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Duas novas espécies de fungos do gênero Penicillium são descobertas por pesquisadoras da UFPE

As espécies Penicillium gercinae e Penicillium stangiae recebem nome em homenagem a defensoras da reforma agrária no país

Por Raiane Andrade

A doutoranda Amanda Lucia Alves, do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos (PPGBF) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fez a descoberta de novas espécies de fungos no território brasileiro. Os resultados da pesquisa são provenientes do projeto de extensão “Monitoramento participativo de micro-organismos em policultivos de transição agroecológica no Assentamento Chico Mendes III: uma aproximação do conhecimento científico e o conhecimento dos agricultores”, coordenado pela professora Patricia Vieira Tiago.

O projeto de extensão permitiu monitorar os fungos das plantas cultivadas, bem como os presentes no solo. Em 2016, Amanda Alves iniciou seus estudos baseados na análise de amostras de solo coletadas em três áreas: no sistema agroflorestal (SAF) da agricultora Gercina Maria da Costa, no fragmento de Mata Atlântica e na área de consórcio de três culturas (macaxeira, jerimum e quiabo).

As novas espécies de Penicillium foram identificadas durante a análise de fungos presentes nos solos de duas localidades pertencentes ao município de Paudalho, em Pernambuco. Na análise de solo da propriedade de Gercina, situada no Assentamento Chico Mendes III, foi descoberta a espécie Penicillium gercinae, que recebeu esta nomenclatura em homenagem à agricultora. Gercina implementou o sistema agroflorestal (SAF), caracterizado por plantios diversificados em uma mesma área e adotou a transição agroecológica. Esta, por sua vez, consiste na mudança do sistema de cultivo convencional para o sistema produtivo de base ecológica.

Já a outra espécie nomeada Penicillium stangiae, em homenagem à Dorothy Mae Stang, foi encontrada na Mata Atlântica próxima ao assentamento. A religiosa, conhecida por Irmã Dorothy, lutava pela proteção da floresta Amazônica e defendia uma reforma agrária justa.

A descoberta possui grande relevância científica, visto que “a diversificação de plantas e o manejo sustentável em ambientes agrícolas suprimem a ação patogênica de diversos micro-organismos, fazendo com que cada um fique em seu nicho ecológico mantendo o ambiente em equilíbrio dinâmico, como é observado em ambientes naturais”, aponta Amanda Alves. Logo, as espécies de fungos do gênero Penicillium proporcionam benefícios ao agroecossistema. Dessa forma, como decompositores de matéria orgânica, produzem nutrientes para o desenvolvimento das plantas, além de protegê-las de doenças e pragas. “Os fungos que pertencem a este gênero possuem diferentes aparatos enzimáticos que realizam a decomposição da matéria orgânica do solo melhorando a qualidade física e química deste”, complementa.

Ainda conforme a pesquisadora, dentro do gênero Penicillium, existem grupos comumente encontrados como o que pertence a espécie P. stangiae (Lanata-divaricata) e grupos raros como o que pertence a nova espécie P. gercinae (Ramigena). O grupo Ramigena, no qual pertence P. gercinae, é raro no mundo, visto que cresce em poucos substratos em condições de laboratório. “Foram quase dois anos testando diferentes meios de cultura, diferentes condições de pH e submetendo-os a diferentes temperaturas, além de diferentes programações para amplificação do DNA”, explica.

Quanto ao processo de análise, este ocorreu no Laboratório de Fungos Fitopatogênicos e Biocontroladores, no Departamento de Micologia da UFPE. Dessa maneira, a partir da metodologia de isolamento de fungos de solo, foi realizada a identificação morfológica e de partes de regiões gênicas dos fungos. Ao descrever as características morfológicas e investigar o DNA, é possível verificar a qual gênero eles pertencem. “É com base na análise das características morfológicas que a gente analisa as características da colônia, como ela cresce, e isso tem que ser analisado em meios de cultura específicos”, comenta a professora Patrícia.

Em resumo, o procedimento adotado consistiu na coleta do solo, realização de uma diluição seriada em água destilada esterilizada e transferência das amostras para um meio de cultura. Após o processo de incubação, há o crescimento de diferentes colônias. Em seguida, cada uma delas é purificada para que assim seja feita a identificação dos fungos.

De acordo com a docente Patricia Tiago, o Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos da UFPE é o único desta área no Brasil. Trata-se de uma área de estudo que tem muito a ser estudada e explorada. O artigo referente à descoberta das novas espécies de Penicillium foi publicado na revista científica Acta Botanica Brasilica, intitulado Penicillium gercinae and Penicillium stangiae (Eurotiomycetes, Ascomycota), two new species from soil in Brazil”. 

Mais informações
Instagram do Laboratório de Fungos Fitopatogênicos e Biocontroladores
@lab_fito_ufpe 

Data da última modificação: 17/03/2023, 14:26