Sustentabilidade, economia circular, segurança alimentar, ecologia. São esses alguns dos principais norteadores da startup REMINERA, iniciativa integrante do Programa de Incubação do Polo Tecnológico e Criativo da UFPE. A empresa surgiu durante a pandemia, sob comando de Nayara Mesquita, Valdielly Silva e Thales Lúcio, geólogos e mestres em Geociências formados pela universidade, e tem como principal objetivo oferecer assessoria e consultoria em Geologia e Meio Ambiente.

Atentos aos diversos acontecimentos trágicos envolvendo barragens de estéril, derramamento de óleo nas costas, e a crescente execução de agricultura insustentável no Brasil durante os últimos anos, os pesquisadores sentiram uma imanente necessidade de partir em busca de soluções dentro de sua área. A essa altura já envoltos com questões de sustentabilidade, além de empreendedorismo social e ativismo ambiental, enxergaram no REMINERA uma excelente oportunidade para alcançar seus objetivos.

“Eu tinha graduação e mestrado em Geologia, especificamente na área de Geociências, e quando o projeto surgiu estava terminando o MBA em Inovação e Negócios Sustentáveis. Estava querendo dar início a algum novo negócio dentro na Geologia que trouxesse essa pegada sustentável, de economia circular e que falasse sobre as ODS (17 objetivos sustentáveis da ONU). Comecei a estudar sobre remineralização, rochagem, chamei Val, que hoje é minha sócia, e a gente formou um grupo de estudos. Reunimos informações, falamos com pessoas que eram referências na área e também com possíveis clientes”, explica Nayara.

Através de experiências anteriores com estudos de rochas, os desenvolvedores deram o primeiro pontapé no projeto através da utilização da farinha de pedra como fertilizante de solo que auxiliaria na redução fertilizantes químicos. Posteriormente, e após indicação da especialista em mineralização, professora pesquisadora da Universidade de Brasília, Suzi Theodoro, o REMINERA ganhou o título de startup e ingressou no programa de incubação desenvolvido pela UFPE.

Valdielly destaca a importância do apoio oferecido pela universidade durante esse processo “O nosso vínculo começou em 2020, quando passamos no primeiro edital de seleção do programa de incubação da universidade. O Polo Tecnológico e Criativo da UFPE nos dá todo o suporte necessário para o nosso desenvolvimento como empresa: mentoria em negócios, acesso a laboratórios, viabilização de parcerias… A lista é grande. Somos um negócio de base científica e ter esse pontapé inicial na universidade – junto a professores mentores e acesso a laboratórios – é fundamental para a gente transformar nosso conhecimento em agrogeologia em soluções de mercado”.

Para Nayara “O polo é um ambiente que incentiva esse empreendedorismo que vem de dentro da universidade, que vem a partir de pesquisa, além de nos dá suporte de espaço físico, porque nosso escritório é dentro da faculdade. Os laboratórios que a gente precisa pra análise, parcerias com laboratórios, até nossos projetos de base tecnológica também são feitos em conjunto com os centros de informática, então nasceu tudo muito dentro da UFPE”.

Em relação aos serviços oferecidos pela startup, além a utilização do pó de rocha, também são realizadas consultorias com mineradoras e pedreiras do Brasil a fim de auxiliá-las a utilizarem seus estéreis e rejeitos para fins agrícolas. “A REMINERA é uma startup que desenvolve pesquisa e consultoria em rochagem, que é a prática de utilização de pó de rocha para fertilização e condicionamento do solo. Ajudamos mineradoras e pedreiras do Brasil a avaliar o potencial de uso dos seus rejeitos na agricultura, e, nos casos positivos, a criar produtos”, pontua Valdielly.

Durante o ano de 2021 a REMINERA obteve o título  de primeira startup do Nordeste na área de Agrogeologia a obter o cadastro de prestador de serviços de análises laboratoriais no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A qualificação permite uma atuação ainda mais incisiva dentro do setor:

“Um dos nossos principais serviços é o de consultoria, de estudar o rejeito, compreender se ele pode ser aplicado ou não no solo de acordo com suas propriedades químicas, físicas, minerológicas, entender a eficiência agronômica desse pó de rocha, para só então cadastrar o produto no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e possibilitar a sua venda para os agricultores”, diz Nayara.

Tendo como um dos principais pilares a preocupação com um futuro ambientalmente sustentável a REMINERA mantém todas as suas ações voltadas a esse propósito. “A gente aplica a lógica da economia circular dentro da mineração e esse produto é sustentável, um produto aceito por agricultores orgânicos, agricultores familiares, porque é mais barato. Então, acabamos abrindo acesso para esse tipo de fertilizante, para esse tipo de recuperador de fertilização natural do solo. Além disso, uma coisa muito relevante é o fato de que o Brasil importa 80% dos seus fertilizantes, a maioria químicos, enquanto gente tem uma potencialidade, uma geodiversidade de rochas excelente. Por isso, o trabalho do REMINERA acaba focando também na soberania nacional, na soberania alimentar, pois incentivamos um produto nacional, um fertilizante mineral nacional. Nesse cenário de guerra na Rússia, por exemplo, local de onde o Brasil importa 20% dos fertilizantes, somado a alta do dólar, o preço cresce notoriamente. É importante a soberania nacional no sentido de valorizar o nosso poder de produção e de sustentabilidade”, conclui.