Notícias Notícias

Voltar

Entrevista Com José Bento sobre 130 anos da abolição.

O que essa comemoração significa para o senhor que é professor e como você vê esses 130 anos?

As datas. Para que servem as datas? Alfredo Bosi nos adverte: 'As  datas são pontas de iciberg'. Portanto, devemos observar para além delas, sobretudo o que não aparece, o que está por debaixo...É o caso do processo da abolição legal da escravidão. Além do projeto que 'vingou', quais outros projetos que existiam e não 'vingaram'?. E mais, o movimento abolicionista não foi homogêneo. O que já se ouviu falar dos escritos [projetos] de André Rebouças? Muito se ouve de Joaquim Nabuco. E os demais? Entre Nabuco e Rebouças, qual o projeto estava mais próximo dos desejos dos escravizados? As datas servem para pensar nas datas, ou melhor, na sua construção e naquilo que ela não diz, mas que existiu.

Então, os 130 anos da abolição legal da escravidão nos faz pensar inclusive no pós abolição, nas permanências que não foram rompidas. Neste sentido, recorro a Nabuco: "Não basta acabar com a escravidão,é preciso destruir sua obra".  Obra não destruída da escravidão estão aí. As vítimas 'preferências' da violência policial quem são? As estatísticas  estão aí, basta consultar os dados do IBGE: na população negra. E por aí vai...

 

Acerca do NEAB, o que ele organizou para a comemoração? E quais são os principais pontos que o evento trouxe para a universidade?

Neste mês, centramos o nosso programa CINEAB na temática da abolição e pós abolição.
O que é o CINEAB? É o cinema do NEAB. Um projeto de extensão que tem como finalidade levar documentários curtos nas escolas públicas municipais e estaduais [eventualmente, quando convidados, também em escolas privadas]. Os docs. são temas que falam das relações raciais no Brasil, na cultura afro-brasileira e em temas da História da África.

No dia 25 de maio, dia da África, fizemos uma aula pública sobre História da África, no Hall do Centro de Educação- CE [a sede do Neab fica no CE]. Um documentário curto e logo em seguida o debate.

 

Como o senhor vê os movimentos sindicais ligados a questão negra nesse momento dos 130 anos?

Na verdade não tenho visto muita coisa! De modo geral, o movimento sindical, em minha opinião, está um tanto retraído, assim como o movimento social como um todo. Exceto o Movimento dos Trabalhadores Sem terra e o Movimentos dos Sem Teto. Me parece que até o Movimento Negro em suas diversas forma de organização está um pouco encolhido. Se bem que o Movimento Negro sempre privilegiou o Dia da Consciência Negra, 20 de Novembro, do que o 13 de maio. Voltando ao Movimento  Sindical: alguns tinham e têm pauta específica para a questão racial, questâo de gênero, de orientação sexual, LGBT, TRANS, etc, etc... mas ainda são poucos. E estes poucos, como disse acima, me parecem retraídos na atual conjuntura. Esta é minha impressão. Tomara que eu esteja equivocado... Tenho quatro graus de miopia em cada vista, mas além da vista, eu tenho outros sentidos. Não é possível que todos estejam 'me traindo'...

 

José Bento Rosa da Silva

Possui graduação em História pela Fundação do Pólo Regional do Vale do Itajaí (1985), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994) e doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco.  Vinculado ao Centro De Estudos Africanos da Universidade do Porto(Portugal- 2002/2016) Vice-coord. do Instituto de Estudos da Africa na Universidade Federal de Pernambuco[2016-2017]

 

Por Samara França. 

Data da última modificação: 07/06/2018, 11:33