Asset Publisher Asset Publisher

Back

Estudo indica fatores ligados ao envelhecimento biológico precoce em pessoas com HIV

Enfraquecimento das células de defesa T CD4 é o principal fator associado ao envelhecimento biológico em idosos soropositivos

Por Anthony Santana

Um estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mapeou fatores que estão associados ao envelhecimento biológico precoce de pessoas idosas que vivem com o HIV. De acordo com a pesquisa, o enfraquecimento das células responsáveis por defender o organismo, denominadas linfócitos T CD4, é a principal característica percebida em pessoas com envelhecimento biológico precoce. Essa relação foi demonstrada na tese de doutorado “Fatores associados ao envelhecimento biológico precoce em pessoas idosas com HIV", de autoria da médica geriatra Isaura Romero Peixoto e defendida em 2022.

Para entender melhor a pesquisa, é importante conceituar a diferença entre idade biológica e idade cronológica. A cronológica é a idade relacionada à data de nascimento, já a idade biológica está diretamente ligada ao sistema metabólico do indivíduo e nem sempre acompanha a idade cronológica. No caso das pessoas que vivem com HIV, a diferença entre a idade cronológica e a biológica é de dez anos a mais, em média, sendo essas pessoas já consideradas idosas aos 50 anos. Segundo a pesquisadora, considerar a idade biológica na geriatria é importante porque “ela determina mais fielmente o status da pessoa do que a idade cronológica, pois ela faz uma projeção para o futuro, porque a partir do momento que a idade biológica é definida se tem perspectiva de expectativa de vida”.

As pesquisas que determinam a idade biológica se utilizam do material genético humano e, por isso, são muito caras. O diferencial do estudo em questão foi a utilização de uma ferramenta de inteligência artificial denominada Deep Learning, que, traduzida para o português, significa aprendizado profundo e é utilizada para o reconhecimento de objetos e até a tradução da voz em tempo real. A tecnologia é o que existe de mais moderno para estimar a idade metabólica por meio de exames de sangue da prática diária, como os de glicose ou o hemograma, por exemplo, o que tornou mais baixo o custo de realização da pesquisa. Essa iniciativa marca um avanço nos estudos relacionados à idade biológica, e os resultados foram fiéis aos estudos que empregam os métodos genéticos até então utilizados, como salientou a pesquisadora. 

O estudo conduzido pela pesquisadora Isaura Romero Peixoto, sob orientação da professora Heloísa Ramos Lacerda de Melo, foi realizado em dois ambulatórios especializados em HIV, localizados no Hospital das Clínicas da UFPE e no Hospital Oswaldo Cruz, ambos no Recife. Durante o período de dois anos, participaram das análises 59 pessoas idosas de ambos os sexos, que tiveram a idade biológica estimada e os fatores associados ao envelhecimento precoce mapeados. 

A pesquisa concluiu que os fatores associados ao envelhecimento biológico precoce em pessoas com HIV são a contagem baixa de linfócitos T CD4, responsáveis por parte do sistema de defesa do organismo, e ainda a existência de doenças como a diabetes e cardiovasculares. Não existem no Brasil muitos estudos que mostrem a prevalência de diabetes em idosos com HIV, por isso, o estudo é de suma importância para que haja uma atenção maior a essa questão.

Ainda segundo a pesquisadora, o trabalho é importante para dar visibilidade às pessoas idosas que vivem com o HIV. “Existe uma desinformação por parte das pessoas idosas sobre o HIV. Muitas acham que o HIV não existe, que é uma invenção, outras acham que é doença de homossexual, e uma vez que ela não é homossexual, ela não pegará HIV”, ressaltou.

Outro ponto que o estudo busca iluminar é a educação para atividade sexual da pessoa idosa, que hoje é a segunda faixa etária em número de casos de HIV. A pesquisadora explicou que “o grande deflagrador do aumento do número de casos de HIV na pessoa idosa é porque o profissional de saúde que atende à pessoa idosa, ele não aborda a questão da sexualidade. É como se a pessoa idosa fosse assexuada, então, fica a mensagem para o profissional de saúde que converse com o idoso que está atendendo e pergunte sobre a atividade sexual e eduque, esclareça o risco de doenças sexualmente transmissíveis e a necessidade de proteção”.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da UFPE
(81) 2126.8527

ppg.medtrop@ufpe.br 

Isaura Romero Peixoto
atauisa@hotmail.com.br

Date of last modification: 29/03/2023, 09:36