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Megacariócitos e trombos de fibrina plaquetária caracterizam a trombose de múltiplos órgãos em autópsias de COVID-19: Uma série de casos

Enquanto a maioria dos pacientes com Covid-19 apresentam sintomas leves, sérias complicações, incluindo Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), choque hipovolêmico, insuficiência renal aguda e arritmia, contribuem para a alta taxa de mortalidade do novo coronavírus. Com o objetivo de investigar a relação entre a infecção e a condição clínica, um estudo norte-americano, publicado na revista científica online ClinicalMedicine, se debruçou sobre os resultados das primeiras sete autópsias do centro médico acadêmico de Nova York, incluindo achados nos pulmões, coração, rins, fígado e ossos.

Título Original: Megakaryocytes and platelet-fibrin thrombi characterize multi-organ thrombosis at autopsy in COVID-19: A case series

Título Traduzido: Megacariócitos e trombos de fibrina plaquetária caracterizam a trombose de múltiplos órgãos em autópsias de COVID-19: Uma série de casos

Autores: Amy V. Rapkiewicz1, Xingchen Mai2, Steven E. Carsons1, Stefania Pittaluga3, David E. Kleiner3, Jeffrey S. Berger2, Sarun Thomas1, Nicole M. Adler2, David M. Charytan2, Billel Gasmi3, Judith S. Hochman2, Harmony R. Reynolds2

1 Hospital Winthrop da Universidade de Nova York, Departamento de Patologia, Escola de Medicina de Long Island, Mineola, Nova York, Estados Unidos
2 Escola Grossman de Medicina da Universidade de Nova York, Nova York, Nova York, Estados Unidos
3 Centro de Pesquisa sobre Câncer, Instituto Nacional de Câncer, Institutos Nacionais de Saúde, Bethesda, Maryland, Estados Unidos


Projeto Covid-19 e a Matemática das Epidemias - Fazendo a Ponte entre Ciência e Sociedade

Tradução: Danillo Barros de Souza e Jonatas Teodomiro

Síntese: Camila Sousa e Júlia Lyra

Coordenação: Felipe Wergete Cruz


Introdução
Enquanto a maioria dos pacientes com Covid-19 apresentam sintomas leves, sérias complicações, incluindo Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), choque hipovolêmico, insuficiência renal aguda e arritmia, contribuem para a alta taxa de mortalidade do novo coronavírus.

Há algum tempo, estudos têm observado complicações trombóticas (referente ao trombo, coagulação de sangue no interior do vaso sanguíneo) em pessoas infectadas pela doença, e
também que, na ausência de trombose venosa profunda de membros inferiores, a trombose pulmonar é vista frequentemente.

Com o objetivo de investigar a relação entre a infecção e a condição clínica, um estudo norte-americano, publicado na revista científica online EClinicalMedicine, se debruçou sobre os resultados das primeiras sete autópsias do centro médico acadêmico de Nova York, incluindo achados nos pulmões, coração, rins, fígado e ossos.


Destrinchando
Na série de autópsias analisada no artigo, feitas em pacientes que faleceram devido a Covid-19, há várias situações unificadoras observadas na histopatologia (estudo de como uma doença específica afeta um conjunto de células). A trombose é uma característica proeminente em diversos órgãos, sugerindo que a sua formação se apresenta bem no início do desenvolvimento da doença. Também foram identificados trombos na microvasculatura pulmonar, hepática, renal e cardíaca.

A natureza extensiva dos trombos nos capilares alveolares (os alvéolos pulmonares são responsáveis pelas trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo) pode explicar a interrupção na oxigenação de forma exagerada no começo dos sintomas em pacientes de Covid-19.

Isso sugere evidência de incompatibilidade ventilação-perfusão não relacionada à formação de membrana hialina (um material eosinofílico amorfo, revestindo ou preenchendo os espaços de ar e bloqueando a troca de gás). A ventilação pulmonar é a renovação do ar que vai pelas vias de condução até os pulmões, mais especificamente aos alvéolos. Já a perfusão consiste na passagem do sangue pelo capilar pulmonar, carregando o oxigênio para nutrição tecidual.

Vale destacar que todos os pulmões dos casos estudados apresentavam achados histopatológicos de dano alveolar difuso, que foi a lesão mais frequentemente relatada em autópsias de coronavírus até então. Houve a presença de microtrombos e megacariócitos circulando em vários órgãos, o que sugere que esses fatores tenham um papel no desenvolvimento da trombose.


Notas explicativas + gráficos
A Tabela 1 resume a situação clínica de cada caso. O intervalo de idade foi de 44 a 65 anos, e quatro dos sete casos foram mulheres. Independente do estado de anticoagulação, todas as autópsias mostraram trombos ricos em plaquetas na microvasculatura pulmonar, hepática (referente ao fígado), renal e cardíaca.

Megacariócitos (células da medula óssea, responsáveis pela produção de plaquetas sanguíneas) foram vistos em números maiores do que o normal nos pulmões e no coração. Dois casos apresentavam trombos nas grandes artérias pulmonares. Não foram encontrados trombos na veia cava inferior (principal veia que transporta o sangue venoso do abdómen e dos membros inferiores para o coração), mas as veias profundas da perna não foram dissecadas.

Dois casos apresentaram trombose venosa cardíaca e um caso apresentou infarto do miocárdio septal associado a trombose venosa intramiocárdica. Um caso apresentou inflamação aguda focal com predomínio de linfócitos no miocárdio. Por outro lado, as alterações causadas pela Covid-19 nas células cardíacas foram limitadas a inflamação mínima da membrana que envolve o coração, lesões causadas pela falta do fornecimento de sangue e trombos murais.

A presença de microtrombos foi uma característica renal proeminente e a lesão renal foi observada em vários casos. Algum tipo de glomerulopatia (nome dado ao grupo de doenças que acometem os glomérulos, uma estrutura microscópica existente nos rins, que é responsável pela filtração do sangue e produção da urina) significativa estava notavelmente ausente.

Diversos microtrombos foram identificados nos sinusóides hepáticos (capilares sanguíneos que recebem sangue oxigenado da artéria hepática e sangue rico em nutrientes da artéria hepática e sangue, rico em nutrientes, da veia porta hepática). Todos os pulmões exibiram dano alveolar difuso. Três casos apresentavam casos de broncopneumonia (inflamação dos brônquios, bronquíolos e alvéolos vizinhos).

Para ler o artigo na íntegra por favor clique aqui. 

Data da última modificação: 24/11/2020, 16:11