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Urbanização acelerada põe em risco acervo da Faculdade de Direito do Recife

A pesquisadora constatou que os níveis de temperatura e de umidade relativa do ar estão acima dos parâmetros considerados adequados para salvaguarda de acervos raros

Por Ellen Tavares

O elevado adensamento construtivo, a substituição da vegetação, a impermeabilização da superfície do solo e a concentração do fluxo de veículos, efeitos do processo de urbanização, contribuem para fenômenos que, em contrapartida aos benefícios de melhoria que traz para a cidade, causam impactos que afetam diretamente o meio ambiente e o patrimônio cultural. Em específico, o aumento da temperatura (imagem) e da poluição nas grandes cidades influencia na degradação e ameaça a existência de acervos bibliográficos raros.

Essa perspectiva é comprovada pela dissertação de mestrado “Um patrimônio em risco: a influência do processo de urbanização sobre a preservação do acervo de obras raras da Faculdade de Direito do Recife”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Desenvolvimento Urbano da UFPE (MDU), pela aluna Angélica Borges, servidora da UFPE, que atua como conservadora e restauradora do Laboratório de Conservação e Restauração de Obras Raras da Faculdade de Direito do Recife (Labor-FDR). 

O estudo atentou para a questão da preservação de acervos raros que estão armazenados em edificações tombadas, em meio urbano, como a Faculdade de Direito do Recife, bem como a qualidade do ambiente interno, em bibliotecas, cujo acervo necessita de cuidados especiais. A pesquisadora, orientada pelo professor Ruskin Freitas, do MDU, constatou que os níveis de temperatura e de umidade relativa do ar, dentro da biblioteca, estão acima dos parâmetros considerados adequados para salvaguarda de acervos raros. Foi constatada, também, a presença de fungos no ambiente da biblioteca que contribuem para o desenvolvimento de reações químicas e, consequentemente, para a degradação do acervo

RARIDADES | “No caso da Faculdade de Direito de Recife, esse patrimônio está em risco”, alerta Angélica. Obras como um  livro de 1927 sobre a história da Faculdade de Direito do Recife, de autoria do jurista Clóvis Beviláqua; uma primeira edição da Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, de 1891; e um diploma do começo do século XX estão ameaçadas, assim como outras obras de juristas, filósofos, poetas e políticos datadas desde 1830 e que têm contribuído para a formação do cenário jurídico e intelectual brasileiro.

A pesquisadora aponta medidas estratégicas para proteger o acervo contra os fatores externos que ameaçam a sua integridade. “As instituições responsáveis por acervos raros devem implementar procedimentos e técnicas para prevenir a deterioração com ações preventivas. É necessário um trabalho em conjunto com os poderes públicos, para administrar as ameaças, além de estabelecer estratégias estruturais e ambientais, que são medidas eficazes para preservação do acervo”, destaca. 

O processo de urbanização do Bairro da Boa Vista, área central do Recife, também foi analisado pela pesquisa. Caracterizado pela substituição sistemática da vegetação natural, pela impermeabilização do solo e pela intensificação das atividades antrópicas, sobretudo, fluxo de veículos e lançamento de partículas sólidas na atmosfera, entre outros fatores, a urbanização representa um risco para qualidade do meio ambiente, trazendo sérios danos ao patrimônio cultural. Além disso, esses fatores modificam o clima existente em um terreno, criando um microclima especifico ao redor entorno imediato. Desse modo, as variações de temperatura e umidade relativa podem ser resultado dos elementos do meio urbano analisado. 

Material de obras antigas é mais vulnerável a fatores ambientais

A maioria dos acervos de bibliotecas e arquivos do Brasil é composta por livros que foram fabricados a partir da fibra de madeira e apresentam problemas de degradação inerentes à estrutura do suporte, além dos fatores ambientais que contribuem ainda mais para o processo de deterioração. Mesmo com as novas mídias magnéticas e óticas, que surgem a cada momento, o papel ainda exerce uma posição fundamental de importância e destaque para a humanidade.

Além dos fatores internos de degradação, relacionados ao processo de produção do papel, existem os fatores extrínsecos, que são ligados diretamente às condições ambientais, com destaque para umidade relativa do ar, temperatura, luminosidade natural (UV), iluminação artificial, poluentes atmosféricos, ventilação inadequada, agentes biológicos, processos e tratamentos inadequados, bem como desastres e vandalismo. Portanto, a conservação do acervo depende das condições do meio onde ele se encontra.

Segundo a autora da dissertação, é preciso ter consciência sobre os danos causados aos acervos raros do Brasil, quando estão armazenados em ambientes instáveis e é de fundamental importância o conhecimento das fragilidades atuais no que diz respeito ao meio ambiente de salvaguarda do patrimônio e aos possíveis efeitos do meio ambiente, sobre o acervo. "Devemos preservar, sensibilizar e conscientizar sobre a importância desses bens culturais, garantindo a continuidade para apreciação das gerações presentes e futuras”, aponta Angélica

Mais informações 
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE (MDU)

(81) 2126.8311 | (81) 2126.8772
mduufpe@gmail.com

Angélica Borges
Laboratório de Conservação e Restauração de Obras Raras da FDR (Labor)

(81) 2126.7877
angelicamsborges@gmail.com

Data da última modificação: 09/10/2017, 16:47