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Velhos e novos carnavais

Por Gilson Edmar, vice-reitor da UFPE
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O Recife tem tradição de realizar um dos melhores carnavais do Brasil. Ao longo dos anos, houve uma evolução no modelo e na forma desta grande festa popular, sem deixar de ter uma marca que a caracteriza como genuinamente pernambucana. O frevo é o tipo de música que melhor representa esta manifestação da nossa cultura popular. Originado dos dobrados das bandas marciais, foi tomando característica própria que o identifica com Pernambuco, sendo Vassourinhas um dos hinos do nosso Carnaval. O frevo evoluiu, tendo surgido algumas variações igualmente bonitas. O original frevo de rua é composto só da melodia e tocado principalmente pelos metais, nas ruas e nos clubes. O frevo-canção é cantado numa cadência mais lenta, muito usado nos clubes sociais, tendo Capiba como seu maior compositor. O frevo de bloco, tocado por instrumentos de corda e cantado pelos corais, teve Nelson Ferreira seu mais autêntico criador. Entre os frevos de bloco, destaca-se Evocação, cuja letra canta o Recife de outrora. A sua aceitação é tanta que hoje o Bloco da Saudade atrai verdadeira multidão de foliões nas prévias e na festa de Momo.

O carnaval de antigamente era caracterizado por dois momentos em cada dia da folia. Durante as manhãs e as tardes, brincava-se no corso, desfile de carros, no qual os foliões se encontravam. À noite, as pessoas se preparavam para os bailes nos principais clubes sociais, como o Internacional, sob o comando de Otacílio Venâncio, e o Português, de Antônio Alfredo e Leonardo Dantas. Tinham, entretanto, festas que começavam pela manhã e se prolongavam tarde adentro e eram chamadas de manhãs de sol, sendo as mais famosas as do Sport e o Baile dos Casados, do Atlético Clube de Amadores. Os clubes sociais também organizavam matinês infantis, ainda existentes nos dias atuais.
 
Os desfiles das agremiações carnavalescas eram imperdíveis. As troças desfilavam durante o dia. Uma delas, que tinha sede próxima a minha residência, o Cachorro do Homem do Miúdo, vinha me saudar no meu aniversário, tendo à frente seu presidente, Amaro Gaguinho. Os clubes desfilavam à noite. A Boa Vista, bairro onde morei, era uma grande passarela. O Clube Lenhadores tinha sede no bairro e as Pás vinha cumprimentar diretores que por lá moravam. As ruas da Santa Cruz e de São Gonçalo e o Pátio da Santa Cruz, local da sede da Associação Carnavalesca, recebiam todas as agremiações carnavalescas. Os amantes do futebol acompanhavam o Leão Coroado, do Sport, e o Timbu Coroado, do Náutico. Ainda desfilavam os maracatus e os caboclinhos, além dos mascarados nas manhãs dos domingos da folia de Momo.

O Carnaval do Recife evoluiu para atender ao crescente aumento populacional. Houve com o progredir dos anos uma socialização dessa grande festa. Olinda se transformou em espaço para que os carnavalescos pudessem ali se divertir, tanto sós como em blocos irreverentes. O Recife Antigo passou a abrigar, a partir da década de 90, as famílias com suas crianças para reviver os velhos carnavais. Um dos marcos da transformação do Carnaval em uma verdadeira festa popular foi o Galo da Madrugada. O clube de máscaras, que a cada ano reúne mais foliões, entrou no livro dos recordes por ser o maior bloco do mundo em número de participantes. Isso faz o povo entender que nas ruas de Olinda e do Recife são os lugares para esta festa, com fantasias, com máscaras, mas, sobretudo, com alegria. O Carnaval de rua, gratuito, popular, característico da nossa cidade, provocou a uma diminuição da importância do Carnaval de clube, mais elitista.
 
Como o nosso Estado é rico em manifestação cultural, no Carnaval também podemos participar desta diversidade nos vários polos existentes. É possível encontrar o frevo e seus passistas, o maracatu de baque virado ou de baque solto (este também chamado maracatu rural), os blocos, os caboclinhos, outras manifestações musicais, até mesmo as escolas de samba. E tudo se inicia no sábado com o Galo da Madrugada.

Precisamos preservar o nosso Carnaval, uma das expressões da nossa cultura popular. Para isso, é fundamental a paz entre todos, para manter a alegria da nossa população e da nossa festa. É preciso ter uma festa sem violência e com saúde, com boa alimentação e hidratação adequada, evitando bebidas alcoólicas em excesso. Assim, podemos atrair outros foliões deste Brasil afora, a fim de mostrarmos o que Pernambuco tem e gosta. 

Publicado na edição do dia 29 de janeiro de 2009 do Jornal do Commercio
Date of last modification: 31/10/2016, 10:46

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