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Reconhecer um derrame

Por Gilson Edmar Gonçalves e Silva, vice-reitor da UFPE
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O derrame é a expressão popular para definir um acidente vascular cerebral (AVC). É atualmente a segunda causa de morte no mundo inteiro e é a principal causa de incapacidade física em pessoas com condições de exercer uma atividade laborativa.

O AVC pode ser isquêmico (AVCI) ou hemorrágico (AVCH). O AVCI é habitualmente chamado de isquemia cerebral, podendo ser uma trombose e uma embolia. As principais causas da trombose são idade avançada, sedentarismo, obesidade, fumo, álcool, hipertensão arterial, diabete e dislipidemia (colesterol e triglicerídeos elevados). A embolia geralmente é causada por arritmias cardíacas.
 
O AVCH é provocado pela hipertensão arterial, entre outras causas e, quando ocorre no jovem, pode ser decorrente da ruptura de um aneurisma. Todos os outros surgem de modo súbito em todas as idades, não importando o sexo, origem étnica ou País. Entretanto, é muito importante evitar os fatores de risco comuns. Muito tem sido feito para prevenir o derrame, para tornar eficaz o tratamento na fase aguda e crônica e a recuperação das seqüelas motoras e da fala.
 
Os diferentes tipos de AVC têm início, sintomas e tratamentos específicos. Mas é importante reafirmar que todas as pessoas devem ter uma vida saudável e, se necessário, usar medicamentos para o colesterol, para a diabete, para hipertensão, a fim de evitar o aparecimento do derrame, que pode ser prevenido em metade dos casos.
 
Não é raro, o AVC ser silencioso, ou seja, sem sintomas evidentes, apenas com o comprometimento da memória e comportamento. São muitas as pesquisas nesta área do conhecimento, para melhor conhecer suas causas e seus mecanismos e, em conseqüência, poder oferecer orientação preventiva e um bom tratamento.
 
O derrame surge subitamente com assimetria da face, fraqueza no braço e perna, freqüentemente de um só lado do corpo. Pode se acompanhar de confusão mental, dificuldade para falar e compreender, dificuldade de ver por um ou pelos dois olhos. Pode se apresentar com dificuldade para andar, tontura e desequilíbrio. Um sintoma importante é uma intensa dor de cabeça, súbita, sem causa aparente.

Ao identificar um destes sintomas, os familiares ou qualquer pessoa que esteja perto do paciente devem levá-lo imediatamente a um serviço de emergência neurológica, a fim de ser iniciado precocemente o tratamento. Este procedimento é indispensável para evitar ou diminuir as seqüelas do derrame. O ideal é que o paciente inicie o tratamento nas primeiras 3 horas do início da doença.

Para isso, é indispensável a implantação de uma unidade de AVC nos hospitais públicos do Estado. Alguns hospitais privados de Recife já possuem algo próximo a uma unidade com estas características. Também em outros Estados já existem unidades com os padrões internacionais recomendados. Temos as condições necessárias para implementar estas unidades de AVC nos nossos hospitais públicos, necessitando apenas de uma decisão política.
 
Mas o tratamento não se restringe apenas aos procedimentos de emergência. O paciente deve ser submetido a um tratamento específico ao tipo do AVC de que foi acometido, tanto no âmbito hospitalar na fase aguda da doença, como no ambiente familiar e de modo permanente, para prevenir outros episódios. Tem também um papel fundamental na equipe de saúde, além do médico (neurologista ou neurocirurgião), o fisioterapeuta, para conduzir o tratamento da seqüela motora, e o fonoaudiólogo, para o tratamento dos distúrbios da fala e da compreensão.

Existe uma regra básica e simples que pode ser utilizada por qualquer pessoa, para identificar precocemente um derrame e poder iniciar um tratamento adequado e eficaz. Assim, mande o paciente sorrir, verifique se a contração é de um só lado do rosto, mande levantar os braços, observe se não movimenta um dos braços, mande dizer uma frase e veja se ele tem dificuldades em falar ou compreender a ordem. Caso observe um ou mais de um destes sintomas, não hesite e leve-o imediatamente para um serviço de emergência neurológica.

Periodicamente é organizada, em todo o Brasil, uma campanha de esclarecimento sobre o AVC, com exposição de material informativo e com a presença de médicos neurologistas, em locais que são amplamente divulgados. Compareça e tire suas dúvidas.
 
Publicado em 25.09.2007 no Jornal do Commercio
Date of last modification: 31/10/2016, 11:12

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