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Arteterapia tem efeitos positivos na qualidade de vida de pessoas idosas

Pesquisa indica que uso do recurso arteterapêutico traz melhorias na autoestima, na avaliação da autoimagem e na interação social de idosos

Por Catarina Albertim

Com o crescimento da expectativa de vida da população brasileira, acende-se o alerta para questões relacionadas à qualidade de vida no envelhecimento da população. Um dos aliados para a promoção da saúde e do bem-estar de pessoas idosas é a arteterapia, recurso que contribui para a melhoria da autoestima, da avaliação da autoimagem e da interação social desse grupo. É o que comprova pesquisa realizada pela professora Viviane Cristina Fonseca da Silva Jardim, do Departamento de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os dados compõem a tese de Doutorado em Enfermagem de autoria da docente, defendida, em 2021, no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPE, Campus Recife.

Intitulada “A arteterapia como intervenção na promoção da qualidade de vida da pessoa idosa”, sob a orientação da professora Eliane Vasconcelos, a tese apresenta como resultados quantitativos o aumento nos domínios avaliados pelo questionário "WHOQOL-BREF” com destaque para o aumento nas áreas de relações sociais (9,3%) e ambiente (6,2%). O modelo do questionário utilizado é composto por domínios físicos, psicológicos, de relações sociais e ambiente. Com ele, foi possível identificar quais áreas deveriam ser trabalhadas para melhorar a qualidade de vida dos idosos com a arteterapia. 

“Quando a gente identificou quais eram os domínios afetados, [...] nós planejamos as nossas vivências em arteterapia para estimular aqueles domínios”, apontou a professora Viviane Jardim. Para comparar os resultados quantitativos, o questionário foi aplicado em duas etapas, uma antes de iniciar as intervenções em arteterapia e uma após todas as intervenções. “O processo de intervenção ocorria todas as quartas-feiras no NAI [Núcleo de Atenção ao Idoso da UFPE], com duas horas e meia de duração, entre 9h e 11h30 da manhã'', explicou.

Já na análise qualitativa – realizada com 16 grupos focais, utilizando recursos expressivos de modelagem, escrita criativa, pintura e sucata –, foram coletadas 16 ideias centrais, resultantes das narrativas das pessoas idosas. Esses resultados apontam melhorias na relação com o ambiente físico, nas memórias do passado, na importância da participação em grupo e na relação com o ambiente físico. “Cada recurso expressivo da arte favorece o idoso no processo do seu autoconhecimento que leva a melhorar sua autoestima e seu bem-estar”, revelou a professora.

Outros resultados relacionados diretamente ao aumento na avaliação da qualidade de vida dos idosos participantes dizem respeito à energia para execução de atividades rotineiras, à aceitação física, à satisfação com os relacionamentos e ao lazer. “Podemos inferir que essas vivências grupais em arteterapia proporcionaram realmente a ressignificação do processo de envelhecer”, afirmou a pesquisadora. “Todas as imagens que foram criadas pelos idosos e emergidas através das narrativas deles, durante a intervenção, permitiram também essa autorreflexão”, completou.

Os dados foram coletados no período de agosto de 2019 até janeiro de 2020. O grupo participante da pesquisa foi composto por idosos vinculados ao NAI-UFPE, sendo 12 mulheres e dois homens. A professora ressaltou que “ao avaliar o ponto de corte do indicador de qualidade de vida antes das intervenções, observou-se que houve alguns indicadores de scores que estavam baixos antes, menores que 60. Isso é uma avaliação estatística indicando uma baixa condição de qualidade de vida da pessoa idosa”. A partir do momento que os idosos participantes da pesquisa eram introduzidos às práticas com arteterapia, foi percebido um aumento nos níveis relacionados à autoestima, ao bem-estar e ao autoconhecimento, o que influenciava diretamente nas relações vividas dentro e fora do núcleo.

Para avaliar as descobertas obtidas no processo, utilizou-se a síntese do discurso coletivo, a fim de contemplar o todo das experiências relatadas, sem deixar de prezar pelas características subjetivas levantadas ao longo da vivência dos participantes. “A arteterapia é um processo terapêutico que utiliza a arte como caminho de expressão do ser interno, da essência. Ela é um caminho para se expressar sentimentos, emoções e sensações”, explicou a pesquisadora. Isso frisa a importância de promover práticas que incentivam a expressão, reflexão e bem-estar, aliadas a uma busca por melhor qualidade de vida.

MOTIVAÇÃO – Partindo de experiências pessoais e acadêmicas, envolvendo o artesanato e posteriormente a criação do projeto de extensão “O uso do artesanato na qualidade de vida do idoso”, em 2012, a professora Viviane Jardim direcionou sua pesquisa para pessoas idosas. Por perceber, durante ações da extensão, que “esses idosos tinham a necessidade de se expressar”, a pesquisadora buscou complementar sua formação na área e investir nos conhecimentos voltados para práticas integrativas, como é o caso da arteterapia. 

“O idoso carrega um estigma muito grande. Então, quando a gente estimula essa pessoa idosa a se autoconhecer, ela vai ver a beleza desse processo de envelhecer com qualidade”, comentou a pesquisadora ao se referir à escolha da arteterapia para o processo de promoção da qualidade de vida para pessoas idosas.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPE
(81) 2126.8566 

ppgenfermagem.ccs@ufpe.br

Viviane Cristina Fonseca da Silva Jardim
viviane.cfsilva@ufpe.br 

Data da última modificação: 13/10/2022, 10:03