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Sintomas persistentes pós-alta e qualidade de vida relacionada à saúde após a hospitalização por COVID-19

A maioria dos pacientes hospitalizados por Covid-19 ainda possuem sintomas persistentes, especialmente fadiga e dispneia, mesmo 110 dias após terem alta. É o que mostra uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Paris e pelo Centro de Epidemiologia e Saúde Pública de Villejuif, na França. Além disso, os achados ainda revelam a necessidade de um acompanhamento a longo prazo dos pacientes, associados a programas de reabilitação. O estudo também mostrou que muitos pacientes (principalmente mulheres) reportaram significante perda de cabelo durante o processo, o que pode corresponder a um eflúvio telógeno (condição reversível em que o cabelo cai), secundário à infecção viral, e/ou a um estresse gerado pela própria hospitalização e pela doença.

 

Título Original: Post-discharge persistent symptoms and health-related quality of life after hospitalization for COVID-19

Título Traduzido: Sintomas persistentes pós-alta e qualidade de vida relacionada à saúde após a hospitalização por COVID-19

Autores: Eve Garriguesa , Paul Janvierb , Yousra Kherabia , Audrey Le Bota , Antoine Hamona, Hélène Gouzea, Lucile Douceta, Sabryne Berkania, Emma Oliosia, Elise Mallarta, Félix Correa, Virginie Zarrouka, Jean-Denis Moyerc, Adrien Galya, Vasco Honsela, Bruno Fantina & Yann Nguyenad.

 

a Departamento de Medicina Clínica, Hospital Beaujon, Universidade de Paris, Clichy, França

b Departamento de Radiologia, Hospital Beaujon, Universidade de Paris, Clichy, França

Departamento de Anestesiologia e Tratamento Intensivo, Hospital de Beaujon, Universidade de Paris, Clichy, França

d Centro de Epidemiologia e Saúde Pública, Villejuif, França

 

Projeto Covid-19 e a Matemática das Epidemias - Fazendo a Ponte entre Ciência e Sociedade

 

Tradução: Danillo Barros de Souza e Jonatas Teodomiro

Síntese: Camila Sousa e Júlia Lyra

Coordenação: Felipe Wergete Cruz 

 

Introdução

A maioria dos pacientes hospitalizados por Covid-19 ainda possuem sintomas persistentes, especialmente fadiga e dispneia, mesmo 110 dias após terem alta. É o que mostra uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Paris e pelo Centro de Epidemiologia e Saúde Pública de Villejuif, na França. 

Além disso, os achados ainda revelam a necessidade de um acompanhamento a longo prazo dos pacientes, associados a programas de reabilitação. O estudo também mostrou que muitos pacientes (principalmente mulheres) reportaram significante perda de cabelo durante o processo, o que pode corresponder a um eflúvio telógeno (condição reversível em que o cabelo cai depois de uma experiência estressante), secundário à infecção viral, e/ou a um estresse gerado pela própria hospitalização e pela doença. 

Apesar disso, a maioria dos pacientes que possuíam atividade profissional antes da infecção voltaram a trabalhar.

 

Destrinchando

Durante as análises dos casos, o trabalho levou em consideração os sintomas persistentes pós-alta e a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) de pacientes hospitalizados numa unidade de enfermaria de Covid-19 mais de 100 dias após sua admissão. Para tanto, a pesquisa utilizou dados demográficos e clínicos extraídos de registros médicos eletrônicos do referido hospital. 

Os pesquisadores desenvolveram um pequeno questionário acessível pelo celular dos pacientes para coletar sintomas clínicos pós-alta, pontuação na escala de dispneia (falta de ar), atividades profissionais e físicas e distúrbios de atenção, memória e/ou sono. Pacientes falecidos, inacessíveis, com demência, de cama e não-falantes de francês foram excluídos. 

Também foi pedido que os infectados avaliassem seu estado de saúde numa escala de 1 a 5 em cinco categorias distintas (mobilidade, autocuidado, atividades comuns, dor/desconforto e ansiedade/depressão) e em uma escala de 0 a 100, que corresponde da pior à melhor saúde possível. Em cima das respostas, um índice-EQ-5D pode ser calculado, indo de estados piores que a morte (< 0) até saúde total (1). 

Foram comparados os pacientes tratados na enfermaria do hospital sem precisar de tratamento intensivo (“grupo da enfermaria”) com aqueles que foram transferidos para unidades de tratamento intensivo (UTI) para ventilação artificial. Todos os testes foram bicaudais (uma maneira de computar significância estatística de um parâmetro inferido a partir de um conjunto de dados) e um P-valor < 0.05 foi considerado estatisticamente significante.

 

Notas explicativas + gráficos

Entre os 279 pacientes hospitalizados no período de 15 de março a 14 de abril de 2020 na unidade de Covid-19, 48 foram levados para a UTI e 57 pacientes morreram em três meses após a admissão no hospital. Depois de uma média de 110.9 dias, o sintoma persistente reportado com mais frequência foi fadiga (55%), seguido de dispneia (42%), perda de memória (34%) distúrbio de concentração e de sono (28% e 30.8%, respectivamente) - veja a Tabela 1. 

A perda de cabelo foi reportada por 24 pacientes (20%), incluindo 20 mulheres e 4 homens. Nenhuma diferença estatisticamente significativa em termos de sintomas foi identificada na comparação entre os pacientes da enfermaria e da UTI.

Antes da infecção por Covid-19, 56 (46.7%) deles eram trabalhadores ativos, dos quais 38 (69.1%) tinham voltado a trabalhar até o momento da entrevista, 28 tinham atividades esportivas regulares antes da hospitalização por Covid-19 (71.8%) e conseguiram voltar com as atividades físicas, mas em um nível mais baixo. 

Em ambos os grupos, dimensões do EQ-5D foram alteradas com uma pequena diferença em dor no grupo da UTI, mas nenhuma diferença estatisticamente significativa em outros grupos (Figura 1). A média EQ-VAS foi 70.3% e a média do índice EQ-5D foi 0.86, sem diferença entre os pacientes da UTI e da enfermaria (Tabela 1).

Exceto por dor e desconforto, não foi encontrada nenhuma diferença estatisticamente significativa em relação à persistência dos sintomas e da QVRS entre os pacientes da enfermaria versus os da UTI. Isso claramente apoia o interesse de uma reabilitação completa para pacientes de Covid-19, independente de cuidados pesados. No entanto, os pacientes do “grupo da UTI” eram casos relativamente não-graves, pois aqueles que foram internados diretamente na UTI (correspondendo, portanto, às formas mais graves) não foram incluídos no estudo.

 

Para ler a resenha completa do artigo em PDF por favor clique aqui.

 

Data da última modificação: 02/12/2020, 19:29