da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e cadastrar novos pontos de água analisando os parâmetros químicos do pH e condutividade elétrica da água. "O trabalho desenvolvido consistiu em uma caracterização hidrogeológica de uma área de 150km² que enquadra a localidade de Passagem de Pedras, onde se situam os dois poços, que foram alvo de uma análise minuciosa", detalha. O acesso à área, a partir do Recife, se faz pela BR-232 até o povoado de Cruzeiro do Nordeste (Município de Sertânia), seguindo depois para sudoeste pela BR-110 até a cidade de Ibimirim, de onde deve direcionar-se para o sul, percorrendo aproximadamente 50 km, pela BR-336 e a PE-300.      

CARACTERÍSTICAS | O estudo, orientado pelo professor José Geilson Alves Demétrio, aponta que, quanto às propriedades hidrogeológicas, as formações geológicas Tacaratu e Inajá compõe um sistema aquífero que, apesar de em algumas áreas aflorarem, tem um comportamento hidráulico do tipo confinado devido à existência de camadas de sedimentos finos, que foram verificadas tanto em afloramentos como nos perfis litológicos dos poços. "Geologicamente as formações Tacaratu e Inajá são compostas por arenitos que se caracterizam por armazenarem e transmitirem águas de forma satisfatória", descreve a dissertação. Segundo Felipe, "as espessuras das camadas constituídas por arenitos podem chegar até 400 metros de profundidades e também por conta de tais espessuras poços inseridos nesse contexto podem chegar a ter vazões de 250  m³/hora. Vazões dessa ordem são consideradas altas e podem contribuir consideravelmente para o abastecimento de municípios e localidades rurais".

Avaliando a eficiência dos poços de Passagem de Pedras, o autor verificou que existiam incoerências nos dados coletados na ocasião de suas perfurações. Essas incoerências, segundo atesta, levaram a uma análise extensa e, após sucessivas tentativas, constatou-se que, apenas admitindo características hidrogeológicas não condizentes ao sistema aquífero Tacaratu-Inajá, é possível aplicar os métodos clássicos para interpretações das informações obtidas nos poços. "Evidências como essas apontam para problemas na construção que, como demonstrado, diminuem sensivelmente as eficiências dos poços, mascarando os parâmetros hidrodinâmicos reais do aquífero", analisa.

A título de sugestão para contornar o problema, Felipe Tenório recomenda a construção de um poço de observação a uma distância média de 20 metros de cada um dos dois poços em atividade. A ideia é coletar novos dados de rebaixamento e tempo sem a influência das características dos poços produtores. "Assim, poderemos fazer novas interpretações e esclarecer, categoricamente, os motivos para as baixas vazões e transmissividades calculadas, além de se obter o coeficiente de armazenamento". Para o autor, a melhor compreensão do sistema aquífero da região de Passagem de Pedras representa um avanço para o entendimento da disponibilidade do recurso hídrico subterrâneo, o que conduzirá o seu melhor aproveitamento.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Geociências
(81) 2126.8902

ppgeoc@ufpe.br

Felipe Oliveira Tenório da Silva
felipetenorio2001@gmail.com

Data da última modificação: 02/04/2019, 11:22