Asset Publisher Asset Publisher

Back

Maior densidade construída, verticalização e pouca vegetação auxiliam no acúmulo de calor

Pesquisa foi conduzida pelos professores Ruskin Freitas e Jaucele Azerêdo, do DAU, e pelos alunos Laís Carvalho e Renato Costa, do curso de Arquitetura

Por Larissa Valentim

O aumento populacional, principalmente nas cidades grandes, aliado à escassez de espaços livres de urbanização, e a continuidade de ocupação e uso do solo sem as devidas preocupações com as características do ambiente podem gerar a saturação dos espaços. Sobre essa constatação, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) de 2016 aponta as cidades como foco dos fatores antropogênicos, derivados de atividades humanas, para as alterações no clima. E, diante desta perspectiva, o artigo científico Mapa climático como instrumento para o planejamento urbano buscou “analisar aspectos do acúmulo de calor provocados no clima urbano e sugerir a adequação de projetos de urbanismo, com vistas a proporcionar qualidade de vida aos usuários”.

O estudo, realizado pelos professores Ruskin Freitas e Jaucele Azerêdo, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, e pelos graduandos Laís Carvalho e Renato Costa, do curso de Arquitetura, também identificou 14 microclimas em três macrozonas, sendo elas a litorânea, com quatro microclimas; planície, com seis; e morros, com outras quatro zonas microclimáticas. Segundo a pesquisa, as macrozonas de planície e litoral, que possuem maior densidade construída, verticalização e pouca presença de vegetação, apresentam os maiores impactos de acúmulo de calor. Em contrapartida, as zonas com maior densidade de vegetação e os morros não ocupados aparecem como zonas de amenização, ou seja, escapam dos microclimas mais tórridos.

Analisando os bairros da Soledade e da Boa Vista, os pesquisadores identificaram oito microclimas, sintetizados em três classes de acúmulo de calor, de médio a muito alto (1,75°C a 6°C), com predominância ao índice mais alto (3,75°C a 4,75°C). Esse maior registro do aquecimento é, segundo analisam, “resultante da distância das massas de água, da pouca existência de vegetação, do alto adensamento construtivo e da diminuição dos fluxos de ventos”. As áreas amenas, que possuem menor concentração de calor, se encontram isoladas nos pontos de espaços abertos, como praças e lotes de edifícios institucionais. Já as ilhas de calor “compreendem o centro verticalizado, com alta densidade construída e maior atividade comercial, concentrando os fluxos de pessoas e de veículos”, diz a pesquisa.

ALERTA  | O estudo alerta que a saturação ambiental pode resultar em danos irreversíveis, em escala regional e local. “Existe a possibilidade de as zonas com microclimas com acúmulo de calor se expandirem em função das práticas urbanas valorizadas pelo mercado imobiliário e permitidas pela legislação”, aponta o trabalho. Os pesquisadores destacam uma contribuição das mudanças locais para as mudanças globais. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2018), “estima-se que as atividades humanas tenham causado cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais” e que “é provável que o aquecimento global atinja 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue a aumentar no ritmo atual”.

Por isso, os pesquisadores enfatizam a importância da criação dos mapas voltados para Recife, para determinados bairros e “também incentivam a continuidade das pesquisas para os demais bairros da cidade, assim como para outros municípios, observadas as especificidades de cada localidade” e esperam que o estudo contribua com a gestão urbana, “para que esta atue sobre as áreas críticas e promova, com base na revisão de parâmetros urbanísticos, diretrizes para a adequação de projetos em escalas urbana e arquitetônica”.

Mais informações

Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE
departamento.arquitetura@ufpe.br

Professor Ruskin Fernandes Marinho de Freitas 
ruskin.freitas@ufpe.br

Date of last modification: 26/08/2021, 13:51