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Startups de empreendedores sociais vivenciam dificuldades semelhantes

As considerações são de Jéssica Moliterno Genú na dissertação “É difícil ser uma startup social?: a visão dos empreendedores sociais”, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad)

Por Gabriela Lázaro

Modelo de empreendimento ainda pouco difundido no Brasil, as startupssociais, que atuam em demandas sociais e ambientais não atendidas com eficiência pelo poder público, enfrentam muitas dificuldades para se manter no país. Para produzir a dissertação “É difícil ser uma startup social?: a visão dos empreendedores sociais”,  Jéssica Moliterno Genú entrevistou seis empreendedores sociais e constatou que, “apesar da dimensão financeira ser caracterizada como uma dificuldade, ela não foi suficiente para desistência de nenhum dos negócios pesquisados”. Observou ainda que “as principais formas de superação dessas dificuldades estavam atreladas ao desenvolvimento de produtos e serviços que usam de base a inovação e a percepção da demanda vigente”.

A pesquisa, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad) da UFPE e orientada pela professora Carla Regina Pasa Gómez, objetivou descobrir quais as principais dificuldades enfrentadas pelos empreendedores de startups sociais no desenvolvimento do empreendimento. E os entraves mais apontadas pelos entrevistados envolvem alinhamento das ações com a missão social, apoio do governo, conhecimento na área, desenvolvimento de inovações, gestão, mecanismos de obtenção de recursos e mensuração de impacto. "Entretanto, apesar das dificuldades, ficou claro que a obtenção de lucro não é o principal objetivos destas startups sociais mas, sim, o trabalho social desenvolvido por elas", afirma a autora.

Outra barreira identificada pelos entrevistados tem relação com a falta de conhecimento e aceitação da sociedade em relação às ações prestadas pelas startups sociais. Mesmo com tantas dificuldades, esses grupos de empreendedores mobilizados por questões sociais acreditam, segundo o estudo, que “podem propor melhorias para o futuro da sociedade, melhoramentos esses que parecem transpor dificuldades profundas, as quais a maior parte das pessoas acredita que não possui solução”.

Os empreendedores sociais ouvidos foram Pedro Verda, fundador da Verda [+], que atua na área de educação e comunicação; Camilla Borges, fundadora da Thiki, que tem como objetivo tornar a ética a principal qualidade de cada indivíduo humano; Felipe Dib, fundador do Você Aprende Agora, que atua na área de educação de língua estrangeira; Maíra Pimentel, cofundadora da Tamboro Educacional, voltada à implementação de metodologias inovadoras direcionadas para educação; Jonatha Neto, cofundador da Abra, que atua na área de arquitetura inclusiva e promove melhorias nas condições de habitação das famílias de baixa renda; e André Maia, fundador do Trilogiabio, que trabalha no reconhecimento de animais para reabilitação e envio ao ambiente natural, além de realizar palestras gratuitas na rede pública de ensino e trilhas ecológicas remuneradas. 

ANÁLISE | Na análise das dificuldades financeiras, André Maia, da Trilogiabio, comenta que  conseguir empresas que apoiem o trabalho é um grande problema, já que startups sociais não são ONGs e as pessoas ainda desconhecem as causas defendidas por ela. “A questão de conseguir recursos, conseguir empresas que apoiem [...] Até hoje a gente não conseguiu parceiros funcionais pra isso”, comenta André. Já nas dificuldades de localização, tanto física quanto as características do contexto social e cultural do ambiente de atuação da startup, percebe-se a variação no ponto de vista dos empreendedores. Segundo Pedro, da Verda [+], Recife evoluiu nos conhecimento sobre startups, mas “ainda pode estar atrasado se comparado a outras regiões do país”. Para a maceioense Camilla Borges, da Thiki, “de todo o Nordeste, a mentalidade que existe no Recife é uma das melhores para empreender; aqui tem maior influência para encontrar equipe, oportunidades, debater, fazer negócio tudo”.

Na esfera política, os empreendedores pontuam como o apoio do governo e as burocracias podem influenciar diretamente no sucesso ou no fracasso dos empreendimentos. Maíra Pimentel, da Tamboro Educacional, destaca a dificuldade das startups sociais conseguirem participar de processos licitatórios do governo. “Na hora que a gente busca entrar em processo de licitação, que o governo busca pelo menos três cotações de empresas que tenha soluções, a gente não encontra no mercado concorrentes diretos para o nosso produto, então fica difícil também entrar em modelos de vendas com editais tradicionais”, atesta.

Já quanto à dimensão intrínseca, foram abordados assuntos como motivação, conhecimento, experiência na área e os processos de gestão das startups. Para Felipe Dib, da Você Aprende Agora, “formação de equipe é um grande desafio [...] Tenho dificuldade de gestão de equipe diárias, tenho mentores que se reúnem mensalmente para discutir sobre as ações”. Já para Jonatha Neto, da Abra, o grande desafio na gestão é não ter tido contato com o assunto antes. “Uma coisa que a gente percebe é o seguinte: nas faculdades a gente não aprende gestão de jeito nenhum [...] Muita coisa que eu sei que ainda é pouco foi que eu aprendi na prática mesmo; pra dividir entre dois fica carregado, e assim é uma coisa que a gente ainda tem que aprender um pouco em relação a isso”.  

ESTRATÉGIA | No quesito estratégia, observaram-se as peculiaridades na medição de impacto social e desempenho, a missão social proposta e o desenvolvimento de inovações. Por meio das entrevistas, Jéssica observou que, quanto à mensuração do impacto social gerado e dos benefícios das suas ações, os entrevistados convergem de certo modo ao considerar a questão como um ponto nevrálgico. Jonatha Neto, que trabalha com arquitetura inclusiva, pontua a dificuldade de conseguir mensurar o benefício que causam, visto que “o processo de mensuração de impacto da gente é um pouco mais subjetivo [...] Diretamente a gente consegue saber porque é a pessoa que tá recebendo ali diretamente na ponta”. 

Diferente de Jonatha, Maíra Pimentel, que atua com inovações para educação, afirma que eles conseguem mensurar os impactos dos projetos desenvolvidos. “Hoje os nossos indicadores de impacto passam pela quantidade de usuários que têm acesso a nossa solução, especialmente de rede pública, e esse é o indicador mais fácil de a gente achar”. A partir da análise dos resultados, a pesquisadora concluiu que “as dimensões estão conectadas umas as outras e a relação de casualidade entre elas”. Além disso, Jéssica constatou que “dentre as categorias pré-estabelecidas, as relativas às dificuldades de mensuração de impacto, apoio do governo, desenvolvimento de inovações sociais e gestão se sobressaíram em relação às demais, estando vinculadas aos aspectos inerentes à localização do negócio, ao contexto político e às estratégias desenvolvidas”.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad)
(81) 2126.8878 
secretaria.propad@gmail.com

Jéssica Moliterno Genú
jessi.genu22@hotmail.com

Data da última modificação: 22/05/2019, 21:16