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Pensar Recife

Anísio Brasileiro, Reitor da UFPE

As cidades constituem-se, ao longo do tempo, em grande invenção humana. Pela natureza das atividades que nela se realizam, abrigando instituições de saber como universidades e centros de pesquisa, dentre outras, elas são espaços de inovação, de novas formas de pensar suas paisagens. Mas são também espaços de conflitos e embates conceituais entre atores sociais em torno de projetos que definem o seu futuro. E há momentos únicos, quando crises aparentemente insolúveis se traduzem em oportunidades para que se construam novas formas de pensar a cidade. Recife, cidade de embates históricos por democracia e inclusão social, vive hoje um momento crucial de sua história.

A ocupação do Cais José Estelita – assim chamado em homenagem ao engenheiro e professor da Escola de Engenharia da UFPE –, situado num local pleno de memórias da cidade, assume posição contrária a um determinado projeto. Assim, coloca a todos os atores sociais a oportunidade de pensar o Recife de outra forma. Em particular, o Ocupe Estelita põe essa questão para o poder público municipal, a quem compete legitimamente a condução do processo. Ao invés de uma cidade excludente, dominada pela lógica do automóvel, inibidora de inovações e de novas práticas de convívio urbano, o Recife deve ser pensado como cidade acolhedora, generosa, inclusiva e cosmopolita, onde espaços públicos de qualidade sejam por todos compartilhados e onde espaços privados dialoguem com a cidade em vez de servirem à lógica da segregação urbanística.

Recife tem hoje uma oportunidade rara de discutir seu futuro de forma aberta e democrática. A cidade não pode prescindir de projetos de vulto que reestruturem o espaço urbano no sentido de afastar-nos de um modelo de desenvolvimento excludente, que deteriora o ambiente e a qualidade de vida urbana.Por serem estruturadores, devem passar por discussão aberta, em que atores sociais expressem suas expectativas, críticas, sonhos, e apresentem propostas para a cidade.

Em um país que se destaca pelos avanços sociais que vem realizando, Recife volta a protagonizar o debate sobre o seu futuro. A UFPE, instituição pública formadora de recursos humanos de qualidade, espaço de pesquisas inovadoras e de intercâmbio com saberes sociais, assume uma postura propositiva, dispondo-se a participar de um fórum onde atores da academia, sociedade, governo e iniciativa privada exponham pontos de vista, concepções e propostas, buscando caminhos para a construção de uma cidade melhor. Um futuro que seja solidário, inclusivo, atento e capaz de internalizar ideias oriundas das utopias e de novas ações que precisam ser incorporadas na agenda das cidades em todo o país.

Artigo publicado no Jornal do Commercio de 09 de junho de 2014.
 

Date of last modification: 27/10/2016, 14:15

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