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Pesquisa sobre a etnofarmacologia do povo Guarani-Kaiowá contribui para fortalecimento do Acervo Pohã Ñana

Com informações da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Pernambuco

Com informações da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Pernambuco

Pesquisadoras indígenas da etnia Guarani-Kaiowá, representantes da Fiocruz Pernambuco e da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e docentes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) reuniram-se, na semana passada, para a devolutiva do projeto de pesquisa “Acervo Pohã Ñana: acesso e proteção do conhecimento tradicional para o cuidado em saúde”. Na ocasião, o grupo também participou de uma oficina sobre a Lei 13.123 de 2015, conhecida como Lei da Biodiversidade, que regulamenta o acesso e a proteção ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado para promover a conservação e o uso sustentável da biodiversidade, assim como a repartição justa e equitativa de benefícios.

Fotos: Fiocruz Pernambuco

Kellen Vilharva e Aparecida Benites participaram das atividades

Parceria entre Fiocruz Pernambuco e UFPE com financiamento via Edital Inova Saúde Indígena, o projeto ofertou treinamento aos indígenas para a coleta de plantas, preparação de exsicatas (exemplares de planta seca e prensada para identificação botânica), análise química e biológica de plantas usadas nas comunidades para o tratamento da tuberculose (TB) e de outras doenças respiratórias. O treinamento para a coleta de plantas e a entrevista sobre os seus usos medicinais ocorreram, em maio e junho de 2021, de forma on-line e contaram com a participação de indígenas de cinco aldeias (Amambai, Limão Verde, Guassuty, Taquaperi e Jaguapiré), localizadas no Mato Grosso do Sul. O objetivo principal é assegurar a preservação e garantir que a difusão do conhecimento tradicional acerca das plantas medicinais utilizadas pelos indígenas receba a repartição adequada de benefícios e atenda às necessidades dos povos envolvidos na iniciativa.

Posteriormente, os professores da UFPE René Duarte Martins (Centro Acadêmico de Vitória – CAV) e Rafael Matos Ximenes (Centro de Biociências – CB/Campus Recife) estiveram nas aldeias para fazer a coleta das plantas medicinais, junto com os indígenas Jhon Tailor, Lucia Pereira, Kellen Natalice Vilharva e Aparecida Benites. Nesse período, foram testadas dez plantas, as quais originaram 14 extratos, que foram testados no tratamento de inflamação pulmonar, causada por diversas doenças infecciosas, e contra três micro-organismos patogênicos: Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. 


Equipe do projeto reunida na Fiocruz Pernambuco

Os testes foram realizados no Laboratório de Etnofarmacologia e Fitoquímica do Departamento de Antibióticos da UFPE, coordenado pelo professor Rafael Ximenes, mesmo local onde a pesquisadora indígena Kellen Natalice Vilharva (Xamiri Yruape Hu’yrendy em Guarani-Kaiowá), que é bióloga e doutoranda em Clínica Médica pela Universidade de Campinas (Unicamp), recebeu treinamento para realizar análises químicas e biológicas das plantas medicinais nas últimas três semanas. A indígena e historiadora Aparecida Benites (Kuña Mbo’y Arandu) também participou das atividades presenciais na última semana.

Nas próximas etapas do projeto, os extratos das plantas utilizadas em terapias auxiliares ou no tratamento da tuberculose pulmonar, da covid-19 e de outras doenças respiratórias serão avaliados no Departamento de Imunologia da Fiocruz Pernambuco, com coordenação da pesquisadora Lilian Montenegro. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho, coordenadora do projeto e do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (Observapics), essas análises irão subsidiar um possível pedido de patente em nome da população indígena Guarani Kaiowá.

As espécies de plantas testadas integram o acervo descrito no livro “Pohã Ñana: Nãnombarete, Tekoha, Guarani Ha Kaiowá Arandu Rehegua” (Plantas medicinais: fortalecimento, território e memória Guarani e Kaiowá), lançado em 2020. Um outro produto a ser entregue à comunidade indígena, como parte das ações do projeto, será a Cartilha Ilustrada sobre Conhecimentos Tradicionais e Repartição de Benefícios, cujos trabalhos foram coordenados pelo professor René Duarte Martins e que foi construída coletivamente pelo grupo de pesquisadores da Fiocruz, UFPE e pesquisadores indígenas.

Segundo o pesquisador da ENSP/Fiocruz e vice-coordenador do projeto, Paulo Basta, no futuro será trabalhada a divulgação das plantas identificadas junto à comunidade, em uma atividade que envolverá professores, lideranças e detentores do conhecimento tradicional para elaborar projetos de preservação e/ou produção agroecológica nas aldeias, como forma de valorizar os saberes tradicionais em saúde.

Mais informações
Professor Rafael Matos Ximenes

rafael.ximenes@ufpe.br
Professor René Duarte Martins
rene.duarte@ufpe.br

Data da última modificação: 12/05/2022, 16:16