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Publicações do MEC sobre Educação Financeira ajudam pouco no ensino da disciplina

Segundo pesquisadora, nos materiais não há indicações para os professores de como repassar o conteúdo para os alunos e não houve capacitação prévia

Por Gabriela Lázaro

O Ministério da Educação (MEC), através da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), aposta no ensino da Educação Financeira como solução futura da economia e, entre os públicos-alvo estão jovens do Ensino Médio. Pensando nisso, Inglid Teixeira da Silva, ao analisar os materiais de Educação Financeira disponibilizados pela Enef e a relação deles com a Matemática, constatou que, apesar de ajudarem na compreensão da disciplina, nos materiais não há indicações para os professores de como repassar o conteúdo para os alunos. E, segundo a pesquisadora, “nem tampouco os professores tiveram uma formação prévia para isto, o que acaba dificultando na forma de repassar os conteúdos”.

Na dissertação “Programa de Educação Financeira nas escolas de Ensino Médio: uma análise dos materiais propostos e sua relação com a matemática“, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (Edumatec) da UFPE, foram analisados três livros e três cadernos de atividades para alunos, e três livros para professores disponibilizados pela Enef. Também foram realizadas visitas em escolas da rede estadual, entrevistas e formulários com dez profissionais da educação, entre eles três professores, e seis alunos.

Orientada pela professora Ana Coelho Vieira Selva, Inglid identificou, ainda, que a Educação Financeira pode facilitar no processo de aprendizagem da Matemática em alguns assuntos como porcentagem, juros, probabilidade e estatística. “Além da relação com a Matemática, um aluno relata que a gente pode relacionar matérias como a Física, a Química, a Matemática em relação a isso, está sendo uma prática bem legal”, afirma.

Para a autora, Educação Financeira é um tema relevante para ser abordado nas escolas porque “saber lidar com as finanças é uma competência importante de ser adquirida, principalmente, para o cidadão que pertence a uma sociedade capitalista”. Os benefícios da Educação Financeira, segundo aponta, “já podem ser percebidos pelos alunos em aspectos, como ampliação da visão de mundo, controle de gastos, mudanças no ambiente escolar, planejamento para o futuro, relação com a família e tomada de decisão”.

Um dos professores abordados na sondagem elogia a iniciativa e comenta que é vantajoso trabalhar a Educação Financeira, pois “são conteúdos relacionados ao dia a dia deles, da realidade da escola, da família” e que acaba facilitando na relação dos alunos com determinadas disciplinas, o que gera um maior interesse deles.

DIFICULDADES | Apesar dos bons resultados, nem tudo funciona tão bem, de acordo com a pesquisa. Os professores encontram muitas dificuldades para repassar os conteúdos, visto que a indicação do MEC é que o ensino da Educação Financeira seja transversal, adaptado para todas as disciplinas e eles não receberam nenhuma capacitação para isso. Um dos entrevistados, que não é professor de Matemática, se queixa que “o material é muito, assim, intimamente ligado com Matemática e que, muitas vezes, é preciso pedir ajuda ao professor da área para transmitir os assuntos aos alunos”.

De acordo com a dissertação, ainda em relação aos livros, existem muitas atividades que buscam facilitar a compreensão dos assuntos relacionando-os com situações do cotidiano. Entretanto, as publicações dos professores não têm muitas orientações e não deixam claro como o material pode ser ensinado e quais as relações podem ser feitas com as disciplinas da grade curricular do Ensino Médio.

Além da dificuldade com os materiais, os professores falam que o programa não atende a necessidade de alguns alunos que muitas vezes não têm o que economizar. Diante disso, Inglid constatou que a “Educação Financeira nas escolas precisa estar além do ato de economizar, o que reforça a necessidade de formação que chame atenção para as outras questões que a Educação Financeira pode abordar”.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica da UFPE
(81) 2126.8952
edumatec@ufpe.br

Inglid Teixeira da Silva
inglidteixeira@yahoo.com.br

Data da última modificação: 10/10/2018, 16:00